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segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A CRIAÇÃO E O CRIADOR (por Osvaldo Orico)

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Espanha e Inglaterra são os dois países mais afortunados na revelação de tipos que correspondem a um determinado modelo humano, isto é, de seres que pediam um estudo especial para sua complexa personalidade
Pelo poder do gênio literário, Inglaterra e Espanha adiantaram-se nas pesquisas e observações de tipos e abandonaram o domínio da ficção, para humanizar-se e situar-se biologicamente na vida de nosso tempo.
Hamlet, Otelo, Romeu e Julieta, Don Juan, Don Quixote e Sancho pertencem hoje mais a humanidade que à literatura. Deixaram de ser a criação intelectual do gênio para ganhar fisionomia própria. Fisionomia que corresponde a um tipo social visível e identificável.
O mundo em que vivemos está cheio de Hamelets, Otelos, Romeus e Julietas, de Don Juans, Quixotes, Sanchos e Dulcinéias.
A criação se fez criatura. Se, na verdade, como tudo parece indicar, não era criatura antes mesmo de ser criação.
De qualquer maneira, o que queremos assinalar é a perpetuidade da herança, a eternidade do mito em sua constante manifestação humana. Cada um dos elementos estudados e trazidos da ficção para a evidência, por obra do espírito literário, perdeu os caracteres de origem e passou a representar um problema em escala biológica: Hamlet, a dúvida; Otelo, o ciúme; Romeu e Julieta, o romantismo ou o amor platônico; Don Quixote, o delírio ou o ideal; Sancho Panza, a desconfiança, a prudência, Don Juan, o vício de amar.

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