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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

PEQUENA ENTREVISTA

Juliano Garcia Pessanha
(Trecho retirado de Pequena entrevista in INSTABILIDADE PERPÉTUA, São Paulo: Ateliê Editorial, 2009)

1. Como você pensa a relação entre o tempo literário e o tempo histórico?

A literatura está imersa no tempo histórico. Ela pode, entretanto, ultrapassar e transgredir essa filiação ao nomear a experiência histórica num gesto de interrupção profética ou no anúncio das possibilidades enterradas e dos povos ainda não nascidos. Nesses casos, há uma extrema fidelidade e penetração na época, possibilitadas por uma diferença e divergência radical.
2. Quais procedimentos sua obra adota diante de um mundo em que predominam a ação econômica e a espetacularização da arte?

Adotar procedimentos seria um gesto homólogo e pertencente ao mesmo tipo de racionalização que gerou ou é cúmplice do predomínio da ação econômica e do ofuscamento reificado da arte-produto. Longe de qualquer procedimento técnico, que apenas ratifica o mesmo, confio na palavra haurida no território onde seremos livres. O homem é livre ali onde, dócil, se deixa arruinar pelas alteridades que o atravessam: o corpo, a morte, o nada, a vibração e a própria linguagem
. Foi o recalque de tudo isso que possibilitou tanto a figura do “eu” quanto a do homem-produção. Existir e dizer a partir dessas figuras seria estar identificado com uma violência e uma alienação imensas.
(Quando se pensa e se diz a partir da interrupção e do lugar pressentido, nota-se que a própria noção de arte indica apenas que o homem não vive ainda à altura do poema.)