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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Tava atravessado e precisava dizer

"Não tenho direito de exigir coisa alguma apenas de seguir vivendo e de preferência silenciosa e transparente para que nenhum gesto meu perfure o limite do outro e nenhuma palavra fira o decoro.
Porque é isso.Aconteceu um dia.Minhas palavras desencontraram o bom senso e meus gestos ultrapassaram o significado.Já não pude mais seguir."

Lembrei das noites em que chegava tarde na casa dos meus pais e andava pela casa escura,sem acender as luzes para não acordar ninguém,e me sentia genial.Hoje lembro dessa imagem e acho-a profundamente triste.

Durante um tempo pensei muito sobre a possibilidade de me deixar tomar pelo atravessamento e me permitir ficar congelada,de repente,no meio da rua,no elevador.No momento em que levei o fora do grande amor e decidi ficar ali,por exemplo.

O video do homem tendo um surto no escritório me afeta mais que os trens destruidos por bombas.Não sei se saberia explicar em detalhes agora.Mas precisava dizer.

Lembrei de Artaud dizendo:

"Mais urgente não me parece tanto defender uma cultura cuja existência nunca salvou uma pessoa de ter fome e da preocupação de viver melhor,quanto extrair, daquilo que se chama cultura, idéias cuja força viva é idêntica à da fome. Todas nossas idéias sobre a vida tem de ser revistas numa época em que nada mais adere à vida. E esta penosa cisão é motivo para as coisas se vingarem, e a poesia que não está mais em nós e que não conseguimos encontrar mais nas coisas reaparece, de repente, pelo lado ruim das coisas; e nunca se viu tantos crimes, cuja gratuita estranheza só se explica por nossa impotência em possuir a vida. Se o teatro existe para permitir que o recalcado viva, uma espécie de atroz poesia expressa-se através de atos extranhos onde as alterações do fato de viver mostram que a intensidade da vida está intacta e que bastaria dirigi-la melhor."

O terrorismo aparece todo o tempo no jornal, massacrado, mas na verdade as pessoas o identificam no ataque no escritorio.A guerra é impessoal e heróica."Será que a gente pode falar sério sobre isso?"

É preciso lidar com a atroz poesia,mas também lembrar que a intensidade da vida está intacta e basta dirigi-la melhor.

Não quero repetir que tristeza não tem fim,felicidade sim.Mas poder dizer que ambas tem fim.Nem sempre aparecem ambas na nossa vida...

A vida é misteriosa.

E mais do que nunca é preciso cantar.