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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

a meta está lá fora.

desculpem-me
eu só preciso jogar aqui neste espaço algumas coisas que estão voando
e pesando
feito asas de dragão.
sim, vou falar bastante de dragão
quero consultar o verbete dragão no dicionário do jung
quero saber tudo
porque o dragão é a nossa metáfora mor
o dragão é a nossa possibilidade de encontrar uma dramaturgia que respire e nos surpreenda. uma dramaturgia que venta sobre o público e dissolve incompreensão em sentido. sensível. toque. pele. textura e camada.
sim, eu vou falar de dragões.
eu quero secar essa coisa toda do dragão em sala de ensaio.
porque depois, eu imagino hoje, depois só restará dragão em nosso título
e na boca das pessoas pós-apresentação
e na boca dos críticos em busca de comparações e reflexões sobre a nossa condição de artista.

ATENÇÃO.
dentro de cada um de nós vive um dragão.
a nossa desmedida é o que o alimenta e faz crescer.
o nosso desejo por um pouco mais nada mais é do que a fome do nosso dragão,
tendo em vista a nossa já saciada.
as coisas todas que nos privamos de dizer ou fazer dentro se revolvem e atiçam o dragão de cada um.
se quer voar, se quer gritar, nada mais concreto, nada mais natural, há um dragão dentro de ti pedindo espaço para brincar e fazer barulho.
você homem é ser prenhe de metáforas, de sonhos, de alucinações e delírios.
você tem um dragão dentro de ti e isso resolve tudo. a princípio.
mas,
privá-lo do jogo do risco é o mesmo do que se privar de tudo isso e mais um pouco.
privar-se do susto é privar o seu dragão de algum vento capaz de o refrescar ou causar frio.
depois que ele ronca, te faz tremer, depois que ele te mexe e faz com que pules ileso as poças d'água,
depois que você descobre que ele existe,
você pode vir a querer dele se aproximar
se dispor a tirá-lo ao sol vez ou outra.
você pode aprender como se faz para cavalgá-lo.
você pode ser livre o suficiente para prendê-lo e descansar como fosse o seu corpo apenas solidão.
mas negá-lo, ignorá-lo, ser a ele meramente indiferente, dar-lhe frio e hibernação
é engrossar sua pele que clama por explosão...
mas
se você não quiser deixá-lo se ser de fato
corre então ele o risco de ser aborto
corre o dragão o risco de te morder e jamais libertá-lo
corre o risco de o dragão assassinar seu pai
e voar distante
para alguma lonjura incapaz de se prever.
cuidado.
ele está dentro de você.
para ignorar seu dragão com propriedade seria preciso desaprender a sentir.
ser seco e pusilânime.
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Diogo Liberano