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sábado, 19 de março de 2011

trajetória - 'o dia do enterro'

Ele chegou dirigindo seu próprio carro e dando carona para um amigo e para uma amiga. Desceram os 3 e caminharam em direção à capela. Tão logo frente a ela se puseram, um dos amigos de imediato se retirou. Ficaram Ele e Ela, imóveis. Ela escorada Nele.
Então foram os dois lentamente entrando na capela. Pararam a cerca de um metro e ali ficaram por alguns segundos, tempo suficiente para que Ela se retirasse bruscamente. Ele ali. Sozinho e parado. Avançou até Ela e beijou suas mãos. E saiu da capela.
Encontrou Ela no banco e sentou-se ao seu lado. Ele se aproximou também e ficaram os três assim: próximos e apertados. A noite se despedindo e Eles sentados. A mãe desamparada e Eles sentados.
Ele passou um braço por trás da amiga e a confortou, desconfortável. O celular Dele vibrou, Ele atendeu se erguendo e indo ao local onde estacionara seu carro. Foi falando leve e calmo pedindo que Ela viesse. Que viesse que viesse e que viesse. E sentou-se de volta ao banco.
Cruzando o jardim gramado e o chão de pedras, Ela veio cambaleante. Abraçou os amigos por inteiro e entrou na capela, sem hesitar. Ele saiu para tomar outro café. Ela no banco começou a chorar e Ele, que desligara novamente o celular, sentou-se ao seu lado e a confortou.
Ela saiu da capela cambaleante e veio ao encontro dos dois amigos, sentando-se também no banco. Ele, com outro café nas mãos, caminhou direto ao interior da capela.
Ele saiu da capela e foi em direção aos três amigos sentados no banco. Sentou-se também, no chão e de frente. O celular Dele vibrou. Ele se ergueu em direção ao estacionamento, chegando a tempo de segurá-La.
Entraram juntos na capela, os cinco. Os amigos ao redor do caixão, um a um Dela se aproximaram. Entrou também um beija-flor enlouquecido e Ele abriu a janela.
Caminharam da capela até a pista de pedra e desta até a cova. Viram a pá nivelando a existência da amiga que ali terminava.




A seguir, os cinco voltaram à capela e se trancaram. Ficaram Eles, sozinhos, acompanhados apenas das pelúcias correspondentes a cada ano de vida da amiga. E prometeram só sair dali quando descobrissem juntos como continuar.