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sábado, 23 de abril de 2011

Momento Rita

Este é um momento realmente particular.Lembro-me que quando escolhi cursar Design de Interiores,não imaginava o mundo que encontraria na universidade.Nunca conheci tanta gente nova e dentre todas as pessoas que conheci,nunca houve ninguém como Lilla.Eramos diferentes em tantas coisas,mas ela me ouvia e eu também a ouvia,era tão bom.Eu era sua confidente.Ela me mostrou a Arte de uma maneira que eu nunca imaginei que pudesse existir.Esses detalhes todos juntos sempre me deram a sensação de que meu mundo era maior com Lilla.
Depois da graduação eu e Caco casamos e foi difícil seguir atuando na área de Design.Eu tinha que cuidar do Caco,ele estava começando na Cia. Marítma e precisava muito do meu apoio.
De certo modo,o diálogo constante com Lilla(por e-mail,skipe,telefone), sempre alimentou as coisas que eu gostava.Eu cuidava do Caco,dela e eles cuidavam de mim.Era perfeito.Com o tempo comecei a sonhar em montar um café.Um lugar todo decorado por mim,onde eu pudesse servir as pessoas.Sei lá.Tinha esse sonho e Lilla dava a maior força.Dava sim.

Agora que ela não está mais aqui só tem o Caco.Outro dia,já não tinha mais a Lilla, contei a história do Café para ele mas ele disse que era besteira.Realmente, ele ganha bem,nunca faltou nada em casa.Acho que talvez o Café fosse muito puxado para mim agora.Quase não tenho tempo para mim.Imagina com o Café!Caco não ia ter tempo de me ajudar a mexer no dinheiro e eu não entendo nada disso.Ele sempre disse que dinheiro vira fumaça na minha mão.E nem me passa pela cabeça fazer as coisas que ele não gosta.Ainda outro dia ele inventou de ir para Miami nas férias de julho,tenho que pensar nas malas,pesquisar que roupas levar.Nem sei o que se usa lá agora.Vai ser uma trabalheira.Se tiverem dicas de passeios na Disney,mandem-me por e-mail.Estamos precisando muito.

Lilla ia rir muito da minha afobação,ela achava uma graça.Achava que eu me preocupava à toa,maluquinha...Que saudades da nossa lindinha...

obs:No momento em que todos estão ali escorridos,sentados no chão da casa desmontada de Lilla,Rita percebe que o rádio do som está ligado.Ela ouve alguém que lê um trecho do texto "Na Floresta do Alheamento"de Fernando Pessoa que diz:

"O nosso sonho de viver ia adiante de nós,alado,e nós tínhamos para ele um sorriso igual e alheio,combinado nas almas,sem nos olharmos,sem sabermos um do outro mais do que a presença apoiada de um braço contra a atenção entregue do outro braço que sentia.A nossa vida não tinha dentro.Eramos fora e outros.Desconheciamo-nos,como se houvessemos aparecido às nossas almas depois de uma viagem através de sonhos.
Tinhamo-nos esquecido do tempo, e o espaço imenso empequenara-se-nos na atenção.Fora daquelas árvores próximas,daquelas latadas afastadas,daqueles montes últimos no horizonte haveria alguma coisa de real,de merecedor do olhar aberto que se dá as coisas que existem?
Na clepsidra da nossa imperfeição gotas regulares de sonho marcavam horas irreais...Nada vale a pena,ó meu amor longínquo,senão o saber como é suave saber que nada vale a pena..."

Rita ouviu e teve vontade de fugir.Algo nessas palavras ou dessas palavras naquele lugar cutucara questões que dormiam dentro dela:Você existe?Você pode existir?O que é ser mulher?Haveria alguma coisa de real,de merecedor do olhar aberto que se dá as coisas que existem?