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sexta-feira, 29 de julho de 2011

Notas sobre a dramaturgia – Sete

Faz tempo que não me sento para escrever sobre a nossa dramaturgia. O tempo que tenho tido é usado para de fato escrevê-la. Pensar sobre o que escrevo, pensar sobre o que estamos escrevendo, é tarefa póstuma. Mas cabe hoje um pouco esse desgaste, esse revirar das ideias, essa tentativa vã, porém sempre saudável, de tentar se ver lá na frente.

Terminamos juntos de escrever essa cena três. CENA TRÊS - ESSE MAU ESTAR. De qual mau estar estamos falando? Da morte? Da culpa? Estamos falando da incompreensão? Não importa responder. Importa, acreditam as personagens, especular o que possa ter acontecido. Algo que possa suprir a categoria "explicação", que comporta todo um mundo de possibilidades. Eles querem explicar - cada um a seu modo - como pôde essa coisa ter invadido seus corpos e ter criado morada. Eles não sabem. Caso soubessem, não haveria dramaturgia.

Eles tentam, eles persistem e se precipitam. Eles se machucam, mas também ferem, não são santos, são tentativas. Eles tentam a todo custo lidar com a burrice do outro. Eles tentam a todo custo lidar com a sua inteligência, hoje, porém, incapaz de ditar resolução que sirva. Somos burros, talvez um deles deva pensar. Ou então, talvez um pense, isso que estamos tentando entender agora voa dançante entre a gente no meio dessa sala.

Eles não percebem. A dor é capaz de cegar. A dor engole os princípios e transforma a vida em ciranda-desespero. Os beijos viram cortes, o piscar do olho instaura um tiroteio. Mas se acalmem. Eles já já vão se deparar com o desconhecido. Eles em breve perceberão que se chama Lilla tudo isso.

E então cena quatro chega para confortar. Não quer dizer alegria, felicidade, essas coisas capa de revista. Quer dizer que o tempo agora age de outra forma. O toque se testa de novo e a pergunta primeira não é acusação, mas sim tá tudo bem contigo? CENA QUATRO - RIR DAS MARCAS. Que marca é essa, Jesus? Só pode ser Lilla. É ela que se tira deles e ao mesmo se crava em cada respiro, em cada investida que cada um deles dá no mundo. Ela se crava e vira cicatriz que não cessa de rachar a cada dia. Só pelo divertimento que é se descobrir capaz de morrer e viver de novo, sempre novamente a cada manhã nascida.

Acreditem. Só nos falta falar dela. Não há mais nada. É só isso. Eles estão ali para viver um pouco mais tudo isso. Não é pra resolver. É pra dividir os espectros e formar um corpo menos propício ao esquecimento. Eles estão ali para juntarem os restos de cheiro, os restos das roupas e das coisas da Letícia, dos brinquedos, dos pincéis e para assegurarem, uns aos outros, que ela estará protegida. Ela que os costurava agora continua agindo. Que tarefa difícil, não?

Dar existência ao invisível.

Estou me perdendo? Talvez. Não faz mal. Vamos seguindo que o que estamos construindo tem força suficiente para se perder e se achar. Vocês estão me emocionando, vocês estão, aos poucos - perversos - atravessando,