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quarta-feira, 16 de outubro de 2013

DRAGÃO em processo, novamente ---

compartilhamento de procedimentos para a criação teatral

o cpct – compartilhamento de procedimentos para a criação teatral - promoverá o encontro do teatro inominável com um grupo de artistas residentes em juiz de fora/mg. o inominável traz o espetáculo como cavalgar um dragão e os artistas selecionados trazem estação dos passageiros invisíveis, ambos em processo.

durante 6 encontros, buscaremos trabalhar os dois projetos a partir do compartilhamento de procedimentos criativos que cada processo tenha desenvolvido até o presente momento. em como cavalgar um dragão, apresentamos o reencontro de cinco amigos algumas horas após o suicídio de uma amiga em comum, numa encenação prevista para acontecer em apartamentos. em estação dos passageiros invisíveis, partindo da obra navalha na carne, de plínio marcos, o grupo de artistas selecionados almeja a criação de uma dramaturgia original capaz de trazer à luz personagens que a realidade acabou por tornar invisíveis.

inscrições para participação como ouvinte do cpct: de 10 a 17 de outubro
envie e-mail para teatroinominavel@gmail.com com o assunto ouvinte cpct – inscrição e inclua:
nome completo + breve texto manifestando o seu olhar sobre as palavras
compartilhamento + procedimento + criação
os selecionados serão divulgados no dia 19 de outubro, por e-mail

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cpct – compartilhamento de procedimentos para a criação teatral 
sextas, sábados e domingos
de 25 de outubro a 03 de novembro
de 15h às 18h
no teatro gláucio gill

  

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O MANIFESTO DO RIO NEGRO

O MANIFESTO DO RIO NEGRO


Amazônia constitui hoje, sobre o nosso planeta, o "último reservatório", refúgio da natureza integral. 

Que tipo de arte, qual sistema de linguagem pode suscitar uma tal ambiência - excepcional sob todos os pontos de vista, exorbitante em relação ao senso comum? Um naturalismo do tipo essencialista e fundamental, que se opõe ao realismo e à própria continuidade da tradição realista, do espirito realista, além da sucessão de seus estilos e de suas formas. O espirito do realismo em toda a historia da arte não é o espirito da pura constatação, o testemunho da disponibilidade afetiva. O espirito do realismo é a metáfora; o realismo é, na verdade, a metáfora do poder: poder religioso, poder do dinheiro na época da Renascença, em seguida poder politico, realismo burguês, realismo socialista, poder da sociedade de consumo com a pop-art. 

O naturalismo não é metafórico. Não traduz nenhuma vontade de poder, mas sim um outro estado de sensibilidade, uma maior abertura de consciência. A tendência à objetividade do "constatado" traduz uma disciplina da percepção, uma plena disponibilidade para a mensagem direta e espontânea dos dados imediatos da consciência. Como no jornalismo, mas sendo este transferido ao domínio da sensibilidade pura, "o naturalismo é a informação sensível sobre a natureza". Praticar esta disponibilidade ante o natural concedido é admitir a modéstia da percepção humana e suas próprias limitações, em relação a um todo que é um fim em si. Essa disciplina na conscientização de seus próprios limites é a qualidade primeira do bom repórter : é assim que ele pode transmitir aquilo que vê - "desnaturando" o menos possível os fatos. 

O naturalismo assim concebido implica não somente maior disciplina da percepção, mas também maior na abertura humana. No final das contas a natureza é, e ela nos ultrapassa dentro da percepção de sua própria duração. Porém, no espaço-tempo da vida de um homem, a natureza é a medida de sua consciência e de sua sensibilidade. 

O naturalismo integral é alérgico a todo tipo de poder ou de metáfora de poder. O único poder que ele reconhece é o, poder purificador e catártico da imaginação a serviço da sensibilidade, e jamais o poder abusivo da sociedade. 

Este naturalismo é de ordem individual. A opção naturalista oposta à opção realista é fruto de uma escolha que engaja a totalidade da consciência individual. Essa opção não é somente critica, ela não se limite a exprimir o medo do homem frente ao perigo que corre a natureza pelo excesso de civilização industrial e a consciência planetária. Ela traduz o advento de um estado global da percepção, a passagem individual para a consciência planetária. Nos vivemos uma época de balanço dobrado. Ao final do século se junta o final do milênio, com todas as transferências de tabus e da paranóia coletiva que esta concorrência temporal implica - a começar pela transferência do medo do ano 1000 sobre o medo do ano 2000, o átomo no lugar da peste. 

Vivemos, assim, uma época de balanço. Balanço do nosso passado aberto sobre nosso futuro. Nosso Primeiro Milênio deve anunciar o Segundo. Nossa civilização judaico-cristã deve preparar sua Segunda Renascença. A volta do idealismo em pleno século XX supermaterialista, a volta de interesse pela historia das religiões e a tradição do ocultismo, a procura cada vez maior por novas iconografias simbolistas: todos esses sintomas são conseqüência de um processo de desmaterialização do objeto, iniciado em 1966, e que é o fenômeno maior da historia da arte contemporânea no Ocidente. 

Apôs séculos de "tirania do objeto" e seu clímax na apoteose da aventura do objeto como linguagem sintética da sociedade de consumo - a arte duvida de sua justificação material, ela se desmaterializa, se conceitua. Os andamentos conceituais da arte contemporânea só têm sentido se examinados através dessa ótica autocrítica. A arte é ela mesma colocada numa posição critica. Ela se questiona sobre sua imanência, sua necessidade, sua função. 

O naturalismo integral é uma resposta. E justamente por sua virtude de integracionista, de generalização e extremismo da estrutura da percepção, ou seja, da planetarização da consciência, hoje ela se apresenta como uma opção aberta - um fio diretor dentro do caos da arte atual. Autocrítica, desmaterialização, tentação idealista, percursos subterrâneos simbolistas e ocultistas: essa aparente confusão se organizará talvez um dia, a partir da noção do naturalismo - expressão da consciência planetária.

Esta reestruturação perceptiva refere-se á uma real mudança e a desmaterialização do objeto de arte, sua interpretação idealista, a volta ao sentido oculto das coisas e sua simbologia constituem um conjunto de fenômenos que se inscrevem como um preâmbulo operacional à nossa Segunda Renascença - etapa necessária para uma mutação antropológica final.

Hoje, vivemos dois sentidos da natureza: aquele ancestral, do "concedido" planetário, e aquele moderno, do "adquirido" industrial e urbano. Pode-se optar por um ou outro, negar um em proveito do outro; o importante é que esses dois sentidos da natureza sejam vividos e assumidos na integridade de sua estrutura antológica, dentro da perspectiva de uma universalização da consciência perceptiva - o Eu abraçando o mundo, fazendo dele um uno, dentro de um acordo e uma harmonia da emoção assumida como a única realidade da linguagem humana.

O naturalismo como disciplina de pensamento e da consciência perceptiva é um programa ambicioso e exigente que ultrapassa de longe as balbuciantes perspectivas ecológicas de hoje. Trata-se de lutar muito mais contra a poluição subjetiva do que contra a poluição objetiva - a poluição dos sentidos e do cérebro contra aqueda do ar e da água.

Um contexto tão excepcional como o do Amazonas suscita a idéia de um retorno à natureza original. A natureza original deve ser exaltada como uma higiene da percepção e um oxigênio mental: um naturalismo integral, gigantesco catalisador e acelerador das nossas faculdades de sentir, pensar e agir. 

Pierre Restany

Alto Rio Negro, quinta-feira, 3 de agosto de 1978.
Na presença de Sepp Baendereck e Frans Krajcberg.

quarta-feira, 20 de março de 2013

VAZIO É O QUE NÃO FALTA, MIRANDA no Rio de Janeiro



O Teatro Inominável embarca para Curitiba no início de abril, para apresentar sua comitragédia VAZIO É O QUE NÃO FALTA, MIRANDA na Mostra Fringe do Festival de Curitiba. Mas, antes, ainda no Rio de Janeiro, a companhia se apresenta dentro da Pesquisa Dramaturgia Cênica, desenvolvida pela professora Rosyane Trotta na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).



As apresentações serão na Sala Roberto de Cleto, no 6º andar da Escola de Teatro. Serão apenas duas apresentações, ambas às 16h, uma na terça-feira (26) e outra na quarta-feira (27 de março). Após as apresentações, alunos do curso de Direção Teatral da UNIRIO farão um debate com diretor e atrizes de MIRANDA.

Confiram o teaser e o flyer de divulgação. E compareçam! A entrada é franca.


domingo, 24 de fevereiro de 2013

suicídio ou morte ---

confesso que gira em torno de uma coisa, ou de outra. não sei dizer ao certo, mas o espanto do homem - de nós mesmos - frente ao inevitável é aquilo que dá força a este projeto. quero dizer: não é sobre isso o projeto. não é sobre a morte, nem mesmo sobre o suicídio. dragão almeja apresentar uma situação na qual cinco pessoas se vêem envolvidas no suicídio de uma pessoa em comum. mais que sua morte, mais que a forma pela qual essa pessoa atravessou a vida, importa pensar em quem fica. importa lançar olhar sobre aquilo que sobra à vida. o espanto. a desmedida. enfim... aquilo que não se explica.

por isso a situação. a situação como forma de preparar o terreno para a ousadia que virá. e que veio. mudando de assunto, caio de imediato no naturalismo. é preciso estudar. mas não parece que a vida escapou da vida e que agora, talvez, resta ao teatro a homérica tarefa de costurar de volta vida à vida? eu penso que sim, infelizmente, hoje, mais que nunca, eu penso que cabe ao teatro a solução que não veio. cabe ao teatro ajustar a vida gangrenada. eu sei lá, parece muito, parece impossível, mas desde quando dificuldade e impossível são castração à criação sensível?

portanto, a situação é pensada como uma concentração de vida. uma overdose de vida. de susto, de medo, de espanto. como imaginar esse processo? essa preparação? dragão talvez esteja querendo ser, antes de peça, esteja querendo ser a nossa própria tentativa de afetação pelo outro. em cena, mais do que falsidade, mais do que facilidade em ser drama, em chorar, sofrer isso e aquilo, em cena colocamos a nossa persistência sobre o outro, a nossa tenaz tentativa de fazer de nosso corpo - e espetáculo - possibilidade de encontro com aquele que nos difere. e também resposta à falta deixada por quem sequer conhecemos.

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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

deu tudo preto ---

eu pensei alguma coisa sobre dragão, quando me virava de um lado para o outro na cama. era como se eu imaginasse, ou soubesse, de maneira súbita, do que se trata este projeto. eu sonho essas coisas ou penso, mas me parecem tão exatas, que então me desoriento. é como se o projeto precisasse sempre e de novo, a cada vez, se perder para valer o jogo de buscá-lo.

muita poesia. (eu estou tentando lembrar o que era). dragão é sobre cinco amigos, nós cinco, presos no exato instante em que descobrimos que você, nosso amigo em comum, morreu. mas não é bem um drama comum pra chorarmos juntos a morte de alguém querido. é um drama espanto sobre a confusão do suicídio. eu pensando que a ideia de realizar este espetáculo em apartamentos de amigos (e que esses amigos precisarão então aceitar que a dramaturgia viva a sua morte), eu pensando que quando estivermos num teatro, numa sala preta (sem dono amigo que nos dê sua vida e nome ao drama previsto), nesse caso - o da sala preta - dragão vira um drama sobre situação no sentido mais cru, mais irredutível: e se perdêssemos um amigo dessa forma?

a estreiteza do quarto, do cômoda, da sala de um apartamento real nos dá a delicadeza do nome. sem isso, a frieza do palco nos devolve a sensação de possibilidade. podem ser muitos e muitas. no espaço negro da sala de espetáculo cabe tudo.

situação - eu ainda estou tentando entender que tipo de dramaturgia é essa. mas eu tento entender pensando. há que existir outra forma menos sem graça de testar possibilidades. o conceito está pronto, falta agora lançar o corpo e ver se cola, e ver se dá jogo.

é isso. eu não lembro o que sonhei ou pensei. mas tinha algo a ver com dobra, com lágrima e com motivo. fica para a próxima a razão de tudo isso.

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terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Aproximação ---

São só vontades, intuições, colisões inventadas. Eu fiquei pensando - a coisa do apartamento - que seria interessante que a dramaturgia do acontecimento (mais trabalhada em outra espetáculo, VAZIO É O QUE NÃO FALTA, MIRANDA), agora pudesse se transformar em dramaturgia da situação. Temos uma situação dada, entendida, já revelada. E, no entanto, brincamos de situacionar. De nos colocar em situação.

Penso: sinto que a obra teatral deva nos colocar frente ao desconhecido, frente ao repressado, ao não-assumido (frente ao inconsciente - talvez nosso, talvez por isso mesmo, coletivo). Não pode haver pudor, nem frente ao desejo, nem frente ao terror. Logo, experimentar uma situação é fazer do teatro espaço para a vida (que se escondeu dentro de si, amedrontada). Eu não temo o suicídio porque a obra me deu a possibilidade de testar em meu corpo a sua façanha, a sua ousadia, a sua explosão e o consumo que seu fogo pode causar (ao meu corpo, cabeça e sentidos).

O teatro não deveria ser este edifício? Dos afetos? Da transformação? O corpo não deveria acessar o teatro - corpo-ator + corpo-espectador - e sair queimado, violado, alterado? A cada andar deste edifício uma legião de desconhecidos moradores, de desconhecidos afetos, pedindo pele na qual aportar. Afetos na ânsia por acontecimento.


Eu fico pensando na dramaturgia da situação e penso, inevitavelmente, em roteiro. Penso em performance, mas apenas no sentido de que temos o espetáculo (não queremos brincar de improvisar). Queremos ser sempre mentirosos e vivos ao mesmo tempo. A cada noite, o mesmo drama, mas verdadeiramente. Pois a cada noite, nos apresentamos em um novo espaço (e a psicologia do drama - do personagem que se suicida - será apenas dada pelo espaço e não previamente).


Quero dizer: a sinopse prevê o reencontro de cinco amigos após o suicídio de um amigo em comum. Quero dizer: eles se encontram no apartamento desse amigo que se mata - logo, é desse apartamento que a ficção nasce, mesmo tendo sido premeditada. A cada novo espaço ocupado (que fique claro: faremos a peça em apartamentos), um novo drama, uma nova situação (visto termos mudado o nosso amigo falecido).

Estaremos experimentando a morte do dono da casa. E a nossa capacidade de produzir e de lhe ser afeto.