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sábado, 30 de julho de 2011

Mudança de Parâmetro


parâmetro 
(para- + -metro) 
s. m.

1. [Geometria]  Linha constante que entra na equação ou construção de uma curva, e serve de medida fixa para comparar as ordenadas e asabcissas.

2. Característica ou variável que permite definir ou comparar algo.

Parto do posto acima para desenhar algum percurso possível do que possa ser essa parada do processo colaborativo. Havíamos sentado, lá nos inícios, para discutir o que poderia ser, para discutir papéis, funções, maneiras de se fazer. Pois bem, entendendo ou não alguma coisa, seguimos tramando ideias, propondo coisas e escrevendo com a caneta que nos era possível ter em mãos.

Mas, no último ensaio, percebi que estar em processo - e nele estamos - pressupõe uma constante reavaliação de parâmetros. De acordo com o verbete acima, "parâmetro", trata-se de uma varíavel que permite definir ou comparar algo, ora, estamos falando de um dado, uma linha, um limite que nos dá a medida de todo o resto. Ou seja: qual é o parâmetro que nos diz se a cena tal deve ou não continuar no espetáculo? O que nos permite saber que é mais acertado o texto chegar mais acelerado ao invés de mais lento?

Poderiam ser muitos parâmetros. Eles foram. No entanto, não coexistem muitos parâmetros porque a curva, a evolução de acontecimentos que estamos construindo, já não diz respeito mais a nós mesmos, ao nosso processo de criação, as nossas ideias e vontades. Hoje, a curva tem nome, se chama Dramática, e diz respeito ao nosso esforço por tornar possível e sensível que nossas personagens vivenciem essa história, essa dramaturgia (por nós, claro, tramada).

Vejamos: qual parâmetro então pode dar limite, corpo, a tudo o que vem sendo testado e abandonado? Qual parâmetro é capaz de organizar esse caos presente em cada ator, que vaga acumulado, atores vagando quase que saturados com tudo o que já foi feito e, no entanto, com apenas um pedaço de cena para nela dar sentido a tudo isso?

Se o parâmetro agora fosse aquele mesmo dos inícios, toda a angústia se justificaria e encontraria abrigo. Mas não é. Não pode ser. Não é. O nosso parâmetro agora é mais livre e diz respeito à cena, diz respeito à direção. Somos dois diretores, movidos pelo desejo e empenho de tornar essa história sensível, de tornar ela possível a quem nos vê. Nós somos os espectadores que vocês sempre terão. Isso não é pouco, isso não é pouco. De fato, não é.

Portanto, vamos deixar as medidas tombarem e outras novas assumirem nosso destino. Vamos acreditar que nem tudo deve voltar, nem tudo é hoje necessário para criar isto que estamos construindo. O sentido de cada personagem é também movediço. Isso é processo, ora, estamos em processo. Não funciona que sejam vocês inflexíveis, atores. Isso não é acusação. Não estamos aqui pra isso. Estou dizendo que a inflexibilidade às vezes está no pensamento que não se permite ser outra coisa que não aquilo, descoberto lá atrás, aquilo que faz todo sentido. Não estamos buscando sentido. Estamos buscando atravessá-lo.

Tudo isso pressupõe movimento, pressupõe inconstância, pressupõe dança e respiro. Ora, então não vamos falar do corpo dando a ele o parâmetro dicionário. Não vamos endurecer o parâmetro se a coisa toda quer degringolar e correr livre e solta.

Essas palavras são um sutil aposta na noção de processo. Não vamos perder a nossa imensa capacidade em lidar com o que não sabemos. Até agora, tudo o que temos partiu desse embate com o desconhecido. Sigamos nisso. Eu e Flávia estamos atentos para já já, deixar claro a vocês, o porquê de tudo isso.

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sexta-feira, 29 de julho de 2011

Notas sobre a dramaturgia – Sete

Faz tempo que não me sento para escrever sobre a nossa dramaturgia. O tempo que tenho tido é usado para de fato escrevê-la. Pensar sobre o que escrevo, pensar sobre o que estamos escrevendo, é tarefa póstuma. Mas cabe hoje um pouco esse desgaste, esse revirar das ideias, essa tentativa vã, porém sempre saudável, de tentar se ver lá na frente.

Terminamos juntos de escrever essa cena três. CENA TRÊS - ESSE MAU ESTAR. De qual mau estar estamos falando? Da morte? Da culpa? Estamos falando da incompreensão? Não importa responder. Importa, acreditam as personagens, especular o que possa ter acontecido. Algo que possa suprir a categoria "explicação", que comporta todo um mundo de possibilidades. Eles querem explicar - cada um a seu modo - como pôde essa coisa ter invadido seus corpos e ter criado morada. Eles não sabem. Caso soubessem, não haveria dramaturgia.

Eles tentam, eles persistem e se precipitam. Eles se machucam, mas também ferem, não são santos, são tentativas. Eles tentam a todo custo lidar com a burrice do outro. Eles tentam a todo custo lidar com a sua inteligência, hoje, porém, incapaz de ditar resolução que sirva. Somos burros, talvez um deles deva pensar. Ou então, talvez um pense, isso que estamos tentando entender agora voa dançante entre a gente no meio dessa sala.

Eles não percebem. A dor é capaz de cegar. A dor engole os princípios e transforma a vida em ciranda-desespero. Os beijos viram cortes, o piscar do olho instaura um tiroteio. Mas se acalmem. Eles já já vão se deparar com o desconhecido. Eles em breve perceberão que se chama Lilla tudo isso.

E então cena quatro chega para confortar. Não quer dizer alegria, felicidade, essas coisas capa de revista. Quer dizer que o tempo agora age de outra forma. O toque se testa de novo e a pergunta primeira não é acusação, mas sim tá tudo bem contigo? CENA QUATRO - RIR DAS MARCAS. Que marca é essa, Jesus? Só pode ser Lilla. É ela que se tira deles e ao mesmo se crava em cada respiro, em cada investida que cada um deles dá no mundo. Ela se crava e vira cicatriz que não cessa de rachar a cada dia. Só pelo divertimento que é se descobrir capaz de morrer e viver de novo, sempre novamente a cada manhã nascida.

Acreditem. Só nos falta falar dela. Não há mais nada. É só isso. Eles estão ali para viver um pouco mais tudo isso. Não é pra resolver. É pra dividir os espectros e formar um corpo menos propício ao esquecimento. Eles estão ali para juntarem os restos de cheiro, os restos das roupas e das coisas da Letícia, dos brinquedos, dos pincéis e para assegurarem, uns aos outros, que ela estará protegida. Ela que os costurava agora continua agindo. Que tarefa difícil, não?

Dar existência ao invisível.

Estou me perdendo? Talvez. Não faz mal. Vamos seguindo que o que estamos construindo tem força suficiente para se perder e se achar. Vocês estão me emocionando, vocês estão, aos poucos - perversos - atravessando,
    

terça-feira, 26 de julho de 2011

PELÚCIA

MIKE KELLEY
Artista americano conhecido por costurar bonecos a partir de objetos comprados. Seu trabalho é frequentemente reconhecido como abjeto.

"Kelley vê os animais de pelúcia como o primeiro abuso dos adultos às crianças pois são modelos idealizados e assexuados destinados a fazer entrar a criança no molde das normas familiares e sociais. Por isso apresenta esses animais mutados, cortados e transformados, dando-nos uma imagem violenta e expressiva desse abuso"

fonte: http://geometricasnet.wordpress.com/2008/02/15/mike-kelley/


fonte: http://www.initialaccess.co.uk/exh/42/8/unholy-truths/mike-kelley


fonte: http://daddytypes.com/2007/04/27/say_hello_to_mike_kelleys_little_friend.php

domingo, 24 de julho de 2011

Layla Acoustic - Eric Clapton

favor parar de achar que o inácio é mesquinho porque, de fato, ele não é.

lembro.


de quando eu pedi uma boneca para a minha mãe, ela não me deu. minha mãe ficou chateada mas tentou disfarçar. lembro que eu queria tanto mas tanto que cheguei a desenhar como era a boneca dos meus sonhos. eu sabia que meninos não brincavam de boneca mas na casa da Lilla eu brincava;
daquela febre que era ter um tamagoshi. toda a turma tinha e a professora dava um intervalo dentro da própria aula para a gente poder dar pizza, hambúrguer, botar para estudar, matar a sede... eu usava o intervalo para me trancar no banheiro. Quando a Lilla deixou o tamagoshi dela cair no chão, a Tia Anita logo comprou outro e, a partir daí, eu passei a ser pai do tamagoshi quebrado que era dela e não precisava mais ir ao banheiro. enquanto o meu ia ficando cada vez maior e já já ia virar morcego, ela já tinha se enjoado do amarelo e já estava usando o verde-claro;
do nosso primeiro natal juntos. ela ganhou o cavalete, uma tela branca, um pincel, umas tintas e um bilhete escrito: ‘que a imensidão de todo este branco ganhe contornos coloridos. Ass.: papai-noel’;
do altarzinho que ficava no quarto dela, em frente a cama. a gente sempre conversava com os duendes, os anjinhos e os gnomos (principalmente naquelas semanas de prova);
de quando eu quase fui federado. a Lilla não jogava mas me assistia sempre. ou sentada no quiosque tomando água-de-côco ou torcendo por mim entre um mergulho e outro. esta foi a bola da minha primeira medalha de ouro. o jogo acabou num ace. a lilla dizia que não tinha nada mais bonito do que me ver saltando. que eu combinava mais com o ar do que com a terra. ela sempre dizia que queria experimentar o salto;
de: ‘a Lilla é minha amiga ? ela gosta mais de mim do que do Rogerinho da oitava ? a gente vai ficar sempre junto ? a gente vai ser enterrado no mesmo dia ? tem alguém aqui agora além de nós ? eu sou bonito ? os meninos da sala riem de mim porque eles têm inveja ?’;
da gente brincando de ser grande e de ter um computador portátil para poder levar para onde bem quisesse;
que ele embalava as nossas tardes quando a gente ‘tinha porque tinha’ que aprender ‘a coreografia do momento’ para dançar na matinê;
que a gente ouvia o LP da época que o Vô Mario era vocalista de uma banda de rock chamada os improváveis;
que os controles foram perdidos quando a Lilla botou pela nona vez o filme do Gael;
que o Tio Raul conseguiu da gente ir a uma gravação do Xuxa Park. eu e lilla participamos de uma gincana de meninos contra meninas. eu queria ser do grupo das meninas mas a Xuxa não deixou. acho que ela percebeu que eu fiquei magoado e, no intervalo, ela pegou o LP que estava nas mãos da Lilla e deu um autógrafo;
das vezes que a gente saía da escola, almoçava e passava uma tarde inteira tentando aprender as coreografias. todas as coreografias. a bruaca da vizinha do lado sempre reclamava do som. ela era a Carla Peres e eu era a Débora Brasil. tentei algumas vezes ser a Sheila Carvalho mas a Lilla dizia que eu tinha um quê de Débora;
que eu nunca entendi aonde estava a graça daquela história mas não sei porque só agora eu quero descobrir;
de ser o primeiro presente que dei a ela, com o dinheirinho que ganhei pela vitória no campeonato de vôlei. na letra I já tinha escrito Inácio;
do ano em que o mundo não acabou e a gente continuou junto. a gente morrendo de medo esperando alienígenas e disco-voador e do alto só vinham os fogos de artifício;
que ela era completamente apaixonada pelo Gael e me fez ver Diários de Motocicleta 8 vezes seguidas;
da época que ela era a Emma e eu só podia ser a Melanie Brown e porque só a gente sabia toda a coreografia de who do you think you are ?;
dos únicos quadros que ela assinou com pseudônimo;
que ela sempre quis me ensinar a pintar mas não sei porque só agora eu quero aprender;
que para mim era lençol ou colcha. descobri edredom só na casa da Lilla. a gente dormia junto e eu sempre dizia que edredom era microondas de quarto de rico.
que tinha um furinho de queimado bem no meio, da vez que eu e a Cecília estávamos fumando escondido no quarto da Lilla enquanto ela tomava banho. ela saiu do banheiro e veio fumar com a gente antes que a Tia Anita chegasse. e, na pressa, a ponta caiu e queimou a toalha;
dela dizendo: ‘maiô é para piscina e biquíni é para praia’. como eu tinha medo de piscina, eu nunca vi a Lilla usando ele. mas sempre imaginei como ficaria;
que a gente tava no Centro comprando fantasia para o carnaval e, de repente, ela disse que precisava ir ao banheiro. ela voltou de lá mais branca do que o de costume dizendo que estava sangrando. eu me apavorei e pela primeira vez fiquei tão branco quanto ela. ela disse que não sabia o que fazer mas que tinha se resolvido com bastante papel higiênico mas que precisava de outra calcinha. entrei na primeira loja que encontrei e comprei logo um pacote com sete calcinhas. voltei correndo, entreguei o pacote para ela e depois de passado o susto, ela me disse gargalhando: ‘inácio, para que sete calcinhas se eu só tenho uma perereca ?’;
que foi o primeiro presente que ela ganhou do Conrado, quando fizeram 72 horas;
que quando eu comecei a dormir mais do que de vez em quando na casa da Lilla, a Tia Anita falou que já era hora de eu parar de usar roupas improvisadas e disse que ia ‘dar um jeito nisso’. no dia seguinte, ocupando parte do armário da Lilla, estava ele pendurado num cabide roxo;
da camisa que a Rita trouxe para ela da lua-de-mel com o Caco. eu sempre achei que a Rita tinha um gosto duvidoso para roupas e a Lilla se acabava de rir quando eu dizia que era preciso fazer muita oração para a Rita não fazer outras viagens porque camisa escrota, já bastava aquela;
da época que todo mundo na escola ficava lindo nos seus casacos da GAP. cada qual tinha um de uma cor diferente. eram casacos idênticos mas cujas cores personalizavam cada aluno. o dela era branco neve. eu brincava dizendo que o meu era o casaco da GAP mais moderno e caro de todos. era exclusivo. ninguém tinha um igual porque uma tia minha tinha mandado trazer da Itália. era realmente moderno para a época: era branco transparente;
que eu sempre quis este óculo e ela trouxe de presente para mim de uma viagem pro exterior. só que chegando aqui ela percebeu o quanto a minha cabeça é grande e o óculos não entrou. Aí ela ficou com o óculos e deixou o relógio para mim;
do perfume que a Tia Anita mais gostava mas que a Lilla usava pouco porque ‘não queria ser uma cópia da mãe’;
que a Lilla achava que perfume de homem é para homem e perfume de mulher é para mulher e nunca entendeu porque o Tio Renè deu um perfume masculino quando ela fez justamente 15 anos;
da maleta que a gente usava para maquiar as Barbies. e, numa confraternização de final de ano do colégio, a gente brincou dela ir de Inácio e de Inácio ir de Lilla: ela me tacou pó-de-arroz pelo corpo todo e eu passei um negócio bem preto nela. a escola toda parou para ver a gente;
do dia que ela ficou pela primeira vez com o Conrado. a gente tava se arrumando no quarto dela antes de ir prá matinê e ela disse que zebra era o nosso animal da sorte. Então ela escolheu este tênis dizendo que seria o primeiro passo para futuros muitos beijos;
de quando ela descobriu que sagitário era o signo complementar dela;
que eu fui o escolhido para ser o padrinho de todos os 7 filhos que eles iam ter;
das tardes ensolaradas depois do almoço e antes do Kumon. ela estendia a canga e eu abria a cadeira;
de nós todos posando para a foto e o pau mulato atrás da gente. Eu fazendo trocadilho, Cecília dizendo que sempre quis ter um pau mulato atrás e a Rita emburrada dizendo que a gente era muito pornográfico.
daquele final de semana na casa de praia da tia da vizinha de prédio da Cecília. os seis na cama e a Rita emburrada não querendo dividir o mesmo quarto com os meninos porque ‘eles são meninos e eu só divido a cama com uma pessoa do sexo oposto: Caco.’
que, enquanto tocava ‘losing my religion’ e o sol nascia, ‘prometemos ficar juntos, prometemos que os futuros novos amigos não seriam melhores que os velhos, prometemos que nos veríamos pelo menos 1 vez por semana. prometemos também não ficar só na promessa.’

lyla



tinha esquecido dessa música e lembrei outro dia.
o nome é Lyla, a história é outra, mas também é triste.

o vídeo é de um usuário, não faz juz à música.

então o melhor é ler a letra:

You wanted to buy me
For a hundred euro
You said you'd take me
To your little car
Your friend lived near by
He had a house and all
Where was i from you said
You guessed yugoslavia
Well it's not yogoslavia
It's not yugoslavia at all

It reminded me
Of a movie i just saw
About a little girl
From yugoslavia
She got sent away
They made her prostitute
She ate mcdonald's all day
And never had a chance to play
Lyla
You wanted to buy me
For a hundred euro
You said you'd take me
To your little car
Your friend lived near by
He had a house and all
Where was i from you said
You guessed yugoslavia
But it's not yugoslavia
It's hardly yugoslavia at all

Lyla

eu coloquei em negrito a parte da yugoslavia,
acho que tem a ver com vocês:

ele adivinha daonde ela veio, dizendo yugoslavia.
ela diz que não, porque não é mais, não existe mais.
é um território que não existe mais,
um lugar que mudou de nome,
um pedaço de terra.

as coisas voltam ao que elas são, como nós, invariavelmente.
as coisas são corpo (sentidos), seguidos de nomes, seguidos de ideias.
ou em alguma outra ordem...

Wall


Este vídeo serve por conta desta parede que perfura o espaço da cena e é extremamente suscetível à luz.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

ensaio 57

22/07/11, unirio, sala 604
diogo, vítor, fred, marília, nina e dominique

aquecimento de uso. muitos sorrisos. intensidade. depois, pelo espaço, andamentos cada vez mais mais. abaixar/erguer/seguir andando. empunhar a espada (sem comandos). tudo bem com vocês? a coisa toda coloca o corpo num lugar que eu nem sei.

figurino. aquecimento vocal (precisamos adequar o aquecimento ao trabalho de 08h30 às 09h, talvez de 08h30 às 09h15. isso é essencial para os próximos encontros.

trabalho com cenas. primeiro no papel: cortes. depois na cena: prólogo, cena um e cena dois.

prólogo: as entradas e saídas estão mais claras. o lugar conquistado para o inácio é determinante. nada excede ou extravaza. ele entra por conta do all star. apenas. não se entende a princípio, mas tudo bem, alguns minutos depois será perfeitamente compreendido. a entrada de rita talvez deva sugerir algo mais com o lenço. era da lilla? ela brinca, joga o lenço, pede à cecília, cecília responde a ela e ela sai? dramaturgia. a(u)tor. pensar nessas proposições e seguir testando. vítor ganhando o jogo com a nina. será que ele é grosso com cecília? será que ele é bruto? mas mesmo que ele seja, por quê? por que ele seria e o que isso desbrava nela? há uma grande importância nesse estresse. tenho a sensação de que odilon deva abrir demais a questão para vermos cecília se resguardar no seu esconderijom forjado (mp3 player). andréia é precisa na impaciência (não se acostumar a ela, seguir impaciente, abandonar a coleira no chão mas permanecer ereta, atenta na lista). saídas e entradas devem ser precisas e diretas. para a próxima semana, vamos investigar quais entradas e quais saídas a cecília se permite responder e/ou perceber. 

cena um: batidão total. entrar e sair. posso ouvir o som das portas se abrindo e batendo, quase nunca sendo fechadas. não segurem o texto. vamos segurar quando for preciso, mas quase nunca é preciso nessa cena. emburacar no drama das personagens. vocês estão cada vez mais pertos dele. vocês estão descobrindo como é doce e cruel brincar de ser o outro. sigam brincando. tá ficando lindo vendo a dor deles se discernindo em vocês. menos por querer e intencionar e mais pelo jogo. pelo simples jogar. repitam o texto, repitam até encaixar, até o corpo de vocês estremecer e pedir pelo corte. ele virá. as coisas se esquentam nessa cena mas são redirecionadas. o mau-estar do quadro trazido por cecília é abrandado com a dança do inácio com o quadro. boa proposição fred, sutil e esmagadora. revela um inácio que não conhecíamos, mas que pode existir tranquilo. inácio diz que não veio pra chorar porque está louco pra desabar, só por isso. olha como ficamos mais forte quando não sublinhamos sempre o que é dito.

CORTE SECO, odilon vira para nós, espectadores, e conta o seu trajeto após o dia do enterro. tem que sabê-lo de frente pra trás e de trás pra frente. caso contrário, não dá pra jogar com você. e é preciso jogar muito esse texto. vamos fazer isso juntos: decorando primeiro.

cena dois: apostei com vocês numa quebra que não visa estender a cena anterior. apesar de muitas propostas interessantes (quase um montar da sala, com objetos, quadro na parede...) acho importante sabermos cortar para facilitar a chegada de novos estados. é bruta essa virada, acho que não devemos intencionar costurar cena um na dois. temos um intermezzo, que é o texto do odilon.

boa chegada dos meninos. dodô, como lidar com a fala do sucessinho? como torná-la possível e natural? isso é preciso. apostar na simultaneidade, sem medo, sem hesitação. vocês fizeram um bom trabalho hoje, seguir, porque pode ser que lá na frente seremos simultâneos e completamente intercalados, dando ao público uma experiência intensa de simultaneidade arranjada. a cena dois se configurou como um pré-buraco (que é a cena três).

hoje mexerei na dramaturgia e envio. mas, saibam, independente do meu envio ou não, decorem o que vocês têm. estudem. estudem. no final da próxima semana teremos cenas novas, ou seja, quanto mais estudarem o que temos melhor.

sobre a cena dois, enfim: boa a progressão. percebemos como é preciso se afetar com aquilo que afeta o outro. em que lugar cada coisa bate em cada um. bom trabalho, marília e dodô, pela força com que vocês estão ganhando o texto e deixando por meio deles vazar a dor dessas personagens. bom trabalho, mesmo. nina, vítor e fred: seguir na construção dessa afetação. odilon perdido entre o horror que ele achou que soubesse qual era, mas que se atualiza na sua frente e deixa ele meio sem ar. odilon entre andréia e a situação da lilla. inácio roubado de si pelo horror dos amigos. meio atônito, sem fazer força, apenas pela entrega simples de ouvir o que é dito. cecília sem saber como se diz isso tudo. sentindo, se perfurando, mas não sabendo como se diz tudo aquilo.

andréia fala - que bom que você resolveu explicar. porque toda vez que você abre a boca a gente entende tudo, menos isso.

percepção aguda de que o ritmo influencia tudo. caramba, não chora, deixa ela chorar, eu não tô chorando, tá sim que eu tô vendo, rita você tá maldosa, não chora, deixa ela chorar... DEIXA ELA CHORAR (por que cecília insiste tanto nisso?). é normal se sentir culpada.

a cena três emerge no meio da sala.

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quinta-feira, 21 de julho de 2011

sobre o ensaio 56

21/07/11, unirio, sala 604

Alongamentos
Aquecimento de uso
Jogo do lenço
Punhal(com o comando das palmas da Flavia e depois sem - curioso estar com os outros nessa qualidade de escuta. Fico imaginando agora esse estado de concentração estendido no tempo de todo ensaio)
Corrida no escuro: vejo a cada dia um ganho da confiança na total insegurança.
Aquecimento de voz.

Passamos o Prólogo, Cena 1 e boa parte da Cena 2.
Foi um bom ensaio, testamos alguns novos lugares.
Como se abrir ao caos mas também aprisioná-lo?Fico por aqui com essa questão.


Até amanhã bem cedo.

ensaio 55


20/07/11, unirio, sala lucília peres
diogo, flávia, dominique, nina, marília, fred e vítor.

começamos atrasados, bastante atrasados. o ensaio hoje foi de tarde e isso altera tudo. em breve voltaremos ao horário habitual. alongar, aquecer a voz (sempre). acreditar na periodicidade (não somente do trabalho com as cenas), mas também na periodicidade e rigor com o próprio corpo.

ouvimos caetano enquanto jogavam o pano. depois, voltamos a brincar de empunhar a espada, porém, dessa vez, foi pedido que os meninos encontrassem um momento juntos - sem combinação - para atacar. foi muito interessante. depois, flávia sugeriu que eles substituíssem o estocar das espadas imaginárias por abraços. outra composição que rendeu imagens muito interessantes.

figurinos colocados. aquecimento de voz feito. conversas soltas sobre as primeiras cenas. solicitações aos atores para não perdermos aquilo que é preciso ficar. fizemos um trabalho mais focado no prólogo, dizendo quem entra e em qual momento. por mais que não tenhamos marcado, nos próximo dias será a partir dessa estrutura que fixaremos o restante.

fizemos duas passadas da cena um, independente do prólogo. os meninos encontraram coisas ótimas, lugares até então não desbravados. o "abrir e fechar" das portas cria uma movimentação para a cena que não estamos conseguindo abandonar. está interessante. esses fluxos que não cessam, mas tão somente se coloquem, se impõem.

descobertas da nina quanto ao prólogo, no sentido de como lançar para o corpo uma ação, gesto ou forma de dar o texto que faz o corpo dizer ainda mais, de forma mais sincera e sensível. ela grita com o inácio e nisso a lágrima vem vindo.

tiramos algumas fotos do ensaio para usarmos na divulgação do 1º tempo_festival das artes.

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ensaio 54


19/07/11, unirio, sala 604
diogo, flávia, dominique, nina, marília, fred, vítor, rodrigo marçal e verônica machado.

PANO.
RUN.
PANO.
RAIA. Vítor + Dominique + Fred + Nina + Marília = OAICR (ao som de MONSTER OST).

dois pulos
duas andadas lentas adiante
duas andadas para trás
dois pulos
duas sentadas
duas andadas lentas para trás
uma deitada e uma levantada
uma levantada e uma deitada
quatro caminhadas lentas para trás
duas caminhadas lentas para trás
uma paragem entre todos
dois deitados, três em pé, todos parados
uma sentada, outros quatro andando
os cinco andando
uma corrida de costas
dois pulos leves
duas viradas juntas para frente

A UNIÃO ACONTECE QUER SUAS PARTES QUEIRAM OU NÃO.

TRABALHO COM CENAS. Prólogo + Cena Um.

Tivemos uma excelente conversa com o Cabelo. E Dominique e Fred trabalharam cada qual cerca de 30 minutos ou mais com a nossa preparadora vocal. Aos poucos, todos os atores começam a ganhar uma listinha de exercícios vocais.

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ensaio 53


18/07/11, unirio, sala 604
diogo, flávia, dominique, nina, marília, fred e vítor.

comemoramos o aniversário de vítor comendo bolo de chocolate diet e bebendo café. ele fez 24 anos no domingo, no mesmo dia que a nossa personagem lilla faleceu. responsa. rs,

AQUECIMENTO. Ao som de Jorge Dexler, trazido pela Marília.

PANO. Ao som de Muse, Linkin Park, The Strokes, Akon, Camille...

RUN, FOREST, RUN. Como correr no escuro? Como confiar no outro e não apenas em si mesmo?

RAIA. Marília + Vítor + Nina + Dominique + Fred = ROCAI. Ao som da trilha sonora - excepcional - do filme MONSTER ("Ferris Wheel").
Uma borboleta branca invadiu o espaço de ensaio, mas as janelas estão aberas caso ela queira sair. Ela entra e sai. Eles neste jogo permanecem oscilando durações, andamentos, rompendo limites e promovendo o encontro.

TRABALHO COM CENAS. Prólogo + Cena Um. Propostas a serem levadas nos ensaios seguintes, verticalizadas, emburacadas...

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stills





segunda-feira, 18 de julho de 2011

Hoje vai ser outro dia

No ensaio de hoje inauguramos um lugar que nos acompanhará até a nossa estréia: Apontamentos precisos, apostas feitas, emburacamento naquilo que acreditamos e os atores sempre autores, nos surpreendendo na magia da criação.

nossas apostas:

DA AUSÊNCIA E DA PRESENÇA
um corpo que se ausenta e afeta a presença de um outro;
a presença de um corpo (ou corpos) que presentificam a ausência de um outro;
a presença de uma voz ausente de seu corpo;
a presença de um corpo que se quer fazer ausente;
a ausência de uma voz em um corpo tão presente (que se quer fazer presente pela ausência dessa voz...);

COLISÕES
corpos que se chocam, que se cruzam, que se afetam, corpos que ferem, olhares que coincidem, gestos que se atritam, falas sobrepostas,

PARAGENS
interrupção. falha no funcionamento. TILTI. breque.

FLUXOS
continuidade, extravazamento, andança, baratas tontas, run Forest run! Corra Lola corra, não para não para não para não! A FESTA NÃO PODE PARAR, seguir em frente, tentativa de fuga, de libertação, tentativa de dizer, de mostrar, de juntar e desfazer, de aglomerar e dispersar. puro movimento.

domingo, 17 de julho de 2011

15:07:2011

é a partir de hoje que o Inácio começa a se perguntar\sentir na pele: 'e agora, como continuar ? como não tombar e seguir em frente ??'



e só daqui a 2 meses, mudadoS, ele encontra Rita, Andreia, Odilon e Cecília. mudadoS.

MUDANÇA DE PERSPECTIVA

pensando justamente nos formatos, nas mudanças, o que poderia ser quebrado, dobrado, alterado agora que já temos algumas definições. pensei até em um formato circular, tela de proteção, balões, enfim, estou num momento de me contradizer para pegar um ar...

mas gosto da inclinação. vou voltar pra vocês com mais coisinhas. envio o desenho do cenário retangular e vou começar a trabalhar com a ideia do canto como o centro. na verdade, quando conversamos sobre canto e ainda quando existiu a ideia das paredes "se fecharem" ou "se abrirem", o foco de visão era o eixo, onde as paredes se encontram. nada mais natural que mantermos isso...



palavras do rafa. segue abaixo:



ensaio 52


16/07/11, unirio, sala 604
diogo, flávia, dominique, nina, marília, fred, vítor e gustavo.

ensaio determinante. tenho a sensação de que cada ensaio se torna um novo divisor de águas. isso quer dizer que estamos avançando muito em pouco tempo. isto quer dizer fome, isto quer dizer sede, isto quer dizer que estamos tentando, galera, e que é isso ai, bem confuso desse jeito mesmo.

o que posso dizer a vocês é que estamos vivendo o nosso projeto. vivendo o projeto naquilo que ele é. exigindo de nós mesmos aquilo que nossos personagens também precisam sofrer para alcançar. não é fácil, não está sendo. aliás, confesso, nunca achei tão difícil e impossível.

eis o título de nosso espetáculo: vocês já sabem. estamos no lugar. não há problema real que nos faça parar.

eu peço vamos juntos, vamos juntos, a gente há de chegar. mas somente se formos juntos. parece poesia. e é. saio de nosso encontro desesperado, falando alto e escorrendo angústias mil. mas saio tão forte, tão capaz, tão revestido de cuidado e atenção.

para fazer diferença. não vamos dar nome. isso assassina a nossa experiência, única, enquanto juntos. enquanto estamos buscando aquilo para o qual não há manual ou bula. caralho, é sério, parem pra ver o tanto já alcançado. para ver como fomos abusados.

e eis o preço da nossa ousadia: ela fez dentro de cada um uma angústia que não se sacia. mas, é preciso tentar. cada um da sua forma, aceitemos a diferença alheia e vamos impulsioná-la para o centro da cena.

eu não sei. estou aqui em casa. são 01:20 do domingo, sabem, eu não sabia o que ia escrever, mas dentro de mim algo se movendo me lembrou do princípio. tá sendo por agora, dentro da nossa ficção, que a nossa lilla tá partindo. tá sendo por agora que ela tá indo. pra sempre. pra não voltar. pra instaurar de vez essa coisa que nunca mais a gente vai conseguir explicar porque é sentido puro e genuíno.

é, comparsas, hoje ela está indo. hoje ela está indo. lá longe, neste céu tão escuro, sob essa lua tão imensa. a nossa brincadeira respira conosco o ar da vida e nisso nos desorienta. mas, vamos juntos e com calma, vamos juntos e sedentos. me puxem, me provoquem, me alimentem e exijam aquilo que for preciso para dar conta desse jogo.

estou aqui. sou pra isso. a lilla hoje indo e eu aqui, persistindo. eu aqui como vocês, tentando ficar, tentando criar raíz para, enfim, deixar de ser sumiço.

vocês me emocionam. e é isso: eu só tô um pouco transtornado com a nossa persistência.

um beijo muito cheio de calor e sossego
nesta noite a gente dorme sem saber o que será amanhã

mas logo logo ele vem
e a gente nele amanhece guerreiro.

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sábado, 16 de julho de 2011

É estranho

Eu não sei por onde começar. Tô ha uma hora escrevendo e apagando, escrevendo e apagando.
Escrever aqui parece ser fatal, uma verdade pesada tipo pedra. E estranho.
Vou começar a mandar e-mails.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

~Aииą Kąrεиιиą~10/10~

~Aииą Kąrεиιиą~9/10~

Clara Nunes - Coisa Da Antiga

Grávida - Marina Lima

Especulando sobre transformações,dragões e cavalgadas

Da nossa união:

Nos reunimos um dia para experimentar algo chamado view points.Viemos através do Di,através da Flavinha,através dos dois ou por um terceiro?Sei como eu cheguei ali,mas não sei como e porque cada um chegou.Pouco nos falamos,mas era bom.Tão bom que todo sábado de manhã estávamos lá.

Desse encontro nasceu o encontro no teatro Glaucio Gil e as pessoas que se encontravam para o view points passaram a encontrar-se para fazer teatro.Me lembro que a alegria da proposta foi para mim como se me dissessem: você está grávida.Passei dias cantarolando pela rua aquela música da Marina:

eu tô,tô grávida,grávida de um furacão,grávida de um automóvel,grávida de um avião e vou parir sobre a cidade,quando a noite contrair e quando o sol dilatar eu vou dar a luz...

Mas quem eram essas pessoas que gestariam e paririam comigo?Colegas de trabalho?Alguém que divide um sonho contigo pode mesmo ser chamado assim?Como se pode dividir um sonho íntimo com quem não conhecemos?Claro,é um trabalho.Um trabalho especial com muitos desconhecidos simpáticos.Só?Talvez fosse na verdade um processo de inceminação artificial,nada de trepada gostosa,tesão,paixão,loucura.Mas,ótimo,seja como for,uma vida viria por aí.

Bem,era preciso viver para descobrir se rolaria tesão ou só inceminação e nós vivemos.Juntos.

Naquele momento,o filho chamava-se "Atravessamentos",mas desde então,o número de grávidos aumentou,o nome do muleque mudou,eu tento entender a beira do parto o que significa  o nome que escolhemos e confesso que já me peguei pensando: "Que loucura,pela primeira vez alguém, que não eu, escolheu amigos íntimos para mim e não é que eu realmente me apaixonei!".Hoje conheço dores e delícias de cada um.Temos juntos memória.Fico feliz de termos escolhido esse caminho.E acho que isto posto,entreguemo nos de fato a essa paixão.

Será que Harry poderia cavalgar solo?Talvez.Mas sinceramente não me interessa.Eu só quero se for com vocês.Vou colocar meu figurino branco,meus acessórios dourados e vou dizer, baby: eu sou de vocês.Se quizerem algo em especial,peçam.Acho que a essa altura do amor e da loucura,não cabem mais constrangimentos bobos entre nós.Não tenhamos vergonha de dizer.Acho que aí começa nossa questão. 


A Questão - Parte I:

A questão nasceu da palavra Atravessamentos.Pegamos essa semente,plantamos,demos água e calor.Então vimos brotar Como cavalgar um dragão.Foi então necessário pesquisa e trabalho de sol a sol para saber como cuidar de planta tão exótica e delicada.Mas nossos esforços não foram em vão e vejo lindas flores surgirem com os escritos existencialismo, lidar com aquilo que não se resolve e não se resolver o que não tem resolução.Ainda outro dia caiu de uma delas uma pétala com os dizeres:

Os amigos vão ao apartamento de Lilla para dividir as coisas da amiga,mas inconscientemente percebem que foram para saber como carregarão aquela dor porta a fora.Quando entraram ainda eram adolescentes e, como tal,não tinham ainda encontrado a desilusão e seu peso.Como cada um deve lidar com isso determinará se cada um ali se despede do grupo e aos poucos da vida ou se junto aos outros fortalecerá o desejo de celebrar o mistério da vida.É nesse perder e talvez ganhar consigo que cada um transforma-se de tal maneira que poderá sair daquele apartamento sem ler a carta de despedida da amiga.Quando eles sairem ela realmente não existirá mais naquele grupo,no mundo e os adolescentes que entraram sairão adultos.


Ainda tem um tempo até os frutos chegarem e amadurecerem.Nem todos veem,mas beija flores se aproximam vez ou outra dessas flores imensas.É uma imagem singular,mas não menos desprovida de beleza.Nossa preocupação nunca foi criar algo bonito,mas como sabemos,é natural das plantas a beleza.

Há agora algo que imagino dos frutos que gostaria de dividir com todos os grávidos.É muito difícil falar dessa planta exótica,desculpem minha falta de jeito,mas buscarei a ajuda da poeta.Adélia Prado dai me forças.


A Questão - Parte II:

Ensinamento

Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite,o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
"Coitado,até essa hora no serviço pesado."
Arrumou pão e café,deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.


Como a mãe nesse poema,muitas peças trabalham um tema pela via indireta.Lembrando que na vida há muito artigos de luxo,inomináveis.

Vejo nas flores que brotaram que Como cavalgar um dragão não é uma peça dessa natureza indireta.Sinto que os personagens chegam usando a linguagem indireta corriqueira,mas a força da situação em que se encontram cria uma brecha para que a possibilidade de ver e dizer o inominável aconteça.

Amor violeta

O amor me fere é debaixo do braço,
de um vão entre as costelas.
Atinge o meu coração é por esta via inclinada.
Eu ponho o amor no pilão com cinza
e grão de roxo e soco.Macero ele,
faço dele cataplasma
e ponho sobre a ferida.

Acho que o fruto maduro de nossa planta Dragão trará dita em alto em bom tom a palavra de luxo: AMOR.Com toda coragem que é pronunciá-la. Esse amor que éfeito juntos e serve de cataplasma para cada um.O cataplasma que se põe sobre a ferida de estar vivo.

Mas isso ainda é muito vago,por isso prossigo.

Explicação de poesia sem ninguém pedir

Um trem-de-ferro é uma coisa mecânica,
mas atravessa a noite,a madrugada, o dia,
atravessou minha vida,
virou só sentimento.

Acho que para que a flor do nosso Dragão se transforme em fruto é preciso saber que imagem a dor de existir de cada um cria.Como se tentássemos criar a nossa explicação do existencialismo sem ninguém pedir.A poeta usou a imagem do trem para expressar o que é poesia.Pegou essa imagem concreta,abraçou-se a ela e fez o poema.O caminho é claro e nesse percurso vemos magicamente impressa a explicação de poesia.

Que imagem uso para a dor de existir de Rita?Preciso saber onde dói.Como dói.Dar uma imagem para sua dor e sua delícia.Arriscar uma concretude e abraçá-la,rezando para que tenha a alegria de ver que o percurso deixou registrado como é para mim seguir.

É então que encontro-me perdida mais uma vez.Quem me dera ser poeta.

Referência importante:

Lembrei-me do personagem Kostia de Anna Karenina,de Tolstoi.Anna se mata jogando-se nos trilhos do trem.É uma cena incrível no filme.A trama de Kostia começa com a perda de um parente próximo e no fim,se não me engano,ele fala do porque ele ,em contraste com Anna,acha que a vida vale a pena ao ver o nascimento de seu filho.

Acho que gostaria de chegar naquilo que Kostia diz no final.Terão que ver o filme para saber; )

Hasta mañana,amores. 





 

o cara do celular está sem o celular. o Dragão pegou sem pedir licença e sem dizer obrigado.

pois é.. ontem mesmo falei deste Dragão que já está entre nós (‘é pessoal e intransferível. Cada qual tem o seu. Desde os inícios’) e que não devemos nos distanciar dele mas sim abraçá-lo (afinal de contas, ‘uma coisa que eu aprendi com minha amiga historiadora é que quando não podemos vencer um inimigo, a gente se alia a ele’). Falei de mortes na família, de gordura em corpo alheio, de cabelo grande e não falei de mais coisas simplesmente porque não sei tanto assim da vida de vocês, meus colegas.. talvez já tenha passado da hora da gente ser colega para sermos amigos. Com amigo a gente divide, com colega não... Podíamos nos esforçar em sermos 7 amigos que se encontram para dividir, doar e construir. Construir um bem maior ou ‘Como cavalgar um dragão’ ou como ultrapassar uma coisa que não admite resolução.

Só hoje, dia 15 de julho (minha mãe faz aniversário daqui a uma semana, meu deus !), com o cancelamento do ensaio e pensando sobre a gente, descobri como eu Fred respondo a questão maior do espetáculo e a questão que o Inácio ainda não sabe como responder: eu só consigo ultrapassar uma coisa que não admite resolução fazendo teatro. Viver não admite resolução, já me conformei, mas faço teatro. É a minha resposta para continuar em frente, caminhando apesar dos pesares. É fazendo teatro, ficcionalizando a vida e o sujeito Fred que as minhas pernas ganham forças e eu não tombo. Talvez se eu tivesse feito design de interiores ou já formado na engenharia, eu agora estivesse conhecendo e sendo amigo da Lilla da vida real, que viu num salto a possibilidade de, durante poucos segundo, não ter que se esforçar para segurar as próprias pernas. Segundos estes valiosos mas que só são pagos com a própria vida.

Estou aqui, em casa. Acabei de tirar a roupa pois tava pronto para me encontrar com vocês. São nove horas e talvez só agora a Nina estivesse chegando na 604 ou talvez agora a gente começaria a andar pelo espaço. Será que a gente teria conseguido hoje passar o texto como a Marília sempre propõe ? A sacola aqui do lado está cheia de objetos que eu queria levar. A coleira da Dodô está aqui. Falando nisso, Dodô, se você acha que no prólogo a Andréia entra com um cachorro porque ela tem um bichinho de estimação chamado Odila, me avise porque eu tenho 3 cachorros aqui em casa. É só escolher... Vamos propor sem esperar um comando que venha de fora e do alto. Não. A nossa proposta pode ser uma resposta a um estímulo próprio. Aí depois a gente vê se fica ou não e conversa. A peça também é nossa. Nina, pensa na cadeira e no microfone. Se quiser eu levo uns pratos e vou jogando na parede enquanto a Marília canta o sambinha que ela trouxe ontem...

Tô escrevendo isto não para vocês apenas, mas para mim também. Acho importante a gente estar atento ao que está acontecendo e não esmorecer. Mais, fazer uso das fraquezas e dos problemas a nosso prazer. Vamos ser cínicos (já ouvimos isto !!) vamos caminhar fingindo tranqüilidade e serenidade absolutas mas no momento oportuno a gente crava a espada e depois volta como se nada tivesse acontecido. Ninguém precisa ficar sabendo dos nossos crimes... a gente tem um Dragão entre nós, porque a gente não usa o espaço do retângulo para deixar ele aparecer ? Porque ele já está na vida (‘é pessoal e intransferível. Cada qual tem o seu. Desde os inícios’)... e ele precisa entrar em cena também. Vamos ser safos e transformar entraves em soluções ou propostas. Falar de Dragão não é fazer bonito. Não vamos nos preocupar com o certo e com a beleza. Vai estar certo e vai ser lindo se o erro for assumido até o fim e for uma proposta. O erro pode ser o lindo. E, me desculpe dragãozinho, mas você não tem a cara da Luiza brunnet ! Estamos falando de Dragões não de anjos.

Ontem eu acordei para perder meu celular. Estava dormindo e acordei no sobressalto para ver ‘terreno baldio’. Meu celular apitou e eu crente que ele estava dizendo: “acorda, Fred, para ver a peça dos seus amigos” mas não, ele estava dizendo: “levanta daí, camarada, porque hoje eu vou sair da sua vida ! Você precisa me perder para me achar !”. Como eu ia adivinhar que aquele ali seria meu último contato, gente ? A última vez que usei ele foi numa ligação cheia de afeto que recebi da Marília. Ela, naquele tom de voz costumeiro, querendo saber se a peça do gunnar era algo como o show do PaulMa (beatles entre nós.) Pois bem, levantei e fui para a ufrj. Não entrei na peça e no caminho perdi o celular. O cara do celular perdeu a identidade, tô pensando agora. E acho que é ótimo na altura do campeonato o cara do celular estar em crise de identidade. Ser ou não ser ? Eis a questão (olha o Hamlet aí !). Aí, pensando mais e melhor sobre ontem eu penso agora que se eu saí de casa não foi para perder o celular mas foi para encontrar a Nina, a Dodô e a Marília na ufrj. Sim, todos estávamos lá e resolvemos fazer uma reunião extraordinária enquanto as portas da Vianinha não se abriam. Faltou você, Vítor. Pensei em transcrever aqui a conversa de ontem mas acho que isto é entre nós 5. Acho que a gente tem que cavar este espaço só nosso. Flavinha e Diogo conversam a sós. E estão a frente da gente. Não é justo a gente se agarrar só na gente uma vez que alguns passos distanciam os 2 dos 5 ?

Acho que isto aqui é um puxão de orelha também. Vamos estudar, trabalhar, decorar, estudar e trabalhar e pesquisar e perguntar e propor. E ficar atento (‘é pessoal e intransferível. Cada qual tem o seu. Desde os inícios’). Não se ensaia Dragão só das 8:30 às 13:30. Tem muito dever de casa. Tem estudo individual. Tem estudos dos 5 juntos. Vamos nos reservar... cuidar do corpo voz mente e íntimo. Corpo e voz. Vamos ! Plural. Todos. Eu também. Às vezes a gente fica achando que ainda falta pro primeiro tempo acontecer. E que ainda tem o segundo. Mas, na verdade, a gente tá é na prorrogação. Ou morte súbita. Ou gol de ouro. Ou penalidade máxima. Sei lá, não entendo nada de futebol.

ensaio 51


14/07/11, unirio, sala 604
diogo, flávia, dominique, nina, marília, fred e vítor.

em roda. em movimento. andamento. interlocutor. alvo. foco. tiro. correr no escuro. acreditar no inseguro. prólogo. cena um. prólogo. cena um. prólogo. cena um. (...) propostas no espaço. entendimento do texto via feitura da cena. apostas, no entanto, tenaz tentativa de manutenção. de ir deixando o que estiver servindo e flertando com delicadeza com as novidades.
exploração de objetivos, "sistemas", diretrizes que tentam ser mais claras.
é importante manifestar as dúvidas, ao mesmo tempo, não sofrer todas elas.
ótimas descobertas em cena.
compreensão clara e irrevogável de que precisamos dar continuidade. aprender a criar em processo de desdobramento daquilo que já estamos efetuando.
expressão. ótimo primeiro encontro com renato. a equipe de criação já foi toda apresentada ao elenco. a partir de agora horário de ensaio é horário de ensaio.

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quinta-feira, 14 de julho de 2011

Ensaio 51

Foram chegando,cada qual a seu próprio tempo.Chegando para uma vez mais formarem um todo, vivo.Reunimo-nos em roda e ao redor.Olhamo-nos e tomamos um o lugar do outro olhando-nos com a urgência que algumas vezes olhamo-nos em cena.Percorremos andamentos distintos.Corremos de olhos fechados.Colocamos os figurinos escolhidos na véspera.Ganhamos brincos lindos do Di.Colocamo-nos a ocupar o espaço com corpo, voz,palavras.Perdemos o olharmos uns aos outros,a entrega que demos na corrida de olhos fechados,mas timidamente aqui e ali era possível ver que dentro de cada um aquela energia pulsava guardada em algum canto.

Renato veio pela primeira vez e foi sem dúvida especial.Pelo feedback do que já está impresso nesse esboço.Por saber que é mesmo um esboço.Por dividir conosco as suas histórias.Pela entrega e pelo envolvimento.

Flavinha nos mostrou a maquete do cenário.Que lindo!Que importante vê-la!Que prazer vê-la!Importante por ver ali impressas coisas ditas há muitos ensaios atrás,como:do mistério fantasmagórico e persecutório que envolve todo cenário de morte e que está impresso na cortina de plástico preto.Como ver ali pegada ao mistério,na estampa do papel de parede, a vida pulsante daquela personagem tão querida de todos.Que riqueza a idéia do chão como uma camada de memória que será sobreposta ao chão onde acontecerá o espetáculo.A parede nova em contraste com a que está entrelaçada por papel de parede e plástico preto de lixo.Como diria o Di : um cenário com camadas.Camadas finamente entrelaçadas.Um presente.Um universo.Um cenário.

Não sei quem ouviu todos os detalhes,mas foi uma linda surpresa.

Tamires trouxe a notícia dos patrocínios já conseguidos.Que vitória!

Algo borbulha entre os atores...

Enfim...só tô falando o que aconteceu comigo.


O Dragão abriu uma vez mais as asas e a baforada de vento que veio dali rearranjou mais uma vez as coisas pelo espaço.

Amanhã,na sala 604: Ensaio 52.

O que Rita falaria sobre a sala na qual todos se encontram no momento da peça

"O universo é um aglomerado de acontecimentos energéticos superpostos não-simultâneos.Eu chamaria isso de um cenário." Einstein

No cenário da minha vida, a sala de tv da casa da Lilla é o aposento onde mais me demorei.Aquele onde anciava chegar quando estava na rua,cansada do mundo,quando carregava comigo uma dúvida,um medo,uma alegria,uma saudade.Era para lá que eu queria ir soltar o verbo, purgar a angústia,rir, reenergizar.Me lembro de dançar "Os alquimistas estão chegando" lá,depois de muitos vinhos com a Lilla,de imitar um lagarto             lembro de voltar ali assustada depois de,no meio de uma daquelas festas, ver minha foto com calcinha de oncinha pregada no lavabo(não aparecia a cabeça,era uma foto bonita,mas não esperava vê-la ali em meio a outras imagens que remetiam a banho,água...),ali assistimos as últimas copas do mundo,comemoramos aniversário de todos,soubemos da gravidez da Marcinha                  nesta sala tem uma marca de vinho no chão e na parede,resultado do esbarrão que Odila deu em Andréia na festa que descobri aquela foto no lavabo,na sequência eles riram e se beijaram pela primeira vez.

Ela encerrava nosso universo.A energia de milhões de memórias de vida,das nossas vidas.Ela era o nosso cenário.Eu me lembro de cada coisa 

Tinha o sofá aqui,ali tinha o televisor,em cima do rack grande e lustrado.Ali tinha um vaso grande com alguma planta grande, de mentira.Aqui tinha o tapete,as almofadas.Pra lá a cozinha.Pra lá o corredor e os quartos.Tinha o lavabo.Tinha a escada pro segundo andar.Hoje tudo branco,tudo pintado,tudo pintado.Essa sala nunca teve janela.sala de tv,nem de estar nem de jantar.Lá pra trás tem o bar.Tinha o bar.A mesa onde a gente jogava jogo.Os armários da cozinha já devem ter sido levados.A mesa de vidro,o espelho sobre o balcão das louças.A Tia Anita tinha abajur pra todos os lados.

Onde será que você dança a esta hora da noite camaleoa? Rapte-me camaleoa.Adapte-me pra uma vida boa.Interestelar...

Lá nós tinhamos energia para parir Galáxias!

quarta-feira, 13 de julho de 2011

manifesto

desautomatizar FLUXOS
relocar COLISÕES
gerir PARAGENS
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ressonância do acontecimento


Significado de Ressonância

s.f. Ato ou efeito de ressonar, de repercutir.
Propriedade de aumentar a duração ou a intensidade do som: a ressonância de uma sala.
Modo de transmissão das ondas sonoras por um corpo.
Ruído confuso resultante do prolongamento ou reflexão de um som.
Fig. Repercussão, reação: sua proposta não teve a menor ressonância.
Física. Ressonon.
Grande aumento da amplitude de uma oscilação sob a influência de impulsões regulares de igual frequência.
Ressonância elétrica, fenômeno da mesma natureza, produzido por indução a distância.
Caixa de ressonância, o mesmo que ressonador.
Química Particularidade de certas moléculas orgânicas que não podem ser representadas a não ser por um conjunto de estruturas que diferem pela localização dos elétrons.
Ressonância magnética, método de análise espectroscópica baseada nas transições induzidas entre certos níveis de energia de um átomo, de um íon, de uma molécula, submetidos a um campo magnético.





Significado da Ressonância dos Acontecimentos Vivenciados por Andréia, Cecília, Inácio, Odilon e Rita

Aumento da duração e da intensidade
Ruído confuso resultante do prolongamento de uma situação ou proveniente da reflexão (do pensar sobre a coisa)
Reação a um dado estímulo externo (ou interno)
Grande aumento da amplitude de uma oscilação sob a influência de impulsões regulares de igual frequência, ou seja, repetição que se enerva
Indução a distância, ou seja, o quanto se afetam mesmo quando não diretamente um ao outro
Certas moléculas orgânicas que não podem ser representadas e que ao tentarmos, colocamos o nosso corpo à prova e em exposição
Transições induzidas entre certos níveis de energia ou estados, quer dizer, aquile estado ou local para o qual sou forçado (levado, induzido, estimulado) a ir, mesmo não querendo, mesmo não sabendo

Ressoar >>> verbo de ação.

próximo ensaios

ESTA SEMANA
quarta - cancelado
quinta - 08h30/13h30
sexta - 08h30/13h30
sábado - falta confirmar horário!

PRÓXIMA SEMANA
segunda, terça, quinta e sexta - 08h30/13h30
quarta - 12h/17h

SEMANA FINAL DE JULHO
segunda - 12h/17h

terça, quarta, quinta e sexta - 08h30/13h30

ensaio 50


12/07/11, unirio, sala 604
diogo, flávia, júlia, dominique, nina, marília, fred e vítor.

cheguei um pouco depois. coisas de quem é diabético. quando cheguei os meninos estavam jogando um jogo em que davam a fala (passando o lenço ao interlocutor direto). aproveitando as passagens para estudar o texto com os novos cortes (cenas 1 e 2).

o espaço estava bem reduzido, com limites feitos de tênis.

a júlia chegou e o trabalho sobre os figurinos foi até o fim do ensaio. cada um havia levado um punhado de roupas (sobretudo brancas, mas também algumas nas cores primárias). a júlia foi trocando peça de um com outro e deu nisso ai embaixo).


fotografei essa foto numa sala com paredes pretas. havia pinceladas de cor em cada um, ou em alguns. gosto do jogo com o branco porque descobrimos que no branco há mais brancos do que somente o branco. isso é sugestivo. essa profundeza que acorda apenas com um olhar persistente sobre o mesmo.

gosto, sobretudo, da cor da pele que salta dessa brancura toda. gosto da cor da pele. e de pensar que ela possa se alterar por conta da cena, da energia, dos estados e transbordamentos.

enquanto os meninos montavam essas composições (que serão usadas nos próximos ensaios), eu e flávia conversamos sobre tudo. sobre a nossa falta de história. sobre o porquê de repetirmos certas coisas que não deveriam mais ser repetidas. conversamos, sem saber, sobre como fazer diferença.

como?

eu pergunto a vocês, atores: neste espetáculo, por meio dele, que diferença vocês podem fazer? que diferença vocês querem fazer nascer?

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segunda-feira, 11 de julho de 2011

dramaturgia.

- ‘Andréia, você é sonsa mas a gente te ama mesmo assim !’
- ‘O Caco não fala, só olha.’
- ‘Rita vai arrumar tudo do meu casamento.’
- ‘O que eu tomo ? O que eu compro ? Aonde se compra ? Quanto tempo leva para eu ficar curado ? Me passa uma receita ?’
- ‘a Cecília parece que tem pirú !’
- ‘Inácio sempre mais bem-vestido que o necessário.. lembra daquela festa ?’
- ‘Ela se jogou mesmo ? Não foi um tropeço ?’
- ‘ - Você não consegue parar de falar não, Inácio ?
- Você não consegue parar de sofrer não, Cecília ?’
- ‘Cala a boca, Inácio !’
- ‘Não, gente, vinho não. Olha o Odilon aí. A gente abre uma Minalba.’
- ‘eu só queria que hoje fosse ontem de novo.’
- ‘a gente não precisa compreender tudo, eu disse a ela, mas vamos viver tudo isso porque se não vivermos, então vale a pena estar vivo ?’
- ‘- Não, não tá nada bem. Tô puto com essa minha aparente serenidade. E controle. Eles acham que é riacho mas é tsunami, dessas bem violentas. Tô cansado de manipular as minhas próprias emoções.. não quero ter descaso com o que sinto aqui dentro. Não quero fazer rir toda hora nem ser forte o tempo todo. Parece que se eu desmontar todo mundo desmonta. Eu tenho o controle. Aprendi que preciso manipular emoções corpo voz mente e íntimo. Corpo e voz. Articulação clara e precisão nos movimentos. Acreditei quando me disseram para ser científico com meu próprio peito. Não posso derramar uma única lágrima porque meu personagem só chora quando tá sozinho.’
- ‘ah, foi um dia muito triste. Na verdade, eu acho que sofri muito mais pelo sofrimento de vocês. Eu me sensibilizei mais pela tristeza de quem tava vivo. A tristeza daquela mãe foi surreal ver. Para mim ver aquela mãe sofrendo me deixou muito mais triste.’
- ‘o que era aquela maquiagem ?’
- ‘aqueles insetos todos na cara, no rosto... o diálogo entre o beija-flor e os mosquitos.’
- ‘como a gente ia saber que a gente ia passar o meio da semana com ela ?’
- ‘o difícil do dia do enterro é que ele acaba. E tem o dia seguinte.’
- ‘eu não queria consolar, eu queria ser o consolado.’
- ‘ela era minha amiga e acabou se matando e isso é uma ferida que não se fecha, mas vive com um curativo em cima ?’
- ‘os dragões param sempre do lado esquerdo das pessoas, para conversar direto com o coração’
- ‘no silêncio não é que você não tem nada para dizer, é porque você tem tudo.’
- ‘a minha relação com ela foi tutti-frutti. E eu queria um pouco de chocolate amargo.’
- ‘Pode deixar. A gente faz a partilha. Eu vou ligando de cinco em cinco minutos para te falar quem ficou com o quê.’
- ‘uma coisa que eu aprendi com minha amiga historiadora é que quando não podemos vencer um inimigo, a gente se alia a ele.’
- ‘quando o dragão estiver de castigo, a gente deixa ele na casa do Odilon, que é apertada’
- ‘o dragão é dragoa e gosta dos beatles.’
- ‘o Caco é gay e já deu em cima do Odilon !’
- ‘quando você tiver a minha idade, Inácio...’
- ‘tá querendo enganar quem ? o dragão; só se for...’
- ‘Rita, o Caco já comeu a sua bruschetta ?’
- ‘eu quero esta bacia em que a Tia Anita deu o primeiro banho da Lilla’
- ‘- Ela era feliz !
- Se fosse feliz não teria se matado.’

ensaio 49


11/07/11, unirio, sala 604
diogo, flávia, rafael, gustavo, júlia, fernanda, dominique, nina, marília, fred e vítor


fizemos leituras do texto com cortes nas cenas um e dois. aproveitamos para ler também a cena três, ainda inédita. é inevitável: uma nova cena abre ainda mais aquilo que pode vir a ser cada personagem. conversamos bastante sobre essa revelação de um a um, como vão se manifestando.

reconhecemos que pós-cena três as coisas de fato tenham que ser diferente. os amigos tentam conseguir resolver alguma coisa na busca por explicações. andréia se torna alvo e logo em seguida é a vez de inácio.

a coisa da culpa, realmente, não vai mais rolar. ainda bem.

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sexta-feira, 8 de julho de 2011

ensaio 48

08/07/11, unirio, sala 602
fred, nina, marília, dominique, vítor, flávia, diogo, marina vianna, rodrigo marçal, júlia marini, rafael medeiros, philippe baptiste, fernanda abreu e tamires nascimento.

TEXTO. flávia propôs um trabalho com o texto, apontando momentos específicos, falas específicas. ao mesmo tempo, confesso, eu estou aqui escrevendo esse relatório, vendo o ensaio e também com as mãos e olhos cravadas na dramaturgia, que brotou hoje com uma ideia reveladora e (…)

PANO. com todos nós. ao som de beyoncé, the strokes, rihanna, damien rice e hot chip.

ESPADA. empunhar e neutralizar.

FRAGMENTOS PARA POSSÍVEIS LINGUAGENS

hoje o figurino está mais colorido. mais diverso.

eu. ótimo. falar pra si mesma.

rita enche a sala de objetos. genial. como criar calor?

nina afirma as coisas ao invés de perguntar perplexa. isso é curioso e estranho.

rita e odilon conversam enquanto os três quebram o pau.

rita ping-pong entre odilon e andréia,

patada nos meus amigos

ótimo jogo > usar mais nomes quebrando as falas

ouviu, inácio? diz odilon no meio de sua fala

cecília joga a pelúcia com descuido ao chão

odilon – então eles apareceram.

 

Os meninos realizaram apostas muito interessantes durante o improviso a partir do prólogo, cena um e cena dois. Foram dados os seguintes direcionamentos:

PRÓLOGO

cecília em cena

rita precisa realizar seis entradas e cinco saídas

odilon e andréia entram quantas vezes quiserem, mas é preciso deixar claro que suas entradas e saídas tem alguma relação

inácio não entra no prólogo

cecília pode investir num arroubo da dramaturgia já escrita

cecília deve se afetar com as entradas e saídas

CENA UM

inácio entra com a sua primeira fala, na cena um

investimento num naturalismo da cena, num lugar de ação e comportamento verossímel a nossa lida diária

investimento no discurso do corpo (ações paralelas, intimidades, gestos, toques, encontros > maneiras distintas de se escrever algo que não seja pelo uso do texto, mas sim do corpo)

investimento no andamento da cena, num jogo propositivo e intencional dos gráficos (ora mais rápido, ora num tempo mediano, ora mais devagar > variações)

CENA DOIS

investir na sequência dos acontecimentos, já que a cena não está decorada de maneira muito firme

cada personagem deve estar olhando para um dos outros quatro, sem o olhar, o olhar de todos se visitando o tempo inteiro

“RESULTADO”:

uma improvisação viva
tanto pela imprevisibilidade e jogo na solução dos “problemas”
tanto pelo domínio – cada vez maior – da cena um (a mais trabalhada até agora)
descobertas
muitas descobertas
e um corpo que de fato se permite ser afetado
um corpo capaz de afetar
de surpreender
(em todos vocês).

decorar segunda cena para segunda.

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quinta-feira, 7 de julho de 2011

ensaio 47

07/07/11, unirio, sala 301
diogo, marília, dominique, fred, vítor, flávia, nina, verônica machado e tamires nascimento.

LONGA CONVERSA DE UMA HORA E CATORZE MINUTOS.

PANO. com diogo e flávia.

PRIMEIRA CENA.

posições no espaço;

nas quatro cadeiras;

composição:

UMA PROPOSTA DE ESPAÇO
UMA PROPOSTA DE FIGURINO
DUAS PROPOSTAS DE ANDAMENTOS DIFERENTES PARA O TEXTO
UMA IMAGEM ESTÁTICA
UMA REVELAÇÃO
UMA LÁGRIMA
UMA RISADA
UMA REPETIÇÃO DO TEXTO
UM ESTRANHAMENTO COLETIVO

descrição da composição:

os meninos chegam bem vestidos. parece fazer frio onde estão. todos usam sapatos. e isso faz toda a diferença. as roupas são de cores fechadas, mas compostas. há sobreposições, cintos, cachecóis, camisas sobrepostas, meias expostas. no entanto, alguns pontos muito miúdos de cor super aparecem. por exemplo: um copo plástico vermelho que passa, sutilmente, de mão em mão (sem a obrigação de passar por todos). a mochila azul que a cecília usa. o detalhe da marca opção – vermelho – na calça de odilon. as cores todas aparecem muito quando não há cor no geral. eles se espremem dentro de um recorte retangular e pequeno feio com uma marca de uma fita crepe hoje já extinta. eles se movem sem sentido. eles se perfuram e atravessam, eles não conseguem ficar parados. mas ficam. mas voltam a se mover. apostas interessantes que dão ao texto outros significados. exemplo: na hora em que traz a pelúcia, cecília tira sua camisa e fica de sutiã. colocando a camisa estendida no chão. os meninos então saem de dentro da fita crepe e agora a área por ela demarcada vira justamente o espaço no qual eles não entram. é interessante o uso do andamento e da repetição. pequenas repetições de trechos grandes ou apenas um frase provocam de imediato uma intensificação da coisa dita. é também muito interessante o texto sendo derramado, literalmente, sem preocupação de que o sentido acompanhe o sair de toda a fala. não importa. num dado momento, é nítida a aposta num andamento mais lento, como se as palavras custassem a sair, eu poderia dizer como se fosse duro e penoso falar do que está sendo falado. mas eu não me lembro o que foi falado, apesar de conservar a sensação de estarem os cinco andando sobre cacos de vidro. lembro da bota da cecília pisando lenta no chão. os limites de crepe sendo confrontados. sobretudo, me lembro de quanta coisa além-texto foi expressada quando se percebe que há outros meios de expressão que não somente a fala. é o corpo, o olhar, o gesto, a expressão facial. eles têm intimidade e a intimidade escorre por todo o lugar. ser íntimo é ser invisível. em virtude do jogo, do se colocar em experiência, o texto por vezes se atualiza e isso é fundamental. falas mais ágeis por vezes funcionam melhor. frases mais lentas, só quando intencionalmente desenhadas dentro de uma proposta (pouco individual) mais coletiva também funcionam. experiência. excelente aproveitamento da composição para libertação dentro do texto. quando mais ele estiver firme e entendido, mas poderosa será a sua transformação, as alterações de tempo e intenção.

PREPARAÇÃO VOCAL. com verônica machado.

ganho de peso. densidade. dor. em todas as vozes.

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