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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

As invasões.

Acabo de ver 'As invasões bárbaras'. Queria escrever aqui a minha admiração em ver um filme lindo e leve (e pq não engraçado ?) e que, ainda assim, fala de morte. Insisto em dizer que não é pq alguém morreu ou vai morrer que toda a atmosfera tem que ser sombria e pesada. Vendo os extras do filme, o diretor disse que "rescussitou" os personagens de "o declínio do império americano" pois estes personagens traziam a ironia, o sarcasmo, a alegria e leveza necessários para se falar de uma outra questão (agora importante a Arcand): a morte ou quando se quer dar um ponto final na própria vida. Segundo o diretor, foram várias as tentativas de se falar sobre a morte e em todos os roteiros havia algo de soturno e pesado que ele tentava lutar contra. E só conseguiu trazer a leveza necessária trazendo de volta aquele grupo de amigos.

Tenho a estranha sensação que "o declínio do império americano" só serviu para dar vida, 15 anos depois, ao outro filme. A importância de um, para mim, está em gerar o outro. Mesmo que isso não fosse meticulosmente pensado. Minhas questões acerca do primeiro filme se resolvem quando eu vejo o outro em sequência.

Enfim, deste filme o que fica para mim: vamos falar de morte mas pode ser legal, leve, engraçado.. óbvio que existem momentos e momentos mas até 'naqueles momentos' podemos rir do nosso infortúnio. Também somos um grupo de amigos. Também há um morte que nos ronda. Mas também podemos ser cínicos, irônicos, sexuais, inteligentes e perspicazes.

;)

domingo, 27 de fevereiro de 2011

STALKER, Tarkovsky


caramba, que filme.
caramba, que papel esse o nosso.

 
 

eu me apropriaria de uma fala do filme e a dirigiria aos nossos espectadores:

let everything that's been planed come true
let them believe
and let them have laugh at their passions
because what they call passion actually is not some emotional energy
but just the friction between their souls and the outside world
and most important
let them believe in themselves
let them be helpless like children
because weakness is a great thing
and strength is nothing



 o filme me atravessa porque não remói o perdido. constrói por sobre.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

12 Homens e uma sentença

Acabo de ver o filme.
Incrível visualizar a situação que se apresenta começada.Se entendermos que o julgamento é uma história em si, o filme começa no final de uma história.Mas ele mesmo é um incrível mundo a parte.
Num cenário simples (12 homens sentados ao redor de uma mesa) sobra a beleza dos detalhes trazidos por cada personagem e pelo desenrolar do discurso,da ação.
É impressionante a dificuldade em assumir o compromisso de encarar a realidade:é preciso lidar com a decisão sobre a vida de um homem.
Como é atual.
Acho que a época do filme é essencial para a condução de seu discurso.Só uma sociedade que ainda responde por valores morais(não que nós não respondamos,mas acho que há uma diferença de tom/intensidade) poderia expor tão explicitamente o medo,o preconceito,a falta de responsabilidade e interação com o outro e com a realidade.(Nossa,soa tão patrulha da moral e dos bons costumes...difícil se fazer compreender...)
Acho que se este filme fosse filmado nos dias de hoje todos votariam culpado e o filme mostraria a questão voltando na vida de cada personagem fora da corte.Sei lá...
Tenho a sensação de que as pessoas hoje não reagem tão de pronto quando alguém grita com um senhor de idade.Não há mais tanto constrangimento em dizer foda-se.Não se cai em si tão facilmente por que se foi escroto.
Nossa,que difícil comentar um filme...
Os personagens são fantásticos.Fico pensando se o dragão é a realidade de ter que dar uma sentença que decide sobre a vida de um homem ou todos que votaram culpado ou o que votou inocente.São filhotes de dragões diferentes?Talvez.
Nós temos que enfrentar a realidade do suicídio de uma amiga que foi atravessada.É tão mais amplo que ter que dar o veredito...
Bem,vou assistir Festa de Família...volto já...

ps:Peguei na locadora hj,por uma semana: 12 Homens e 1 sentença, Festa de Família, As Invasões Bárbaras e Stalker.Se alguém quizer combinar algo,tamos aqui.É só dar um alô.

O dragão do CAIO, ou de algum de nós também.

"Os dragões não conhecem o paraíso

Tenho um dragão que mora comigo.

Não, isso não é verdade.

Não tenho nenhum dragão. E, ainda que tivesse, ele não moraria comigo nem com ninguém. Para os dragões, nada mais inconcebível que dividir seu espaço - seja com outro dragão, seja com uma pessoa banal feito eu. Ou invulgar, como imagino que os outros devam ser. Eles são solitários, os dragões. Quase tão solitários quanto eu me encontrei, sozinho neste apartamento, depois de sua partida. Digo quase porque, durante aquele tempo em que ele esteve comigo, alimentei a ilusão de que meu isolamento para sempre tinha acabado. E digo ilusão porque, outro dia, numa dessas manhãs áridas da ausência dele, felizmente cada vez menos freqüentes (a aridez, não a ausência), pensei assim: Os homens precisam da ilusão do amor da mesma forma que precisam da ilusão de Deus. Da ilusão do amor para não afundarem no poço horrível da solidão absoluta; da ilusão de Deus, para não se perderem no caos da desordem sem nexo.

Isso me pareceu gradiloqüente e sábio como uma idéia que não fosse minha, tão estúpidos costumam ser meus pensamentos. E tomei nota rapidamente no guardanapo do bar onde estava. Escrevi também mais alguma coisa que ficou manchada pelo café. Até hoje não consigo decifrá-la. Ou tenho medo da minha - felizmente indecifrável - lucidez daquele dia.

Estou me confundindo, estou me dispersando.

O guardanapo, a frase, a mancha, o medo - isso deve vir mais tarde. Todas essas coisas de que falo agora - as particularidades dos dragões, a banalidade das pessoas como eu -, só descobri depois. Aos poucos, na ausência dele, enquanto tentava compreendê-lo. Cada vez menos para que minha compreensão fosse sedutora, e cada vez mais para que essa compreensão ajudasse a mim mesmo a. Não sei dizer. Quando penso desse jeito, enumero proposições como: a ser uma pessoa menos banal, a ser mais forte, mais seguro, mais sereno, mais feliz, a navegar com um mínimo de dor. Essas coisas todas que decidimos fazer ou nos tornar quando algo que supúnhamos grande acaba, e não há nada a ser feito a não ser continuar vivendo.

Então, que seja doce. Repito todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol ou o cinza dos dias, bem assim: que seja doce. Quando há sol, e esse sol bate na minha cara amassada do sono ou da insônia, contemplando as partículas de poeira soltas no ar, feito um pequeno universo, repito sete vezes para dar sorte: que seja doce que seja doce que seja doce e assim por diante.
Mas, se alguém me perguntasse o que deverá ser doce, talvez não saiba responder. Tudo é tão vago como se não fosse nada.

Ninguém perguntará coisa alguma, penso. Depois continuo a contar para mim mesmo, como se fosse ao mesmo tempo o velho que conta e a criança que escuta, sentado no colo de mim. Foi essa a imagem que me veio hoje pela manhã quando, ao abrir a janela, decidi que não suportaria passar mais um dia sem contar esta história de dragões. Consegui evitá-la até o meio da tarde. Dói, um pouco. Não mais uma ferida recente, apenas um pequeno espinho de rosa, coisa assim, que você tenta arrancar da palma da mão com a ponta de uma agulha. Mas, se você não consegue extirpá-lo, o pequeno espinho pode deixar de ser uma pequena dor para se transformar numa grande chaga.

Assim, agora, estou aqui. Ponta fina de agulha equilibrada entre os dedos da mão direita, pairando sobre a palma aberta da mão esquerda. Algumas anotações em volta, tomadas há muito tempo, o guardanapo de papel do bar, com aquelas palavras sábias que não parecem minhas e aquelas outras, manchadas, que não consigo ou não quero ou finjo não poder decifrar.

Ainda não comecei.

Queria tanto saber dizer Era uma vez. Ainda não consigo.

Mas preciso começar de alguma forma. E esta, enfim, sem começar propriamente, assim confuso, disperso, monocórdio, me parece um jeito tão bom ou mau quanto qualquer outro de começar uma história. Principalmente se for uma história de dragões.

Gosto de dizer tenho um dragão que mora comigo, embora não seja verdade. Como eu dizia, um dragão jamais pertence a, nem mora com alguém. Seja uma pessoa banal igual a mim, seja unicórnio, salamandra, harpia, elfo, hamadríade, sereia ou ogro. Duvido que um dragão conviva melhor com esses seres mitológicos, mais semelhantes à natureza dele, do que com um ser humano. Não que sejam insociáveis. Pelo contrário, às vezes um dragão sabe ser gentil e submisso como uma gueixa. Apenas, eles não dividem seus hábitos.

Ninguém é capaz de compreender um dragão. Eles jamais revelam o que sentem.
Quem poderia compreender, por exemplo, que logo ao despertar (e isso pode acontecer em qualquer horário, às três ou às onze da noite, já que o dia e a noite deles acontecem para dentro, mas é mais previsível entre sete e nove da manhã, pois essa é a hora dos dragões) sempre batem a cauda três vezes, como se tivessem furiosos, soltando fogo pelas ventas e carbonizando qualquer coisa próxima num raio de mais de cinco metros? Hoje, pondero: talvez seja essa a sua maneira desajeitada de dizer, como costumo dizer agora, ao despertar - que seja doce.

Mas no tempo em que vivia comigo, eu tentava - digamos - adaptá-lo às circunstâncias. Dizia por favor, tente compreender, querido, os vizinho banais do andar de baixo já reclamaram da sua cauda batendo no chão ontem às quatro da madrugada. O bebê acordou, disseram, não deixou ninguém mais dormir. Além disso, quando você desperta na sala, as plantas ficam todas queimadas pelo seu fogo. E, quanto você desperta no quarto, aquela pilha de livros vira cinzas na minha cabeceira.

Ele não prometia corrigir-se. E eu sei muito bem como tudo isso parece ridículo. Um dragão nunca acha que está errado. Na verdade, jamais está.
Tudo que faz, e que pode parecer perigoso, excêntrico ou no mínimo mal-educado para um humano igual a mim, é apenas parte dessa estranha natureza dos dragões. Na manhã, na tarde ou na noite seguintes, quanto ele despertasse outra vez, novamente os vizinhos reclamariam e as prímulas amarelas e as begônias roxas e verdes, e Kafka, Salinger, Pessoa, Clarice e Borges a cada dia ficariam mais esturricados. Até que, naquele apartamento, restássemos eu e ele entre as cinzas. Cinzas são como sedas para um dragão, nunca para um humano, porque a nós lembra destruição e morte, não prazer. Eles trafegam impunes, deliciados, no limiar entre essa zona oculta e a mais mundana. O que não podemos compreender, ou pelo menos aceitar.

Além de tudo: eu não o via.
Os dragões são invisíveis, você sabe. Sabe? Eu não sabia. Isso é tão lento, tão delicado de contar - você ainda tem paciência? Certo, muito lógico você querer saber como, afinal, eu tinha tanta certeza da existência dele, se afirmo que não o via. Caso você dissesse isso, ele riria. Se, como os homens e as hienas, os dragões tivessem o dom ambíguo do riso. Você o acharia talvez irônico, mas ele estaria impassível quanto perguntasse assim: mas então você só acredita naquilo que vê? Se você dissesse sim, ele falaria em unicórnios, salamandras, harpias, hamadríades, sereias e ogros. Talvez em fadas também, orixás quem sabe? Ou átomos, buracos negros, anãs brancas, quasars e protozoários. E diria, com aquele ar levemente pedante: "Quem só acredita no visível tem um mundo muito pequeno. Os dragões não cabem nesses pequenos mundos de paredes invioláveis para o que não é visível".

Ele gostava tanto dessas palavras que começam com in - invisível, inviolável, incompreensível -, que querem dizer o contrário do que deveriam. Ele próprio era inteiro o oposto do que deveria ser. A tal ponto que, quando o percebia intratável, para usar uma palavra que ele gostaria, suspeitava-o ao contrário: molhado de carinho. Pensava às vezes em tratá-lo dessa forma, pelo avesso, para que fôssemos mais felizes juntos. Nunca me atrevi. E, agora que se foi, é tarde demais para tentar requintadas harmonias.

Ele cheirava a hortelã e alecrim. Eu acreditava na sua existência por esse cheiro verde de ervas esmagadas dentro das duas palmas das mãos. Havia outros sinais, outros augúrios. Mas quero me deter um pouco nestes, nos cheiros, antes de continuar. Não acredite se alguém, mesmo alguém que não tenha um mundo pequeno, disser que os dragões cheiram a cavalos depois de uma corrida, ou a cachorros das ruas depois da chuva. A quartos fechados, mofo, frutas podres, peixe morto e maresia - nunca foi esse o cheiro dos dragões.

A hortelã e alecrim, eles cheiram. Quando chegava, o apartamento inteiro ficava impregnado desse perfume. Até os vizinhos, aqueles do andar de baixo, perguntavam se eu andava usando incenso ou defumação. Bem, a mulher perguntava. Ela tinha uns olhos azuis inocentes. O marido não dizia nada, sequer me cumprimentava. Acho que pensava que era uma dessas ervas de índio que as pessoas costumam fumar quando moram em apartamentos, ouvindo música muito alto. A mulher dizia que o bebê dormia melhor quando esse cheiro começava a descer pelas escadas, mais forte de tardezinha, e que o bebê sorria, parecendo sonhar. Sem dizer nada, eu sabia que o bebê sonhava com dragões, unicórnios ou salamandras, esse era um jeito do seu mundo ir-se tornando aos poucos mais largo. Mas os bebês costumam esquecer dessas coisas quanto deixam de ser bebês, embora possuam a estranha facilidade de ver dragões - coisa que só os mundos muito largos conseguem.

Eu aprendi o jeito de perceber quando o dragão estava a meu lado. Certa vez, descemos juntos pelo elevador com aquela mulher de olhos-azuis-inocentes e seu bebê, que também tinha olhos-azuis-inocentes. O bebê olhou o tempo todo para onde estava o dragão. Os dragões param sempre do lado esquerdo das pessoas, para conversar direto com o coração. O ar a meu lado ficou leve, de uma coloração vagamente púrpura. Sinal que ele estava feliz. Ele, o dragão, e também o bebê, e eu, e a mulher, e a japonesa que subiu no sexto andar, e um rapaz de barba no terceiro. Sorríamos suaves, meio tolos, descendo juntos pelo elevador numa tarde que lembro de abril - esse é o mês dos dragões - dentro daquele clima de eternidade fluida que apenas os dragões, mas só às vezes, sabem transmitir.

Por situações como essa, eu o amava. E o amo ainda, quem sabe mesmo agora, quem sabe mesmo sem saber direito o significado exato dessa palavra seca - amor. Se não o tempo todo, pelo menos quanto lembro de momentos assim. Infelizmente, raros. A aspereza e avesso parecem ser mais constantes na natureza dos dragões do que a leveza e o direito. Mas queria falar de antes do cheiro. Havia outros sinais, já disse. Vagos, todos eles.

Nos dias que antecediam a sua chegada, eu acordava no meio da noite, o coração disparado. As palmas das mãos suavam frio. Sem saber porque, nas manhãs seguintes, compulsivamente eu começava a comprar flores, limpar a casa, ir ao supermercado e à feira para encher o apartamento de rosas e palmas e morangos daqueles bem gordos e cachos de uvas reluzentes e berinjelas luzidias (os dragões, descobri depois, adoram contemplar berinjelas) que eu mesmo não conseguia comer. Arrumava em pratos, pelos cantos, com flores e velas e fitas, para que os espaços ficassem mais bonito.

Como uma fome, me dava. Mas uma fome de ver, não de comer. Sentava na sala toda arrumada, tapete escovado, cortinas lavadas, cestas de frutas, vasos de flores - acendia um cigarro e ficava mastigando com os olhos a beleza das coisas limpas, ordenadas, sem conseguir comer nada com a boca, faminto de ver. À medida que a casa ficava mais bonita, eu me tornava cada vez mais feio, mais magro, olheiras fundas, faces encovadas. Porque não conseguia dormir nem comer, à espera dele. Agora, agora vou ser feliz, pensava o tempo todo numa certeza histérica. Até que aquele cheiro de alecrim, de hortelã, começasse a ficar mais forte, para então, um dia, escorregar que nem brisa por baixo da porta e se instalar devagarzinho no corredor de entrada, no sofá da sala, no banheiro, na minha cama. Ele tinha chegado.

Esses ritmos, só descobri aos poucos. Mesmo o cheiro de hortelã e alecrim, descobri que era exatamente esse quando encontrei certas ervas numa barraca de feira. Meu coração disparou, imaginei que ele estivesse por perto. Fui seguindo o cheiro, até me curvar sobre o tabuleiro para perceber: eram dois maços verdes, a hortelã de folhinhas miúdas, o alecrim de hastes compridas com folhas que pareciam espinhos, mas não feriam. Pergunte o nome, o homem disse, eu não esqueci. Por pura vertigem, nos dias seguintes repetia quanto sentia saudade: alecrim hortelã alecrim hortelã alecrim hortelã alecrim.

Antes, antes ainda, o pressentimento de sua visita trazia unicamente ansiedade, taquicardias, aflição, unhas roídas. Não era bom. Eu não conseguia trabalhar, ira ao cinema, ler ou afundar em qualquer outra dessas ocupações banais que as pessoas como eu têm quando vivem. Só conseguia pensar em coisas bonitas para a casa, e em ficar bonito eu mesmo para encontrá-lo. A ansiedade era tanta que eu enfeiava, à medida que os dias passavam. E, quando ele enfim chegava, eu nunca tinha estado tão feio. Os dragões não perdoam a feiúra. Menos ainda a daqueles que honram com sua rara visita.

Depois que ele vinha, o bonito da casa contrastando com o feio do meu corpo, tudo aos poucos começava a desabar. Feito dor, não alegria. Agora agora agora vou ser feliz, eu repetia: agora agora agora. E forçava os olhos pelos cantos de prata esverdeadas, luz fugidia, a ponta em seta de sua cauda pela fresta de alguma porta ou fumaça de suas narinas, sempre mau, e a fumaça, negra. Naqueles dias, enlouquecia cada vez mais, querendo agora já urgente ser feliz. Percebendo minha ânsia, ele tornava-se cada vez mais remoto. Ausentava-se, retirava-se, fingia partir. Rarefazia seu cheiro de ervas até que não passasse de uma suspeita verde no ar. Eu respirava mais fundo, perdia o fôlego no esforço de percebê-lo, dias após dia, enquanto flores e frutas apodreciam nos vasos, nos cestos, nos cantos. Aquelas mosquinhas negras miúdas esvoaçavam em volta delas, agourentas.

Tudo apodrecia mais e mais, sem que eu percebesse, doído do impossível que era tê-lo. Atento somente à minha dor, que apodrecia também, cheirava mal. Então algum dos vizinhos batia à porta para saber se eu tinha morrido e sim, eu queria dizer, estou apodrecendo lentamente, cheirando mal como as pessoas banais ou não cheiram quando morrem, à espera de uma felicidade que não chega nunca. Ele não compreenderia. Eu não compreendia, naqueles dias - você compreende?

Os dragões, já disse, não suportam a feiúra. Ele partia quando aquele cheiro de frutas e flores e, pior que tudo, de emoções apodrecidas tornava-se insuportável. Igual e confundido ao cheiro da minha felicidade que, desta e mais uma vez, ele não trouxera. Dormindo ou acordado, eu recebia sua partida como um súbito soco no peito. Então olhava para cima, para os lados, à procura de Deus ou qualquer coisa assim - hamadríades, arcanjos, nuvens radioativas, demônios que fossem. Nunca os via. Nunca via nada além das paredes de repente tão vazias sem ele.
Só quem já teve um dragão em casa pode saber como essa casa parece deserta depois que ele parte. Dunas, geleiras, estepes. Nunca mais reflexos esverdeados pelos cantos, nem perfume de ervas pelo ar, nunca mais fumaças coloridas ou formas como serpentes espreitando pelas frestas de portas entreabertas. Mais triste: nunca mais nenhuma vontade de ser feliz dentro da gente, mesmo que essa felicidade nos deixe com o coração disparado, mãos úmidas, olhos brilhantes e aquela fome incapaz de engolir qualquer coisa. A não ser o belo, que é de ver, não de mastigar, e por isso mesmo também uma forma de desconforto. No turvo seco de uma casa esvaziada da presença de um dragão, mesmo voltando a comer e a dormir normalmente, como fazem as pessoas banais, você não sabe mais se não seria preferível aquele pântano de antes, cheio de possibilidades - que não aconteciam, mas que importa? - a esta secura de agora. Quando tudo, sem ele, é nada.

Hoje, acho que sei. Um dragão vem e parte para que seu mundo cresça? Pergunto - porque não estou certo - coisas talvez um tanto primárias, como: um dragão vem e parte para que você aprenda a dor de não tê-lo, depois de ter alimentado a ilusão de possuí-lo? E para, quem sabe, que os humanos aprendam a forma de retê-lo, se ele um dia voltar?

Não, não é assim. Isso não é verdade.

Os dragões não permanecem. Os dragões são apenas a anunciação de si próprios. Eles se ensaiam eternamente, jamais estréiam. As cortinas não chegam a se abrir para que entrem em cena. Eles se esboçam e se esfumam no ar, não se definem. O aplauso seria insuportável para eles: a confirmação de que sua inadequação é compreendida e aceita e admirada, e portanto - pelo avesso igual ao direito - incompreendida, rejeitada, desprezada. Os dragões não querem ser aceitos. Eles fogem do paraíso, esse paraíso que nós, as pessoas banais, inventamos - como eu inventava uma beleza de artifícios para esperá-lo e prendê-lo para sempre junto a mim. Os dragões não conhecem o paraíso, onde tudo acontece perfeito e nada dói nem cintila ou ofega, numa eterna monotonia de pacífica falsidade. Seu paraíso é o conflito, nunca a harmonia.
Quando volto apensar nele, nestas noites em que dei para me debruçar à janela procurando luzes móveis pelo céu, gosto de imaginá-lo voando com suas grandes asas douradas, solto no espaço, em direção a todos os lugares que é lugar nenhum. Essa é sua natureza mais sutil, avessa às prisões paradisíacas que idiotamente eu preparava com armadilhas de flores e frutas e fitas, quando ele vinha. Paraísos artificiais que apodreciam aos poucos, paraíso de eu mesmo - tão banal e sedento - a tolerar todas as suas extravagâncias, o que devia lhe soar ridículo, patético e mesquinho. Agora apenas deslizo, sem excessivas aflições de ser feliz.

As manhãs são boas para acordar dentro delas, beber café, espiar o tempo. Os objetos são bons de olhar para eles, sem muitos sustos, porque são o que são e também nos olham, com olhos que nada pensam. Desde que o mandei embora, para que eu pudesse enfim aprender a grande desilusão do paraíso, é assim que sinto: quase sem sentir.

Resta esta história que conto, você ainda está me ouvindo? Anotações soltas sobre a mesa, cinzeiros cheios, copos vazios e este guardanapo de papel onde anotei frases aparentemente sábias sobre o amor e Deus, com uma frase que tenho medo de decifrar e talvez, afinal, diga apenas qualquer coisa simples feito: nada disso existe.

Nada, nada disso existe.

Então quase vomito e choro e sangro quando penso assim. Mas respiro fundo, esfrego as palmas das mãos, gero energia em mim. Para manter-me vivo, saio à procura de ilusões como o cheiro das ervas ou reflexos esverdeados de escamas pelo apartamento e, ao encontrá-los, mesmo apenas na mente, tornar-me então outra vez capaz de afirmar, como num vício inofensivo: tenho um dragão que mora comigo. E, desse jeito, começar uma nova história que, desta vez sim, seria totalmente verdadeira, mesmo sendo completamente mentira. Fico cansado do amor que sinto, e num enorme esforço que aos poucos se transforma numa espécie de modesta alegria, tarde da noite, sozinho neste apartamento no meio de uma cidade escassa de dragões, repito e repito este meu confuso aprendizado para a criança-eu-mesmo sentada aflita e com frio nos joelhos do sereno velho-eu-mesmo:

- Dorme, só existe o sonho. Dorme, meu filho. Que seja doce.

Não, isso também não é verdade."

( Caio Fernado Abreu - "Os Dragões não conhecem o paraíso")


E nós,
como cavalgar um dragão??


quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Dragões - Wikipédia

Dragões ou dragos (do grego drákon, δράκων) são criaturas presentes na mitologia dos mais diversos povos e civilizações. São representados como animais de grandes dimensões, normalmente de aspecto reptiliano (semelhantes a imensos lagartos ou serpentes), muitas vezes com asas, plumas, poderes mágicos ou hálito de fogo. A palavra dragão é originária do termo grego drakôn, usado para definir grandes serpentes.
Em vários mitos eles são apresentados literalmente como grandes serpentes, como eram inclusive a maioria dos primeiros dragões mitológicos, e em suas formações quiméricas mais comuns. A variedade de dragões existentes em histórias e mitos é enorme, abrangendo criaturas bem mais diversificadas. Apesar de serem presença comum no folclore de povos tão distantes como chineses ou europeus, os dragões assumem, em cada cultura, uma função e uma simbologia diferentes, podendo ser fontes sobrenaturais de sabedoria e força, ou simplesmente feras destruidoras.

Dragões ao redor do mundo

A imagem mais conhecida dos dragões é a oriunda das lendas europeias (celta/escandinava/germânica) mas a figura é recorrente em quase todas as civilizações antigas. Talvez o dragão seja um símbolo chave das crenças primitivas, como os fantasmas, zumbis e outras criaturas que são recorrentes em vários mitos de civilizações sem qualquer conexão entre si.
Há a presença de mitos sobre dragões em diversas outras culturas ao redor do planeta, dos dragões com formas de serpentes e crocodilos da Índia até as serpentes emplumadas adoradas como deuses pelos astecas, passando pelos grandes lagartos da Polinésia e por diversos outros, variando enormemente em formas, tamanhos e significados.
O escritor grego Filóstrato, dedicou uma extensa passagem da sua obra Vida de Apolônio de Tiana aos dragões da Índia (livro III, capítulos VI, VII e VIII). Forneceu informações muito detalhadas sobre esses dragões.

[editar] Dragões no Médio Oriente

No Médio Oriente os dragões eram vistos geralmente como encarnações do mal. A mitologia persa cita vários dragões como Azi Dahaka que atemorizava os homens, roubava seu gado e destruía florestas.(e que provavelmente foi uma alegoria mística da opressão que a Babilônia exerceu sobre a Pérsia na antiguidade clássica). Os dragões da cultura persa, de onde aparentemente se originou a ideia de grandes tesouros guardados por eles e que poderiam ser tomados por aqueles que o derrotassem, hoje tema tão comum em histórias fantásticas.

[editar] Dragões na Mesopotâmia

Na antiga Mesopotâmia também havia essa associação de dragões com o mal e o caos. Os dragões dos mitos sumérios, por exemplo, frequentemente cometiam grandes crimes, e por isso acabavam punidos pelos deuses — como Zu, um deus-dragão sumeriano das tempestades, que em certa ocasião teria roubado as pedras onde estavam escritas as leis do universo, e por tal crime acabou sendo morto pelo deus-sol Ninurta. E no Enuma Elish, épico babilônico que conta a criação do mundo, também há uma forte presença de dragões, sobretudo na figura de Tiamat. No mito, a dracena (ou dragã-fêmea) Tiamat, apontada por diversos autores como uma personificação do oceano, e seu consorte mitológico Apsu, considerado como uma personificação das águas doces sob a terra, unem-se e dão à luz os diversos deuses mesopotâmicos. Apsu, no entanto, não conseguia descansar na presença de seus rebentos, e decide destruí-los, mas é morto por Ea, um de seus filhos. Para vingar-se, Tiamat cria um exército de monstros, dentre os quais 11 que são considerados dragões, e prepara um ataque contra os jovens deuses. Liderados pelo mais jovem entre eles, Marduk, que mais tarde se tornaria o principal deus do panteão babilônico, os deuses vencem a batalha e se consolidam como senhores do universo. Do corpo morto de Tiamat são criados o céu e a terra, enquanto do sangue do principal general do seu exército, Kingu, é criada a humanidade. O Dragão de Mushussu é subjugado por Marduk, se tornando seu guardião e símbolo de poder.

[editar] Dragões nas lendas orientais

Um dragão vietnamita.
Na China, a presença de dragões na cultura é anterior mesmo à linguagem escrita e persiste até os dias de hoje, quando o dragão é considerado um símbolo nacional chinês. Na cultura chinesa antiga, os dragões possuíam um importante papel na previsão climática, pois eram considerados como os responsáveis pelas chuvas. Assim, era comum associar os dragões com a água e com a fertilidade nos campos, criando uma imagem bastante positiva para eles, mesmo que ainda fossem capazes de causar muita destruição quando enfurecidos, criando grandes tempestades. As formas quiméricas do dragão Lung chinês, que misturam partes de diversos animais, também influenciaram diversos outros dragões orientais, como o Tatsu japonês.
Nos mitos do extremo oriente os dragões geralmente desempenham funções superiores a de meros animais mágicos, muitas vezes ocupando a posição de deuses. Na mitologia chinesa os dragões chamam-se long e dividem-se em quatro tipos: celestiais, espíritos da terra, os guardiões de tesouros e os dragões imperiais. O dragão Yuan-shi tian-zong ocupa uma das mais altas posições na hierarquia divina do taoísmo. Ele teria surgido no princípio do universo e criado o céu e a terra.
Nas lendas japonesas os dragões desempenham papel divino semelhante. O dragão Ryujin, por exemplo, era considerado o deus dos mares e controlava pessoalmente o movimento das marés através de jóias mágicas.

[editar] Dragões na Bíblia

Representação do dragão como um ser demoníaco nas culturas religiosas europeias.
Os dragões segundo a cultura cristã, são aqueles que mais influenciaram a nossa visão contemporânea dos dragões.
Muito da visão dos cristãos a respeito de dragões é herdado das culturas do médio oriente e do ocidente antigo, como uma relação bastante forte entre os conceitos de dragão e serpente (muitos dragões da cultura cristã são vistos como simples serpentes aladas, as vezes também com patas), e a associação dos mesmos com o mal e o caos.
De acordo com o Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, no Antigo Testamento, dragões tipificam os inimigos do povo de Deus, como em Ezequiel 29:3. Ao fazer isso, associa-se a ideia das mitologias de povos próximos, para dar maior entendimento aos israelitas. É por isso que a Septuaginta, na sua narrativa da história de Moisés, traduz "serpente" por "dragão", para dar maior glória à ação de Deus (Êxodo 7:9-12).
Há ainda, no antigo testamento, no Livro de Jó 41:18-21, a seguinte descrição:
18 Os seus espirros fazem resplandecer a luz, e os seus olhos são como as pestanas da alva.
19 Da sua boca saem tochas; faíscas de fogo saltam dela.
20 Dos seus narizes procede fumaça, como de uma panela que ferve, e de juncos que ardem.
21 O seu hálito faz incender os carvões, e da sua boca sai uma chama.
Em Isaías 30:6, há citado um "áspide ardente voador" (versão ARC), junto com outros animais, para ilustrar a terra para onde os israelitas serão levados, pois o contexto do capítulo é sobre a repreensão deles. No Novo Testamento, acha-se apenas no Apocalipse de São João, utilizado como símbolo de satanás.
O Leviatã, a serpente/crocodilo cuspidora de fumaça do livro de , também é considerado um dragão bíblico, embora não seja apresentado como um ser maligno e sim como uma criação de YHWH (Iavé, nome do deus da Bíblia). Os dragões nas histórias cristãs acabaram por adotar esta imagem de maldade e crueldade, sendo como representações do mal e da destruição.
O caso do mais célebre dragão cristão é aquele que foi morto por São Jorge, que se banqueteava com jovens virgens até ser derrotado pelo cavaleiro. Esta história também acabou dando origem a outro clássico tema de histórias de fantasia: o nobre cavaleiro que enfrenta um vil dragão para salvar uma princesa.

[editar] Dragões na América pré-colombiana

Os dragões aparecem mais raramente nos mitos dos nativos americanos, mas existem registros históricos da crença em criaturas "draconídeas".
Um dos principais deuses das civilizações do golfo do México era Quetzalcoatl, uma serpente alada. Nos mitos da tribo Chincha do Peru, Mama Pacha, a deusa que zelava pela colheita e plantio, era às vezes descrita como um dragão que causava terremotos.
O mítico primeiro chefe da tribo Apache (que, segundo a lenda, chamava-se Apache ele próprio) duelou com um dragão usando arco e flecha. O dragão da lenda usava como arco um enorme pinheiro torcido para disparar árvores jovens como flechas. Disparou quatro flechas contra o jovem, que conseguiu se desviar de todas. Em seguida foi alvejado por quatro flechas de Apache e morreu.
No folclore brasileiro existe o Boitatá, uma cobra gigantesca que cospe fogo e defende as matas daqueles que as incendeiam.

[editar] Dragões nas lendas européias

Um dragão em uma tapeçaria medieval.
No ocidente, em geral, predomina a idéia de dragão como um ser maligno e caótico, mesmo que não seja necessariamente esta a situação de todos eles. Nos mitos europeus a figura do dragão aparece constantemente, mas na maior parte das vezes é descrito como mera besta irracional, em detrimento do papel divino/demoníaco que recebia no oriente.
A visão negativa de dragões é bem representada na lenda nórdica ou germânica de Siegfried e Fafnir, em que o anão Fafnir acaba se transformando em um dragão justamente por sua ganância e cobiça durante sua batalha final contra o herói Siegfried. Nesta mesma lenda também pode ser visto um traço comum em histórias fantásticas de dragões, as propriedades mágicas de partes do seu corpo: na história, após matar Fafnir, Siegfried assou e ingeriu um pouco do seu coração, e assim ganhou a habilidade de se comunicar com animais.
Serpentes marinhas como Jormungand, da mitologia nórdica, era o pesadelo do Vikings; por outro lado, a proa de seus navios eram entalhadas com um dragão para espantá-lo.
Na mitologia grega, também é comum ver os dragões como adversários mitológicos de grandes heróis, como Hércules ou Perseu. De acordo com uma lenda da mitologia grega, o herói Cadmo mata um dragão que havia devorado seus liderados. Em seguida, a deusa Atena apareceu no local e aconselhou Cadmo a extrair e enterrar os dentes do dragão. Os dentes "semeados" deram origem a gigantes, que ajudaram Cadmo a fundar a cidade de Tebas.
Sláine, Cuchulainn e diversos outros heróis celtas enfrentaram dragões nos relatos dos seus povos.
A lenda polonesa do dragão de Wawel conta como um terrível dragão foi morto perto da actual cidade de Cracóvia.
Durante a idade média as histórias sobre batalhas contra dragões eram numerosas. A existência dessas criaturas era tida como inquestionável, e seu aspecto e hábitos eram descritos em detalhes nos bestiários da Igreja Católica. Segundo os relatos tradicionais, São Jorge teria matado um dragão.
Muitos povos celtas, por exemplo, possuíam imagens dragões em seus brasões familiares, e há também muitas imagens de dragões como estandartes de guerra desses povos. Assim, ao contar histórias de vis dragões sendo enfrentados e vencidos por nobres heróis cristãos, os escritores cristãos também estavam fazendo uma apologia da sua religião contra as antigas tradições locais. Pode-se fazer até mesmo um paralelo entre as famosas armas de sopro draconianas e a pregação destas religiões: um dragão que sopra nuvens venenosas, por exemplo, poderia também ser usado como metáfora para blasfêmias "venenosas" proferidas por falsos profetas pagãos.
Existem lendas e boatos que existem dragoes nas montanhas e florestas Romenas, na região da Transilvânia.
Em Portugal, o dragão mais famoso é a "coca" ou "coca rabixa". A festa da "coca" realiza-se no dia do Corpo de Deus.
No ano de 2006, o Discovery Channel exibiu um documentário dissertando que os dragões realmente existiram. Seriam a evolução de certos répteis. O fogo poderia ser expelido pela boca pois havia gás metano junto de demais gases dentro do estômago, assim como nós mesmos temos. Semanas após a exibição do documentário ele foi exibido novamente, desta vez anunciando que tudo não passava de pura ficção.

[editar] Dragões na alquimia

Na alquimia, o dragão expressa a manifestação do ser superior. Há quatro dragões alquímicos; o Dragão do Ar, que é o Mercúrio dos Sábios; o Dragão da Água, o Sal Harmônico; o Dragão do Fogo, o Enxofre dos Sábios; e o Dragão da Terra, o Chumbo dos Sábios, o negrume. Além desses elementos, o sangue do dragão é o ácido e o processo corrosivo do trabalho alquímico. Esses quatro dragões são os quatro aspectos de Lúcifer, o protótipo original do homem-anjo e do homem-besta em seu aspecto primitivo, primordial e superior. O dragão alquímico, ou Lúcifer, é o dragão iniciador da luz e das trevas que são elementos unificados, resultando na consciência espiritual e na aquisição de sabedoria (Sophia). Tal iniciação ocorre nos quatro Elementos alquímicos que são parte do iniciado alquimista.
Segundo o escritor de filosofia oculta, o lusobrasileiro Adriano Camargo Monteiro, em seu estudo de dracologia alquímica, o dragão é um hieróglifo dos quatro elementos (Ar, Fogo, Água e Terra), assim como da matéria volátil e da matéria densa, representados pelo dragão alado e pelo dragão sem asas, respectivamente.
Como criatura alada, o dragão luciférico representa os poderes do Elemento Ar e a volatilização. É força expansiva, inteligência, pensamento, liberdade, a expansão psicomental, a elevação espiritual. Como criatura ígnea que é capaz de cuspir fogo, ele possui os poderes do Elemento Fogo, a calcinação, a força radiante, a energia ígnea que cria e destrói. É o aspecto que está relacionado à intuição espiritual que vem como uma labareda, e à vontade espiritual. Como criatura escamosa aquática, o dragão expressa os poderes do Elemento Água, a força fluente e a dissolução da matéria. É o aspecto que simboliza as emoções superiores, a alma, o inconsciente individual como fonte de conhecimento. Como um ser terrestre que caminha sobre quatro patas e habita em profundas cavernas, o dragão representa os poderes do Elemento Terra, a força coesiva, a matéria e o corpo físico do alquimista.
Esses são os perfeitos dragões alquímicos luciféricos, manifestados no iniciado.

[editar] Dragões na cultura moderna

Festival tradicional de dragões em Hong Kong.
Na modernidade, os dragões se tornaram um símbolo atrativo para a juventude. São criaturas poderosas que dão a ideia de força e controle, ao mesmo tempo que a capacidade de voar remete à ideia de liberdade. O dragão desenhado no estilo oriental é parte quase obrigatória de logotipos de \cademias de artes marciais pelos motivos já citados e pela sua ligação com a história dos países asiáticos onde estes esportes surgiram.
Dragões aparecem em várias histórias do gênero fantasia, desde O Hobbit de J.R.R. Tolkien com o dragão Smaug, passando por Conan de Robert E. Howard e chegando a filmes modernos como Reino de Fogo, que descreve um futuro apocalíptico, no qual a humanidade foi massacrada pelos répteis. O dragão considerado clássico foi imortalizado principalmente pela figura de Smaug, em O Hobbit, livro de J. R. R. Tolkien. Seguindo o conceito da cultura cristã ocidental, Smaug era um dragão terrível e destruidor, que reunia grandes tesouros em seu covil na Montanha Solitária. Por ter sido este o romance que praticamente iniciou toda a tradição de literatura fantástica contemporânea, Smaug acabou se tornando o estereótipo do dragão fantástico atual.
Outro conto de C.S Lewis nas Crônicas de Nárnia, mais precisamente em A viagem do Peregrino da Alvorada, conta-se de um Dragão o qual Eustáquio encontra praticamente morto, e com ele um tesouro magnífico, Eustáquio sendo muito ganacioso, pegou um bracelete em meio ao magnífico tesouro, e dormiu na toca do Dragão. Quando acordou no outro dia, pensou que o dragão estava vivo, ou que havia outro dragão, porque ele mesmo tornara-se um dragão, e assim o tesouro mostrara-se amaldiçoado. Aslam ajuda Eustáquio a voltar ao normal, mostrando assim o contexto cristão da Crônica. Na história, não explica-se o fato do dragão está morto.
Dando continuidade à mitologia, J. K. Rowling insere dragões em diversos livros de seu bruxo mundialmente célebre, Harry Potter. O livro em que a autora deixa clara a existência atual destas criaturas é o primeiro livro da série, intitulado "Harry Potter e a Pedra Filosofal". Nesta obra, um dos personagens, Hagrid, ganha em um bar um ovo de dragão, algo que ele sempre desejara. O ovo é chocado no fogo e, após um tempo, um dragãozinho rompe a sua casca e recebe de Hagrid o nome de Norbert. Norbert (ou Norberto na tradução de Lia Wyler) cresce e começa a criar problemas para Hagrid que, enfim, cede à insistência de Harry e seus amigos e doa o dragão a Charlie (Carlinhos), irmão de Rony Weasley que estuda dragões na Romênia.
Dragões são extremamente populares entre jogadores de RPG. Na verdade seu nome mesmo aparece no título do primeiro jogo desse gênero - Dungeons and Dragons. Dragões também são tema recorrente em jogos como Arkanun e RPGQuest.
Os dragões representam, em parte a liberdade e o poder que o Homem deseja atingir. E ainda não se conseguiu explicar como é que a ideia de uma criatura, com asas, sopro de fogo, escamas e potencialmente mágica, pode chegar a culturas tão distantes e diferentes como a China Antiga ou os maias e os astecas.
Cita-se na obra O ABISMO psicografada pelo médium Rafael Américo Ranieri o termo "filhos do dragão" na narrativa onde seres horripilantes e com aspectos disformes que perderam a forma humana moradores de locais chamados de abismos e sub-abismos,intitulam-se filhos do dragão, pois este seria como o governador deste local inferior.

[editar] O sopro de fogo

[carece de fontes?]
O sopro de fogo dos dragões seria teoricamente possível, caso seus pulmões pudessem separar alguns dos gases que compõe o ar e se fossem de um material tolerante ao calor. A centelha de ignição poderia ser obtida da fricção de dois ossos ou pela ingestão de minerais, que poderiam ser combinados quimicamente para gerar uma reação exotérmica.
Alguns acreditam que as glandulas salivares dos dragões produzissem alguma substância volátil que entrasse em combustão espontânea em contato com o ar como o fósforo branco.
Esta teoria para a origem do Fogo dos Dragões foi explorada no filme Reino de Fogo (Reign of Fire), onde uma raça adormecida de dragões despertou após a escavação de uma nova linha de metrô em Londres.
Baseada no princípio dos materiais pirofóricos, os dragões possuíam órgãos produtores de líquidos reativos, separados em seus corpos e portanto estáveis e seguros nessa condição, mas que se uniam em forma de jato combustível quando desejado, á frente de suas bocas quando espirrados a alta pressão por glândulas salivares especiais, se combinando numa espécie de Napalm orgânico extremamente enérgico e inflamável.
Combinando esta mistura com o sopro de ar de expiração rápida do animal, o resultado se traduzia numa potente e longa chama capaz de incendiar e destruir tudo em seu caminho.

[editar] Dragões para a biologia

Dragão-de-komodo.
Existem também dragões verdadeiros no mundo real. Não se tratam realmente de dragões como nas concepções míticas comentadas acima, mas sim de diversos seres vivos que, por alguma semelhança qualquer, foram batizados assim em homenagem as estas criaturas mitológicas.
Existe entre os répteis, por exemplo, o gênero Draco usado para designar espécies normalmente encontradas em florestas tropicais, que possuem abas parecidas com asas nos dois lados do seu corpo, usando-as para planar de uma árvore para outra nas florestas.
Existem diversas espécies de peixes, especialmente de cavalos-marinhos, que possuem nomes populares de dragões.
O dragão-de-komodo (Varanus komodoensis), um grande lagarto que pode chegar ao tamanho de um crocodilo, é um carnívoro e carniceiro encontrado na ilha de Komodo, no arquipélago da Indonésia, e ganhou esse nome devido à sua aparência, que remete aos dragões mitológicos. Acabou se tornando o mais famoso dragão vivente do mundo real. É a maior espécie de lagarto que existe e este réptil já vivia na face da terra muito tempo antes da existência do homem. Possui em sua saliva bactérias mortais que tornam inútil a fuga de uma presa após levar uma mordida, pois sobrevém uma infecção rápida e letal que a mata em alguns dias. Mesmo apesar de serem tão letais, um dragão não morre caso se morda ou algo assim, pois seu sistema imunológico possui anticorpos que neutralizam as bactérias que habitam sua boca.

[editar] Símbolo

O dragão é atualmente símbolo da China e também foi utilizada como apelido do ex-ator e artista marcial chinês Bruce Lee, mais precisamente "o pequeno dragão".
Também o clube desportivo português, Futebol Clube do Porto, tem como símbolo o dragão, sendo assim apelidado no panorama Lusitano. Símbolo de força, os Dragões moram na Invicta cidade do Porto.

Grupo Senda de Folclore Marcial Chinês - Dança do Dragão

Chinese New Year Dragon Dance

Dragon Dance

Traditional Chinese Dragon Dance

Dança do Dragão

Dança do dragão


Dança do dragão (chinês simplificado: 舞龙; Chinês Tradicional: 舞龍 ; Pinyin: wu long) é uma forma de dança e de espetáculo tradicionais na cultura chinesa. Como a dança do leão vê-se mais freqüentemente em celebrações festivas. Os chineses freqüentemente usam o termo "Descendentes do Dragão” (龍的傳人 ou 龙的传人, lóng de chuán rén) como um sinal de identidade étnica.
Em ocasiões de bom augúrio, incluindo o ano novo chinês, abertura das lojas e residências, os festivais incluem freqüentemente dança com fantoches de dragão. Estes fantoches são feitos "sob medida" de pano e madeira e manipulados por uma equipe de pessoas. Elas carregam o dragão com varas no centro de atração e executam movimentos coreografados ao acompanhamento de tambor e música. Os dançarinos levantam, mergulham, empurram, e movem a cabeça, que pode conter as características animadas controladas por um dançarino e às vezes é equipada para soltar o fumo dos dispositivos pirotécnicos. A equipe de dança imita os supostos movimentos deste espírito do rio em uma maneira sinuosa, ondulada. Os movimentos tradicionais no espetáculo simbolizam papeis históricos dos dragões que demonstram o poder e a dignidade. A dança do dragão é um destaque das celebrações Ano Novo Chinês espalhado pelo mundo inteiro em bairro chineses.
Acredita-se que os dragões trazem boa sorte as pessoas, que é refletida em suas qualidades que incluem o poder, a dignidade, a fertilidade, a sabedoria e o bom augúrio . A aparência de um dragão é assustadora e audaciosa mas tem uma disposição benevolente, e se transformou algumas vezes então num emblema para representar a autoridade imperial.
História
A Dança do Dragão foi originada durante a Dinastia Han e começou pelo chinês que mostrou grande respeito para o dragão chinês. Acredita-se tenha começado a fazer parte da cultura para o cultivo e colheita, também com as origens como método de cura e de impedir a doença. Era um evento popular durante a Dinastia Song onde se tinha virado uma atividade popular e, como a Dança do Leão, era mais frequentemente vista em celebrações festivas.
De suas origens em combinar mistura de animais naturais, o dragão chinês evoluído para assentar bem em uma criatura mítica honrada na cultura chinesa. Sua forma física é uma combinação de muitos animais, incluindo os chifres de veado, de orelhas de touro, de olhos de coelho, de garras de tigre e das escamas de peixe, tudo no corpo de uma serpente longa. Com estes traços, acreditou-se que os dragões eram anfíbios com a habilidade de se mover na terra, para voar e a nadar no mar, reger os papéis de reguladores da nuvem, da chuva e do tempo. Pelo dragão dar as pessoas um sentimento do grande respeito, é chamado frequentemente de Dragão sagrado. Os imperadores da China antiga se consideraram como dragões. O dragão também é o emblema da autoridade imperial. Ele simboliza o poder sobrenatural, a benevolência, a fertilidade, a vigilância e a dignidade.
A Dança do Dragão é importante na cultura e tradição chinesas e se espalhou por toda a China e pelo mundo inteiro. Virou um espetáculo artístico especial nas atividades físicas chinesas. Simboliza trazer boa sorte e prosperidade no ano vindouro a para todos os seres humanos na Terra. De acordo com a antiga história, durante o período de Chun Chiu, a aprendizagem de Artes Marciais Chinesas era muito popular e no tempo extra, a dança do dragão era ensinada também aos estudantes para dar mais incentivo.
Na Dinastia Qing, a equipe da Dança do Dragão da província de Foochow tinha sido convidada a se apresentar em Pequim e foi extremamente elogiada e admirada pelo imperados Ching, que ganhou grande fama para a equipe.
Espetáculo
A Dança do Dragão é executada por uma hábil equipe cujo trabalho é dar vida ao dragão. O próprio dragão é uma longa serpente com um corpo formado de varas, montados juntos uma série de arcos em cada parte e unindo a parte ornamental da cabeça e da cauda nas extremidades. Tradicionalmente, os dragões eram construídos de madeira com os arcos de bambu no interior e cobertos com uma tela decorada. Porém, na atualidade, tais materiais como alumínio e plásticos substituíram a madeira e o material pesado.
Os dragões podem variar no comprimento em cerca de 25 a 35 metros, para os modelos mais acrobáticos, e mais de 50 a 70 metros para o maior, parada e os estilos cerimoniais, já que parte do mito do dragão é que quanto mais longa é a criatura, mais sorte trará. O tamanho e o comprimento de um dragão dependem do poder humano disponível, do poder financeiro, dos materiais, das habilidades e do tamanho do campo. Seu comprimento tradicional varia entre 9 seções e 15 seções no tamanho, embora alguns dragões sejam tão longo quanto 46 seções.
Uma pequena organização não consegue operar um dragão muito longo porque exige grande esforço físico, grandes despesas e as habilidades especiais que são difíceis de controlar. O tamanho (comprimento) recomendado para o corpo do dragão é 112 pés (34 metros) e há uma divisão em 9 seções principais. A distância entre cada seção menor (costela) é de 14 polegadas (aproximadamente 35 cm); conseqüentemente, o corpo tem 81 anéis. A história nos conta que a dança do dragão é executada de várias maneiras, tipos e cores. Às vezes o verde é escolhido como cor principal do dragão, que simboliza uma grande colheita. Outras cores incluem: amarelo, simbolizando as cores solenes do império; dourado ou prata, simbolizando prosperidade; vermelho, representando o excitamento. As escamas e cauda são principalmente prateadas e resplandecentes, contribuindo para uma atmosfera alegre. Como a dança do Dragão não é executada todo dia, o pano do dragão deve ser removido para receber um novo retoque antes do próximo espetáculo.
A correta combinação e sincronismo apropriado das diferentes partes do dragão são muito importantes para fazer uma dança bem sucedida. Quaisquer erros cometidos pelos dançarinos estragam todo o espetáculo. Para ser muito bem sucedida na dança, a cabeça do dragão deve cooperar com o corpo de acordo com as batidas do tambor. Para dragões maiores do estilo cerimonial e parada, a cabeça pode pesar até 12 katis (14,4 kg). A cauda do dragão também desempenha um papel importante porque deve manter-se em sincronismo com os movimentos da cabeça. A quinta seção é considerada ser a parcela média e os dançarinos devem estar muito alertas às mudanças de movimento do corpo a cada momento.
Na exibição competitiva, entretanto, há regras estritas que regem as especificações do corpo do dragão e dos passos apresentados. Então dragões feitos para estes eventos e que são vistos na maior parte nos shows impressivos do palco são feitos para a velocidade e a agilidade, para serem usados pela equipe de dançarinos para um maior grau de dificuldade dos passos. Nestes dragões, a cabeça é menor e clara o bastante para ser enrolada em volta, e deve ser um mínimo de 3 kg, as partes do corpo são de alumínio claro com bastão e a maioria dos arcos é tubulação muito fina de PVC. As apresentações são feitas tradicionalmente em 8-10 passos minutos acompanhando a percussão.
Os arranjos da Dança do Dragão são coreografados de acordo com as habilidades e as experiências adquiridas pelos dançarinos. Alguns arranjos da Dança do Dragão são "caverna de nuvem", "redemoinho de água", Tai-Chi, "costurando dinheiro", "procurando a pérola", e o "dragão que circundar a coluna". O movimento "dragão que persegue a pérola" mostra que o dragão está continuamente em busca da sabedoria.
O dragão move-se em um movimento ondulatório balançando coordenadamente cada parte. Embora este balanço constitua o movimento básico do dragão, executar formações mais complexas depende somente da criatividade de uma equipe. Os movimentos que são executados geralmente envolvem enrolar o corpo do dragão, girando ele. Isto faz com que os dançarinos saltem levantem partes do corpo do dragão, mostrando-as. Outras manobras avançadas incluem várias contorcidas giratórias e movimentos mais acrobáticos onde os dançarinos aumentam a altura dos movimentos do dragão.
Apresentar uma equipe de Dança do Dragão envolve diversos elementos e habilidades; é uma atividade que combina treinamento, mentalidade de uma equipe esportiva, encenação e talento de uma equipe de artistas. As habilidades básicas são simples de aprender, porém virar um dançarino competente exige treinamento dedicado até que os movimentos se transformem complexos possam ser conseguidos - que não dependem apenas da habilidade individual, mas da concentração da equipe inteira para se mover.

Dragão Chinês

Comentários sobre A FALTA QUE NOS MOVE...



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Diogo Liberano

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

a meta está lá fora.

desculpem-me
eu só preciso jogar aqui neste espaço algumas coisas que estão voando
e pesando
feito asas de dragão.
sim, vou falar bastante de dragão
quero consultar o verbete dragão no dicionário do jung
quero saber tudo
porque o dragão é a nossa metáfora mor
o dragão é a nossa possibilidade de encontrar uma dramaturgia que respire e nos surpreenda. uma dramaturgia que venta sobre o público e dissolve incompreensão em sentido. sensível. toque. pele. textura e camada.
sim, eu vou falar de dragões.
eu quero secar essa coisa toda do dragão em sala de ensaio.
porque depois, eu imagino hoje, depois só restará dragão em nosso título
e na boca das pessoas pós-apresentação
e na boca dos críticos em busca de comparações e reflexões sobre a nossa condição de artista.

ATENÇÃO.
dentro de cada um de nós vive um dragão.
a nossa desmedida é o que o alimenta e faz crescer.
o nosso desejo por um pouco mais nada mais é do que a fome do nosso dragão,
tendo em vista a nossa já saciada.
as coisas todas que nos privamos de dizer ou fazer dentro se revolvem e atiçam o dragão de cada um.
se quer voar, se quer gritar, nada mais concreto, nada mais natural, há um dragão dentro de ti pedindo espaço para brincar e fazer barulho.
você homem é ser prenhe de metáforas, de sonhos, de alucinações e delírios.
você tem um dragão dentro de ti e isso resolve tudo. a princípio.
mas,
privá-lo do jogo do risco é o mesmo do que se privar de tudo isso e mais um pouco.
privar-se do susto é privar o seu dragão de algum vento capaz de o refrescar ou causar frio.
depois que ele ronca, te faz tremer, depois que ele te mexe e faz com que pules ileso as poças d'água,
depois que você descobre que ele existe,
você pode vir a querer dele se aproximar
se dispor a tirá-lo ao sol vez ou outra.
você pode aprender como se faz para cavalgá-lo.
você pode ser livre o suficiente para prendê-lo e descansar como fosse o seu corpo apenas solidão.
mas negá-lo, ignorá-lo, ser a ele meramente indiferente, dar-lhe frio e hibernação
é engrossar sua pele que clama por explosão...
mas
se você não quiser deixá-lo se ser de fato
corre então ele o risco de ser aborto
corre o dragão o risco de te morder e jamais libertá-lo
corre o risco de o dragão assassinar seu pai
e voar distante
para alguma lonjura incapaz de se prever.
cuidado.
ele está dentro de você.
para ignorar seu dragão com propriedade seria preciso desaprender a sentir.
ser seco e pusilânime.
\\
Diogo Liberano
          

sábado, 19 de fevereiro de 2011

perguntas:

por favor, escolham uma pergunta abaixo e tentem uma resposta:

1) eles se juntam a princípio para o que exatamente? se sabem que não se vêem faz meses, se sabem que todos estão meio que deprimidos com a situação, eles se juntam para o que afinal?

2) o que um dos cinco deseja profundamente e que outro dos cinco abomina por completo?

3) eles brigam? por qual motivo?

4) eles se drogam? com qual droga?

5) eles dividem alguma coisa? que coisa?

6) eles ligam o ar-condicionado?

7) que estação do ano é essa?

8) eles ficam na sala o tempo inteiro?

9) alguém ali fuma e fuma onde? alguém fuma?

10) o que aconteceu naquela semana que eles acabam falando sobre?

11) como processam a falta da amiga?

12) como seguir? alguém se pergunta e pergunta aos outros como continuar? e se sim, por que esse alguém se pergunta isso? há algo capaz de impedi-los de continuar? é grave?

13) que dragão adormecido no momento do encontro começa a abrir as asas e a chacoalhar tudo?

14) algum remédio, de alguém?

15) bebem o quê?

16) fizeram o jantar? quem fez? o que comem? tem vela acessa?

17) mexem nas coisas da amiga? com que propósito? lembram-se de algo? descobrem algo novo?

18) fazem algum pacto que só eles vão saber? fazem algum acordo? quem topa e quem não topa?

19) rola algum beijo? na boca? alguma tensão sexual no ar?

20) o que se descobre ali no momento da encenação? que bomba é descoberta?

[...]

motes para desbravar o imenso.
bjos,
diogo liberano
          

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Referências

Queridos,

eu e Flávia colocamos uma lista de referências para todos vocês estudarem durante este nosso período até o início dos ensaios (14 de março de 2011). Há filmes, livros e peças de teatro. Estou providenciando dvd's das peças e dos filmes. Também temos os livros e podemos xerocar ou fazer um rodízio. Nas bibliotecas também se encontram bem como em livrarias. Alguma coisa pode ser pesquisa na internet, talvez.

É importante ter clareza que estas referências são algumas apenas e que outras podem surgir. Mas dizemos a vocês que estão ai, a princípio, as mais importantes para nós. Não deixem de devorá-las.

Para acessar as referências, observem que foi inserido no blog um MENU (logo abaixo da barra de busca), no qual há - por enquanto - apenas as opções "página inicial" e "referências". Basta clicar sobre.

Beijos,
Diogo
                       

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

pequeno diálogo sem finalidade alguma

Marília: naquela nossa discussão de ontem você disse que concordava com a idéia do Fred e eu disse que não concordava e volto a dizer não concordo mesmo.

Nina: mas porque Marília?

Marília: como ele pode saber o que é certo e o que não é certo?

Nina: eu também não sei Marília , mas concordo com o Fred quando ele diz que a sociedade precisa de ordem e é preciso alguém para estabelecer a ordem, então que esse alguém ao menos seja justo e sábio.

Marília: e esse alguém é o Fred?

Nina: e porque não?

Fred: está vendo Marília, e porque não?

Marília: porque eu não sei se concordo com as suas idéias Fred.

Nina: Fred, eu gosto das suas idéias e não teria problema em te aceitar como meu líder, mas a Marília não concorda então sei lá, você precisa colocá-la do seu lado, tê-la como aliada, eu posso ficar debaixo olhando o que você faz, mas a Marília não conseguiria, ela precisa discutir e entender o que está acontecendo e você não pode pedir pra que ela se encaixe na minha posição, não, a natureza dela é outra, entende? Quando alguém se destaca do rebanho e quer seguir um outro rumo é preciso olhar pra essa criatura com atenção e sem medo, não é esse que não se encaixa que fará com que todos desviem seus caminhos, não, alguns, na verdade muitos preferem ficar no rebanho entende? Não é preciso temer o diferente é preciso apenas não ignorá-lo.

Fred: concordo com você Nina, mas com o Diferente é preciso não apenas ignorar, mas dar voz a ele, deixá-lo agir, só não ignorar é muito pouco, o Diferente é filho único, mimado e carente.

Nina: isso quer dizer você

Fred: sim, isso quer dizer eu. Mas era uma brincadeira, só mesmo pra dizer que a Marília não pode discordar de tudo que eu falo senão fica impossível, entende? Ela precisa ao menos aceitar que eu sei o que é melhor pra pessoas.

Marília: mas como você quer que eu aceite isso? Isso é tirania, é puro despotismo

Fred: Não confunda as coisas não tem nada a ver com posição política, é muito menos do que isso, é o simples fato de que nem sempre as pessoas sabem o que é melhor pra elas, você já viu como a gente pede opinião? O tempo inteiro estamos fazemos isso: o que você acha fulano, acha que eu devo ou não devo? Faço isso ou aquilo? E porque? Porque não temos certeza do que é melhor pra gente, é preciso alguém pra dizer o que é melhor, você não percebe? A própria sociedade implora por esse alguém.

Marília: e você é essa pessoa?

Fred: estou chegando lá


Dominique: Acho graça que esse tipo de discussão ainda aconteça, não posso dizer a eles que tudo o que dizem é pura ilusão mas tampouco posso dizer que é verdade. A gente tem que deixar as pessoas com os sonhos delas senão vira tudo babaquice e viver não passa de uma invenção abstrata e superficial. As vezes invejo pessoas que defendem um posição com clareza e convicção. Ao menos elas acreditam em alguma coisa nem que seja nas próprias opiniões, já eu não acredito em nada o que inclue eu mesma, não acredito que existo nem tampouco que não existo, pode parecer estranho mas é assim que é.

Vítor: nossa que merdão heim? Se eu fosse você me matava

Dominique:.....

Vítor: era uma brincadeira, desculpe.

Turner & Hooch Bath Time

REM Everybody Hurts

05:49

hora improvável para se atravessar ou vice-e-versa. eu estou diante deste computador, sobre a mesa uma caneca quente com mingau de aveia. com canela, com cereja. com uma colher que roubei do spoleto. eu queria dizer a vocês que recebi um convite do meu dragão. sim, ele roncou a noite inteira. dentro de mim a coisa ali respirando e fazendo do ruído composição sem fim. um requiem para mim. não de mim para mim. mas dele para meu corpo inteiro. ele ali dentro roncando e me acariciando meio sem jeito. os dragões tem essa vergonha de assumir sua delicadeza. só que hoje está tão quente dentro desse quarto, a noite está tão assumidamente perdida, que eu sinto que ele apostou ser o que é e por isso me perguntou, logo agora tenha eu aberto os olhos.

ele me perguntou: posso? meus olhos abriram. e me vi na possibilidade ali entretido e preso. eu não quis responder, eu quis ficar. eu fiquei, sobre a cama ainda deitado eu aos poucos fui me sentando e esticando o corpo. mas a coluna doeu logo quando se aproxima coluna ao centro do corpo. a coisa não vai. a coisa não foi. dentro, ele me pedia para abrir suas asas e partir. fiquei calmo, e me disse, só pode ser a ti que ele está perguntando. não tema respondê-lo, ele vai entender. é que dentro, confesso, eu sentia não ser hora para recreio. eu senti e ainda sinto, dentro, não haver necessidade alguma para cruzar a esta hora da madrugada. eu fico, gente. eu ainda quero ficar. não vem com isso de abrir as asas dentro de mim e me estuprar. eu fico.

então meu dragão dorme em mim ainda feito ovo. sim, como este mingau quente, tão quente, com cerejas e canela, para entreter sua vaga sensação de abandono. para dizer de forma morna e matinal eu, eu estou contigo, bom dia. ele se acomoda novamente. ele esboça até um semi-abrir das asas, mas é para se coçar e caber melhor dentro de mim. porque pesa. é fato. ele é tipo pedra, mas pedra que aprendi a amar. ele me perguntou posso te partir comigo? posso de ti me levar? e hoje cedo nesta aurora nem sequer inda anunciada, eu lhe disse: não. não é uma hora bonita para ser de ti levado. para romper com si próprio nem com os outros.

e tudo está tão lindo. esse mingau, esse céu tingido a um vermelho contido (querendo nascer). esse ventilador simulando um vento vindo-se lá de onde, eu não sei. meus olhos abriram e eu quis amar este convite que me foi feito. eu quis nele me esbaldar e durar. se se cavalga um dragão? eu me pergunto. não por saber a resposta. não por importar sabê-lo. talvez seja possível. basta não ter o medo inaugural que é o de ignorá-lo. o dragão. ele cria cisma e te devora numa fração do instante. se se pode cavalgá-lo? bom, agora que ele dorme, talvez seja melhor eu me deitar novamente. atrasar o despertador e começar meu dia quando meu corpo puder sustentá-lo, afinal, eu não estou só. dentro de mim mora vaga a sensação de um dragão inteiro.

06:00.

Diogo Liberano

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Vidraça

ONTEM quando o reencontrei. Ontem. Assim, eu vi um homem morto. Digo, pedra. Alguém que não reage e que o corpo carrega. Digo, assim sobre o excesso de atravessamentos que fizeram daquele corpo quase moribundo, em osso, não músculos, não carnes, não parece pulsar, como se a vidraça de tanto quebrada e cortar, agora petrificada está. Ficou em ossos, sustentando nem sorriso. Porque eu lembro. Não que eu tenho tantos acontecimentos para lembrar. Mas lembro. Não sei quanto tempo faz, do tempo de antes para o tempo de ontem. Mas vi, assim, que a vida é capaz de sugar. Depois do vazio vem o que? Eu estou no vazio. Hoje.
Atravessar é perigoso. Tem coisa mais instavél que atravessar-se ou deixar-se atravessar ou atravessar o outro? Como quando precisamos ir de um lado ao outro. Atravessamos uma ponte, um rio, um túnel, uma pista, uma RUA, um corredor.Viver no Rio de Janeiro é, por obrigação, viver atravessando morros, serras, túneis. Já pensou na instabilidade e na dor dos morros cavados para que os carros atravessem a cidade? Vamos eliminar os clichês. Sim, a questão é como se faz quando se é atravessado e crava-se um buraco na nossa existência. Ela não soube continuar. Eu, nós agora, cheios de vetores nos corpos, pedindo bebendo cantando uma tentativa de se reinaugurar. Na verdade, retiro o Re. Quero inaugurar todo dia. redescobrir.  Descobrir-me do já dito. Sem perder a memória, é claro.  Desculpem-mee, eu não sei porque comecei falando isso e também não sei continuar.   
Acabo.
Aqui.



" Para apalpar as intimidades do mundo é preciso saber:


a) Que o esplendor da manhã não se abre com faca
b) O modo como as violetas preparam o dia para morrer
c) Por que é que a borboletas de tarjas vermelhas têm devoção por túmulos
d)Se o homem que toca de tarde sua existência num fagote, tem salvação
e)Que um rio que flui entre dos jacinto carrega mais ternura que um rio que flui entre dois lagartos
f)Como pegar a voz de um peixe
g)Qual o lado da noite que umedece primeiro
etc
etc
etc"

Manuel de Barros

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

"Sonhei que um grande cachorro me atacava. Ele era enorme e babava muito. Aquele tipo de baba que os cachorros grandes costumam ter. Como aquele cachorro do Turner & Hooch. Sua bocarra parou a poucos centimetros do meu nariz. Ele ia arrancar o meu nariz. De repente ele começou a lamber minha cara. Em poucos segundos nos tornamos grandes amigos. O cachorro e eu. Nos tornamos inseparaveis. Ele entrava no bar comigo. Tinha um banco reservado pra ele perto do balcão. Ele se sentava lá do meu lado e bebia sua grande caneca de chopp. Escuro. Chopp escuro. Era o que ele sempre bebia. Algumas pessoas no bar não gostavam do meu cachorro. Ele tava se lixando pra todos eles. E eu também. Nós éramos verdadeiros amigos. Do tipo de amigo que não se encontra mais. A gente se bastava. Por isso a gente sentava lá no bar e bebia em silêncio. Eu bebia o meu whisky com duas pedras e ele o seu chopp. Escuro. Depois a gente saía pela porta do bar. Dava pra perceber o alívio que a gente causava quando atravessava a porta do bar em direção à rua. As pessoas tem medo do que não conseguem explicar. O cachorro e eu. A gente se sentava perto de um lugar que parecia um estaleiro ou algo assim. E a gente testemunhava o por do sol. Eu não me contentava em apenas ver o por do sol. E o cachorro também não. Por isso que eu digo que a gente testemunhava o por do sol. Dois grandes amigos no fim de tarde. Muitos anos depois, o cachorro morreu. Ele gania de dor nos últimos dias. Eu já não me sentia tão jovem assim. E naqueles dias envelheci dez anos em um. Dois velhos amigos morrendo juntos. Mas eu não morri. Me tornei uma lembrança pálida do que eu era. Um fantasma desolado. Uma espécie de sujeito sem destino. E não há nada pior do que não ter destino. Isso nos condena à imobilidade. Jamais tive outro amigo. E nos anos seguintes eu me sentei lá todos os dias e bebi o meu whisky com duas pedras. Mas sempre pedia uma caneca de chopp. Escuro. Foi o jeito que encontrei pra me imaginar ainda vivo. Mas é claro que eu tava me enganando. " - por Mário Bortolotto.

Joris Ivens - Regen (1929)

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

CONCRETUDE

that's all, folks.
        

um dia desses...

Se me rendi já faz um tempo percebo agora que foi sem querer. Sem querer a gente nasce e as vezes com sorte escolhe a própria morte. Sorte boa essa: saber morrer. Penso muito na morte talvez porque pensar na vida já não faz nenhum sentido, o caminho que as coisas foram tomando é algo assim tão estranho que talvez inverter tudo seja a única salvação. Meu Deus é o amor. Amor piedoso, fiel e persistente. Caminho pelas ruas e meus olhos insistem em fitar o chão, já não há o que ver, à minha frente apenas o cinza claro dos dias e o escuro opaco da noite. Perdeu-se o mistério, perdeu-se a vergonha. Cada homem carrega seu saco de batatas nas costas, cada homem apenas a batata e o fardo, a fome e a dor. Come a batata e ensaca a dor. Já disse, melhor inverter tudo e ver no que dá, ensacarei a batata e comerei a dor. Não hesito, depois, quando eu morrer dirão: coitada, morreu de inversão.

Manifestantes do Egito






"Hosni Mubarak recusa-se a deixar a presidência, apesar da pressão da população."

"Milhares de manifestantes se concentram neste sábado na principal praça de Alexandria, no centro da cidade, e dizem que não vão embora enquanto Mubarak não anunciar a renúncia. Eles entraram em conflito com a poícia da cidade. De acordo com testemunha, houve tiros."

"A capital o Egito, Cairo, também amanheceu repleta de manifestantes nas ruas. Nesta manhã, no Cairo, um supermercado foi saqueado em um subúrbio da cidade, onde vive uma grande comunidade de estrangeiros. O supermercado, de uma empresa francesa, fica dentro de um shopping. Na noite de sexta-feira, também houve diversos saques em vários bairros do Cairo.
Os protestos não foram interrompidos durante a madrugada, quando a população quebrou o toque de recolher. A noite foi iluminada por prédios e carros em chamas.O toque de recolher foi imposto pelas Forças Armadas em uma tentativa de acabar com as manifestações que assolam o país pedindo o fim do regime de Mubarak. Os infratores estariam sujeitos a "procedimentos legais ".
Os conflitos mais intensos entre população e forças de segurança aconteceram na cidade de Ismailia, onde a polícia tentou controlar a população com gás lacrimogênio e balas de borracha."

Telefonia móvel é parcialmente restaurada
"O serviço de telefonia móvel foi parcialmente restaurado no Egito na manhã deste sábado. O serviço, assim como o acesso à internet, foi interrompido na tentativa de impedir as manifestações hostis ao regime.

Internet e telefones móveis desempenharam um papel fundamental na organização de manifestações contra o regime de Hosni Mubarak, liderados por jovens pró-democracia. Eles se inspiraram na Revolução dos Jasmins, que em 14 de janeiro, derrubaram o ditador Zine El Abidine Ben Ali.

Mas, em comunicado, a empresa britânica Vodafone confirmou ter recebido a ordem de suspender os serviços de telefonia celular.

O Departamento de Estado dos EUA pediu que o país garanta o acesso às comunicações e respeite direitos inidividuais durante os protestos.

Um dos maiores provedores da rede no país, o Seabone, baseado na Itália, informou que não havia transmissão de dados para dentro ou fora do Egito desde 0h30 no horário local (20h30 de quinta-feira de Brasília), segundo a Associated Press."

fontes: http://noticias.terra.com.br/mundo/fotos/0,,OI145285-EI294,00-Protestos+por+democracia+convulsionam+o+Egito+veja+fotos.html

http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/01/em-mais-um-dia-de-protestos-governo-egipcio-lanca-ofensiva-politica.html