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quarta-feira, 10 de agosto de 2011

'eu tô com medo de ir embora, eu tô com medo de sair daqui'

porque aqui eu posso gritar, apontar o dedo, bater, ser mesquinho, grosseiro, chorar, culpar, fazer sofrer, fazer chorar, machucar, debochar.. enfim, aqui o meu dragão pode soltar as suas baforadas porque estou entre amigos, amigos estes que têm conhecimento de uma mesma causa. uma mesma causa mortis. amigos que também tentam domesticar um animal selvagem. animal selvagem este que não caberia num quarto e sala, imagina dentro de corpos tão franzinos ?

você me perdoa agora e desconsidera tudo que acabei de falar porque há 2 minutos atrás quem me pediu perdão foi você. eu acabei de te segurar quando você perdeu a força nas pernas. a gente divide por 5 a falha na tentativa de seguir, de ficar em pé. somos 5 atos falhos. lá fora tem a preocupação com o outro, com normas e sociedade e educação e boas maneiras.

tenho trocado o bom-dia pelo vai tomar no cú. aqui os meus amigos acabam entendendo. lá fora, o meu porteiro diz que eu sou uma bicha escrota.

...

Sabado, na Uni-Rio, foi curioso.
Eu, com olhos de menino, olhava surpreso, boquiaberto, com a ingenuidade e o desespero de querer ver tudo, perceber cada detalhe, não perder uma palavra, um gesto, captar cada movimento.
Era como se eu estivesse indo ao teatro pela primeira vez, e tudo me parecesse novo de novo.
Eu nao fui no domingo, mas pelas palavras que li aqui no blog, pelas fotos que vi, me parece que foi tudo maravilhoso. Eu queria, eu deveria estar aí, com voces, mas nao pude.


Obrigado a voces, cada um, eu realmente não sei porque, mas obrigado.

Nao importa o resultado do meu trabalho, ja valeu a pena estar com voces. Me emociona ver a cumplicidade que voces transparecem.

A Lilla ficaria orgulhosa desses amigos desesperados por cavalgar esse dragão. E no final, sem dúvida, o farão.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

68

Um dia de descanso e estamos de volta à sala de ensaio e agora ainda mais cedo: 08:00 horas da manhã.

Voltamos recheados dos comentários sobre o nosso processo. Sim, o que aconteceu no Tempo Festival causou e causará muitos estragos, no melhor dos sentidos. Não posso deixar de dizer que a sensação de compartilhar aquilo que com tanto cuidado fizemos nascer é das melhores possíveis.
Ainda hoje uma amiga me parou no corredor da Unirio com vontade de falar. Ela queria compartilhar comigo e com Diogo o que tinha achado do nosso processo, e ela veio se aproximando com brilho nos olhos, o brilho de quem quer trocar, de quem quer dizer pra se aproximar, pra construir junto aquilo que só tem sentido se junto estivermos. Nunca antes experimentei a sensação da troca de forma tão verdadeira. Eis que então reconheço a potência própria do teatro e me alegro por estar envolvida nesse bonito trabalho.

De volta à sala de ensaio: deixemos os meninos respirar, indaga o Diogo. Vamos ver no que vai dar. Assim começou nosso ensaio de hoje, Marília, Dominique, Frederico, Vítor e Nina refazendo prólogo, cena 1, cena 2 e cena 3 soltos pelo espaço, abandonando marcas e profanando indicações. O que disso aproveitaremos ainda é obscuro, mas já é possível compreender como é forte e potente quando o jogo acontece com o corpo e não só com a palavra. Sim, o corpo, por favor. Mesmo que errado, torto, estremecido, embaraçado, mesmo que pesado, ruidoso e envergonhado, o corpo quer participar da brincadeira, quer chegar junto, quer mostrar a que veio. E vocês atores voltaram a lembrar os gestos e resgataram os jogos que havíamos abandonado e só agora percebo o quanto minhas intuições estavam certas: eu no fundo sabia que as coisas abandonadas nunca foram esquecidas.
Obrigada pelo prólogo de hoje Nina, Fred, Vítor, Marília e Dominique.

Após cena 3, improviso da cena 4. a primeira fala após tantos minutos de silêncio anuncia o grau de destruição que virá a seguir, destruição tal como a traça faminta devorando um velho livro: corrói as palavras gastas, desenhando um novo caminho.

E logo em seguida, Odilon e Andréia. Parece bobo da minha parte mas tenho torcido por você Odilon, estou quase vestindo a camisa do seu time: aqui não tem corno nem frouxo! estou quase lá...quero ver se você me convence amanhã...

Cecília e Rita entram logo depois disso, Cecília hoje quase chora falando com a Rita, é Cecília, nem tudo precisa ser dito em palavras...

Todos em cena, trocam as roupas. Odilon com diadema na cabeça, Inácio com a sandália de salto da Andréia, Andréia descalça e com aquele short não precisa de mais nada pra parecer um menininho, eles trocam as identidades, agora é Letícia quem vem chegando, Odilon é a "Lilla que traga". Letícia fumava um cigarro atrás do outro, alguém diz, ela tinha uma tatuagem no braço, uma pinta, um outro corrige, uma pinta no pescoço, não, a pinta era na coxa, era preta? era marrom. cheia de pêlos. Ela nunca tirou aquela pinta, era a marca dela, alguém dizia.

A Letícia tinha voz rouca, no tom mais grave
Gostava de mascar trident de canela e halls maça verde
Ela dizia: tô ótima Brasil!
Meio Débora Falabella. Não, meio aquela namorada do Homem Aranha.
Ela tinha olhos verdes, cabelo louro acinzentado
A coisa mais bonita da Letícia eram suas mãos. Não, era a generosidade. Ah! conta outra.
Letícia era antipática. Só no primeiro momento. É, só no primeiro e no segundo e no terceiro, quem sabe no sétimo...
Ela chamava o pai de Jorge.
Extremista.
Arrotava.
Quando não escutava as pessoas dizia assim: o que? que foi? o que?
Violeta sua cor preferida.
Ela xingava, xingamentos direcionados: vai-tomar-no-seu-cú.
Lembra da risada? e do cheiro? e do choro? e de como ela dançava...