\\ Pesquise no Blog
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
2010/2011
Memórias
Afetos
Em tempo
Espero um ano morrer
Espero um ano nascer
Feliz
Hoje,dentro dessa noite veloz penso em cada um de nós
Vontade de encontrar logo o dragão
De encontrar juntos com o dragão
Planos para 2011?
Aprender a pilotar dragão
Nunca fui tão ambiciosa
Para isso,nessa noite de chuva
Irei próxima ao mar
E procurarei pelas luzes
Com todo meu amor
Bem vindos todos
Sempre
Desejo momentos inesperados
Surpresas brilhantes
E abraços cintilantes
para todos
Beijos em cada um
onde cada um estiver
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
Para atravessar
É preciso estar preparado?
É preciso ter mp3 player?
É preciso ter almoçado?
É preciso ser saudável?
É preciso estar motorizado?
É preciso ter dinheiro?
É preciso saber debitar?
É preciso saber como se ama?
É preciso ser virgem?
É preciso ter medos?
É preciso ter limpa-vidros?
É preciso ter flanelas?
É preciso fumar?
É preciso estar com fome?
É preciso ter precisão?
É preciso ser poeta?
É preciso ser atleta?
É preciso ser atleta afetivo?
É preciso ter medo.
É preciso ter já sentido?
É preciso ter já ido?
É preciso já ter rido?
É preciso já ter lido?
É preciso ter fome.
É preciso ter sono?
É preciso ter sonhos?
É preciso tanta coisa?
É preciso insônia?
É preciso persistência?
É preciso jantar?
É preciso comunhão?
É preciso ter medo.
É preciso ter discrição?
É preciso ser indiscreto?
É preciso não chamar atenção?
É preciso erguer-se da cama e preparar um copo com leite morno?
É preciso tudo isso?
É preciso vencer o fracasso?
É preciso vencer a vitória.
É preciso dormir junto?
É preciso dormir junto mesmo quando em separado?
É preciso poesia?
É preciso poenzima?
É preciso poezia?
É preciso neologismo.
É preciso metáfora?
É preciso verbete?
É preciso sentido?
É preciso ter sede.
É preciso tudo isso?
É preciso tudo aquilo?
É preciso essa dor?
É preciso ter faltas?
É preciso ter uma péssima cicatrização?
É preciso espreitar a morte?
É preciso vigiar uma árvore durante uma noite inteirinha?
É preciso confessar crimes a cachorros?
É preciso confessar-se a si próprio sem mentir?
É preciso lavar as louças?
É preciso sorrir?
É preciso perguntar?
É preciso responder?
É preciso sair do lugar?
É preciso pontuar?
É preciso repetir?
É preciso desautorizar?
É preciso trazer terror?
É preciso terror tragar?
É possível cavalgar um dragão?
É preciso.
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
ELES TAMBÉM GRITAM
Antes da coisa toda começar é uma espécie de celebração do teatro como caixa espelhada onde os reflexos humanos se multiplicam. Uma celebração que joga luz sobre o instante em que a morte se aproxima dos homens, aquele instante em que a vida ganha novas proporções, respira mais ar e adquire sentidos mais amplos.
Diante da morte a vida ganha força. Diante do silêncio a música avança. Diante da apatia o corpo dança. E é exatamente nesse instante que tudo começa."
Trecho do programa do espetáculo "Antes da coisa toda começar" do Armazém Companhia de Teatro em cartaz no CCBB
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
Notas sobre a experiência e o saber de experiência
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
WikiLeaks,
pois então, concretizaram a melhor ideia de terrorismo de todas. lembram-se que eu tava cismado com isso? pois é, está acontecendo. estamos fazendo parte de um momento nevrálgico da história universal. anos lá na frente, olharemos para traz e diremos no ano de 2010, um ciberativista divulgou pela internet um quantidade imensa de documentos secretos do governo norte-americano.
eu estou enlouquecendo com essa parada.
caramba.
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
Travessia - Milton Nascimento
Quando você foi embora fez-se noite em meu viver
Forte eu sou mas não tem jeito, hoje eu tenho que chorar
Minha casa não é minha, e nem é meu este lugar
Estou só e não resisto, muito tenho prá falar
Solto a voz nas estradas, já não quero parar
Meu caminho é de pedras, como posso sonhar
Sonho feito de brisa, vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar
Vou seguindo pela vida me esquecendo de você
Eu não quero mais a morte, tenho muito que viver
Vou querer amar de novo e se não der não vou sofrer
Já não sonho, hoje faço com meu braço o meu viver
Solto a voz nas estradas, já não quero parar
Meu caminho é de pedras, como posso sonhar
Sonho feito de brisa, vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
"A um ausente"
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enloqueceu, enloquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.
Carlos Drummond de Andrade
Fonte: http://www.casadobruxo.com.br/poesia/c/ausente.htm
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
o atravessar vem por vias inúmeras
Clique sobre a imagem para vê-la em tamanho original. O GLOBO - 6 de dezembro de 2010 |
sábado, 4 de dezembro de 2010
Você partiu,
como se diz,
para o outro mundo.
Vácuo. . .
Você sobe,
entremeado às estrelas.
Nem álcool,
nem moedas.
Sóbrio.
Vôo sem fundo.
Não, lessiênin,
não posso
fazer troça, -
Na boca
uma lasca amarga
não a mofa.
Olho -
sangue nas mãos frouxas,
você sacode
o invólucro
dos ossos.
Sim,
se você tivesse
um patrono no "Posto"(1) -
ganharia
um conteúdo
bem diverso:
todo dia
uma quota
de cem versos,
longos
e lerdos,
como Dorônin(2).
Remédio?
Para mim,
despautério:
mais cedo ainda
você estaria nessa corda.
Melhor
morrer de vodca
que de tédio !
Não revelam
as razões
desse impulso
nem o nó,
nem a navalha aberta.
Pare,
basta !
Você perdeu o senso? -
Deixar
que a cal
mortal
Ihe cubra o rosto?
Você,
com todo esse talento
para o impossível;
hábil
como poucos.
Por quê?
Para quê?
Perplexidade.
- É o vinho!
- a crítica esbraveja.
Tese:
refratário à sociedade.
Corolário:
muito vinho e cerveja.
Sim,
se você trocasse
a boêmia
pela classe;
A classe agiria em você,
e Ihe daria um norte.
E a classe
por acaso
mata a sede com xarope?
Ela sabe beber -
nada tem de abstêmia.
Talvez,
se houvesse tinta
no "Inglaterra"(3);
você
não cortaria
os pulsos.
Os plagiários felizes
pedem: bis!
Já todo
um pelotão
em auto-execução.
Para que
aumentar
o rol de suicidas?
Antes
aumentar
a produção de tinta!
Agora
para sempre
tua boca
está cerrada.
Difícil
e inútil
excogitar enigmas.
O povo,
o inventa-línguas,
perdeu
o canoro
contramestre de noitadas.
E levam
versos velhos
ao velório,
sucata
de extintas exéquias.
Rimas gastas
empalam
os despojos, -
é assim
que se honra
um poeta?
-Não
te ergueram ainda um monumento -
onde
o som do bronze
ou o grave granito? -
E já vão
empilhando
no jazigo
dedicatórias e ex-votos:
excremento.
Teu nome
escorrido no muco,
teus versos,
Sóbinov(4) os babuja,
voz quérula
sob bétulas murchas -
"Nem palavra, amigo,
nem so-o-luço".
Ah,
que eu saberia dar um fim
a esse
Leonid Loengrim!(5)
Saltaria
- escândalo estridente:
- Chega
de tremores de voz!
Assobios
nos ouvidos
dessa gente,
ao diabo
com suas mães e avós!
Para que toda
essa corja explodisse
inflando
os escuros
redingotes,
e Kógan(6)
atropelado
fugisse,
espetando
os transeuntes
nos bigodes.
Por enquanto
há escória
de sobra.
0 tempo é escasso -
mãos à obra.
Primeiro
é preciso
transformar a vida,
para cantá-la -
em seguida.
Os tempos estão duros
para o artista:
Mas,
dizei-me,
anêmicos e anões,
os grandes,
onde,
em que ocasião,
escolheram
uma estrada
batida?
General
da força humana
- Verbo -
marche!
Que o tempo
cuspa balas
para trás,
e o vento
no passado
só desfaça
um maço de cabelos.
Para o júbilo
o planeta
está imaturo.
É preciso
arrancar alegria
ao futuro.
Nesta vida
morrer não é difícil.
O difícil
é a vida e seu ofício.
(Maiakóvski responde.)
Até logo, até logo, meu companheiro
Guardo-te no meu peito e te asseguro:
O nosso afastamento passageiro
É sinal de um encontro no futuro.
Adeus amigo, sem mão nem palavras
Não faças um sobrolho pensativo.
Se morrer, nesta vida, não é novo,
Tampouco há novidade em estar vivo!
(Iessiênin escreveu esse poema na parede de um quarto do Hotel Inglaterra, em São Petersburgo, usando como tinta o próprio sangue dos pulsos, dedicando-o ao seu amigo Vladímir Mayakovsky. Em seguida Iessiênin se enforcou. Era madrugada do dia 27 de dezembro de 1925.)
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
ATRAVESSADA
EU:
Oi Lê, a gente não se fala há muito tempo e eu aqui sinto vontade de saber como você está, não tenho notícias suas...
Estou reestreando um espetáculo e gostaria muito que você fosse ver. Eu gosto do espetáculo e gostaria de compartilhar isso com você. Você sabe o carinho e admiração que tenho por ti.
beijos grandes
ELA:
oi flávia querida,
acabo de abotoar um brinco de pérola
em minha orelha esquerda
e enganchar no furo da orelha direita,
em celebração à pintora mexicana frida kahlo,
um anzol de ouro de onde pende uma mão de boneca
feita de plástico cor da pele
de não mais que um centímetro.
imediatamente antes disso
vesti uma blusa florida
e uma saia preta de cintura alta.
calcei um sapato que se fecha com uma tira no tornozelo
e borrifei dois lances de perfume
um em cada um dos lados do pescoço,
assim bastante próximo do peito.
me pus à frente do espelho do guarda-roupas
e prendi parte do cabelo num coque embaraçado no alto da cabeça.
contornei meus olhos com um lápis marrom bem claro
de maquiagem discreta
e pintei, com as mãos bem leves, os lábios com batom vermelho
da cor do tomate quando está maduro.
ontem fui ao dentista
e meus dentes estão branquinhos
e minha boca está cheirosa.
estou pronta
e venho sentar-me diante do computador
para escrever.
em minha caixa de e-mails
aqui está
uma mensagem sua.
obrigada pelo seu convite,
quando a gente faz um trabalho que julga bom
sente vontade de compartilhar:
é muito prazeroso terminar um bom trabalho,
devolve ao corpo/alma tudo que lhe foi tomado
no árduo esforço de fatura...
não se chateie com a notícia de que não vou ver o espetáculo.
se não vou vê-lo
não deixo de desejar que ele continue
construindo sentidos e alegrias para vocês que o fazem
e para o público que a ele se entrega.
apenas não quero ver peça alguma de teatro em meses,
me dedico a outras linguagens e me desinteresso e me despojo com alegria dos
deveres de quem se encontra comprometido com a linguagem teatral:
não assisto e não penso teatro, neste momento.
meu compromisso e toda minha energia
agora percorre a escrita -
ler é um jeito de escrever,
escrever é um jeito de ler:
isto é tudo o que me apraz.
dito isto,
desejo
Merda,
que é para todos que têm cu
o melhor que se pode oferecer
porque
conforme o teatro me ensinou
onde cheira a merda,
cheira a ser
um grande beijo
L
A resposta dela me atravessou completamente. Estou zonza. E feliz.
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
sobre (re)existência
Marina Abramovic
1 a conduta de vida do artista:
- o artista nunca deve mentir a si próprio ou aos outros
- o artista não deve roubar idéias de outros artistas
- os artistas não devem comprometer seu próprio nome ou comprometer-se com o mercado de arte
- o artista não deve matar outros seres humanos
- os artistas não devem se transformar em ídolos
- os artistas não devem se transformar em ídolos
- os artistas não devem se transformar em ídolos
2 a relação entre o artista e sua vida amorosa:
- o artista deve evitar se apaixonar por outro artista
- o artista deve evitar se apaixonar por outro artista
- o artista deve evitar se apaixonar por outro artista
3 a relação entre o artista e o erotismo:
- o artista deve ter uma visão erótica do mundo
- o artista deve ter erotismo
- o artista deve ter erotismo
- o artista deve ter erotismo
4 a relação entre o artista e o sofrimento:
- o artista deve sofrer
- o sofrimento cria as melhores obras
- o sofrimento traz transformação
- o sofrimento leva o artista a transcender seu espírito
- o sofrimento leva o artista a transcender seu espírito
- o sofrimento leva o artista a transcender seu espírito
5 a relação entre o artista e a depressão:
- o artista nunca deve estar deprimido
- a depressão é uma doença e deve ser curada
- a depressão não é produtiva para os artistas
- a depressão não é produtiva para os artistas
- a depressão não é produtiva para os artistas
6 a relação entre o artista e o suicídio:
- o suicídio é um crime contra a vida
- o artista não deve cometer suicídio
- o artista não deve cometer suicídio
- o artista não deve cometer suicídio
7 a relação entre o artista e a inspiração:
- os artistas devem procurar a inspiração no seu âmago
- Quanto mais se aprofundarem em seu âmago, mais universais serão
- o artista é um universo
- o artista é um universo
- o artista é um universo
8 a relação entre o artista e o autocontrole:
- o artista não deve ter autocontrole em sua vida
- o artista deve ter autocontrole total com relação à sua obra
- o artista não deve ter autocontrole em sua vida
- o artista deve ter autocontrole total com relação à sua obra
9 a relação entre o artista e a transparência:
- o artista deve doar e receber ao mesmo tempo
- transparência significa receptividade
- transparência significa doar
- transparência significa receber
- transparência significa receptividade
- transparência significa doar
- transparência significa receber
- transparência significa receptividade
- transparência significa doar
- transparência significa receber
10 a relação entre o artista e os símbolos:
- o artista cria seus próprios símbolos
- os símbolos são a língua do artista
- e a língua tem que ser traduzida
- Às vezes, é difícil encontrar a chave
- Às vezes, é difícil encontrar a chave
- Às vezes, é difícil encontrar a chave
11 a relação entre o artista e o silêncio:
- o artista deve compreender o silêncio
- o artista deve criar um espaço para que o silêncio adentre sua obra
- o silêncio é como uma ilha no meio de um oceano turbulento
- o silêncio é como uma ilha no meio de um oceano turbulento
- o silêncio é como uma ilha no meio de um oceano turbulento
12 a relação entre o artista e a solidão:
- o artista deve reservar para si longos períodos de solidão
- a solidão é extremamente importante
- Longe de casa
- Longe do ateliê
- Longe da família
- Longe dos amigos
- o artista deve passar longos períodos de tempo perto de cachoeiras
- o artista deve passar longos períodos de tempo perto de vulcões em erupção
- o artista deve passar longos períodos de tempo olhando as corredeiras dos rios
- o artista deve passar longos períodos de tempo contemplando a linha do horizonte onde o oceano e o céu se encontram
- o artista deve passar longos períodos de tempo admirando as estrelas
no céu da noite
13 a conduta do artista com relação ao trabalho:
- o artista deve evitar ir para seu ateliê todos os dias
- o artista não deve considerar seu horário de trabalho como o de funcionário de um banco
- o artista deve explorar a vida, e trabalhar apenas quando uma idéia se revela no sonho, ou durante o dia, como uma visão que irrompe como uma surpresa
- o artista não deve se repetir
- o artista não deve produzir em demasia
- o artista deve evitar poluir sua própria arte
- o artista deve evitar poluir sua própria arte
- o artista deve evitar poluir sua própria arte
14 as posses do artista:
- os monges budistas entendem que o ideal na vida é possuir nove objetos:
1 roupão para o verão
1 roupão para o inverno
1 par de sapatos
1 pequena tigela para pedir alimentos
1 tela de proteção contra insetos
1 livro de orações
1 guarda-chuva
1 colchonete para dormir
1 par de óculos se necessário
- o artista deve tomar sua própria decisão sobre os objetos pessoais que deve ter
- o artista deve, cada vez mais, ter menos
- o artista deve, cada vez mais, ter menos
- o artista deve, cada vez mais, ter menos
15 a lista de amigos do artista:
- o artista deve ter amigos que elevem seu estado de espírito
- o artista deve ter amigos que elevem seu estado de espírito
- o artista deve ter amigos que elevem seu estado de espírito
16 os inimigos do artista:
- os inimigos são muito importantes
- o Dalai Lama afirmou que é fácil ter compaixão pelos amigos; porém, muito mais difícil é ter compaixão pelos inimigos
- o artista deve aprender a perdoar
- o artista deve aprender a perdoar
- o artista deve aprender a perdoar
17 a morte e seus diferentes contextos:
- o artista deve ter consciência de sua mortalidade
- Para o artista, como viver é tão importante quanto como morrer
- o artista deve encontrar nos símbolos da sua obra os sinais dos diferentes contextos da morte
- o artista deve morrer conscientemente e sem medo
- o artista deve morrer conscientemente e sem medo
- o artista deve morrer conscientemente e sem medo
18 o funeral e seus diferentes contextos:
- o artista deve deixar instruções para seu próprio funeral, para que tudo seja feito segundo sua vontade
- o funeral é a última obra de arte do artista antes de sua partida
- o funeral é a última obra de arte do artista antes de sua partida
- o funeral é a última obra de arte do artista antes de sua partida
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
Leveza
"(...)Nesta conferência, buscarei explicar - tanto para mim quanto para os ouvintes - a razão por que fui levado a considerar a leveza antes um valor que um defeito; direi quais são, entre as obras do passado, aquelas em que reconheço o meu ideal de leveza; indicarei o lugar que reservo a esse valor no presente e como o projeto no futuro.
Começarei por esse último ponto. Quando iniciei minha atividade literária, o dever de representar nossa época era um imperativo categórico para todo jovem escritor. Cheio de boa vontade, buscava identificar-me com a impiedosa energia que move a história de nosso século, mergulhando em seus acontecimentos coletivos e individuais. Buscava alcançar uma sintonia entre o espetáculo movimentado do mundo, ora dramático ora grotesco, e o ritmo interior picaresco e aventuroso que me levava a escrever. Logo me dei conta de que entre os fatos da vida, que deviam ser minha matéria-prima, e um estilo que eu desejava ágil, impetuoso, cortante, havia uma diferença que eu tinha cada vez mais dificuldade em superar. Talvez só então estivesse descobrindo o pesadume, a inércia, a opacidade do mundo - qualidades que se aderem logo à escrita, quando não encontramos um meio de fugir a elas.
Às vezes o mundo inteiro me parecia transformado em pedra: mais ou menos avançada segundo as pessoas e os lugares, essa lenta petrificação não poupava nenhum aspecto da vida. Como se ninguém pudesse escapar ao olhar inexorável da Medusa.
O único herói capaz de decepar a cabeça da Medusa é Perseu, que voa com sandálias aladas; Perseu, que não volta jamais o olhar para a face da Górgona, mas apenas para a imagem que vê refletida em seu escudo de bronze. Eis que Perseu vem ao meu socorro até mesmo agora, quando já me sentia capturar pela mordaça de pedra - como acontece toda vez que tento uma evocação histórico-autobiográfica. Melhor deixar que meu discurso se elabore com as imagens da mitologia. Para decepar a cabeça da Medusa sem se deixar petrificar, Perseu se sustenta sobre o que há de mais leve, as nuvens e o vento; e dirige o olhar para aquilo que só pode se revelar por uma visão indireta, por uma imagem capturada no espelho. Sou tentado de repente a encontrar nesse mito uma alegoria da relação do poeta com o mundo, uma lição do processo de continuar escrevendo. Mas sei bem que toda interpretação empobrece o mito e o sufoca:não devemos ser apressados com os mitos; é melhor deixar que eles se depositem na memória, examinar pacientemente cada detalhe, meditar sobre seu significado sem nunca sair de sua linguagem imagística. A lição que se pode tirar de um mito reside na literalidade da narrativa, não dos acréscimos que lhe impomos do exterior.
A relação entre Perseu e a Górgona é complexa: não termina com a decapitação do monstro. Do sangue de Medusa nasce um cavalo alado, Pégaso; o peso da pedra pode reverter em seu contrário; de uma patada, Pégaso faz jorrar no monte Hélicon a fonte em que as Musas irão beber.Em algumas versões do mito, será Perseu quem irá cavalgar esse maravilhoso Pégaso(...).Quanto a cabeça cortada, longe de abandoná-la, Perseu a leva consigo (...), uma arma que utiliza apenas em casos extremos e só contra quem merece o castigo de ser transformado em pedra.(...)É sempre na recusa da visão direta que reside a força de Perseu, mas não na recusa da realidade do mundo de monstros entre os quais estava destinado a viver, uma realidade que ele traz consigo e assume como um fardo pessoal."
Italo Calvino,"Seis propostas para o novo milênio"
Estrela
TARÔ MITOLÓGICO
PANDORA
Tal como Eva, Pandora é uma mulher. Ela é o lado feminino da natureza humana, sentimento, instinto, imaginação e intuição, que deve nortear a verdade a qualquer custo.
Os insetos, diferentes das criaturas de sangue quente, estão distantes da consciência e do relacionamento. Não podemos nos comunicar com eles, mas somos atormentados e incentivados pela própria natureza.
A arca que Zeus envia para a humanidade por Pandora é como a maçã do Jardim do Éden: algo proibido, mas impossível de resistir. Ela contém o conhecimento da realidade da vida humana, o que significa a morte da ingenuidade e da fantasia infantil. Mas também contém o atributo mais precioso do espírito humano.
TARÔ EGÍPCIO
A ESPERANÇA
- Estrela de oito pontas: Estrela de Vênus, a Estrela Guia, a Estrela dos Magos, nossa luz interior. A Estrela de Sirius, da constelação do Cão Maior, só aparecia no céu egípcio na época das enchentes do Nilo mostrando a chegada das chuvas. A confiança na natureza trazendo mais fé e paciência aos processos humanos.
- Nua: fragilidade, vulnerabilidade, pureza, consciência da própria realidade.
- Ânforas: elixir da vida que espalha sobre a terra a seiva universal da vida, despojamento.
- Flor de Lótus: em cima do chacra coronário, paranormalidade.
- Pena sobre a cabeça: justiça.
- Água: purificação, saída de situação emocionalmente fragilizada.
- Dois triângulos formando um quadrado: necessidade de realizar na matéria, solução de problema através da espiritualidade e do intelecto.
- A deusa Nut jogando água na terra e nas águas. Representando o ciclo das águas, a ação do tempo e os limites que as leis da natureza impõem a nossa vida.
TARÔ DE MARSELHA
- Uma jovem de joelhos, pura e nua em perfeita integração com a natureza, simboliza “novas esperanças”.
- A nudez representa a simplicidade, a humildade, o amor, a beleza e a paz.
- Ela joga fora a água do jarro, significa que está jogando fora tudo que não nos serve mais.
Sonhos
Começo a ter medo adormecer.
Desde o enterro que não paro de ter sonhos perturbadores.
Sonhei dois dias depois do enterro com ela desesperada, louca,vestida de festa, correndo para o mar.Assisto ela entrar na água e morrer afogada sem impedir. Não sem medo, sem dor, paralisada, assisto.Não sei se respeito sua atitude, se não sei como agir...Quando ela some por completo no mar, me desespero por encontrar seus anéis perdidos na beira da praia.Como quem busca o corpo do morto.Encontro um dos seus anéis.Um com a figura de uma onça abraçando um macaco, coloco em meu dedo e como num passe de mágica o metal é consumido por meu corpo virando tatuagem.
Sonhei depois que voltava a casa dela.Não havia ninguém,apenas sua cachorra.Lembram daquela salsicha preta?Lembram daquele bichinho alegre, doce, que vivia dando carinho a quem quer que fosse?Ela estava lá,trancada no quintal como se estivesse lá abandonada há anos. Parecia ressentida e desencantada com as pessoas.Não fazia mais aquela festa por qualquer carinho.Preocupada, quis fazer qualquer coisa pelo seu afeto, para voltar a ver nela algo de como era quando a conheci.Algo que parecia haver se perdido.Ela pareceu convidar me a descer para o quintal e ver como tudo tinha mudado.Eu desci e encontrei tudo com um ar decadente e abandonado.Como se fossem vestígios de uma antiga civilização.Mas aquela era nossa civilização.Eu ainda estava viva.Quis gritar.Acordei desesperada.
Sonhei hoje que ia com Mateus a casa de um sábio guru que me ajudaria a dissipar o medo e o desespero.Ele propunha tarefas e eu me "curava" resolvendo-as.Uma das tarefas que ele me propôs foi sentar me frente a uma serpente.Tinha que fazer o movimento de ir até a cadeira posicionada frente a serpente,sentar me e encará-la. Se demonstrasse todo meu medo ela me devoraria,se conseguisse manter dignidade e respeito por nós duas e simplesmente me sentasse, nós poderiamos nos contemplar e partir quando quizessemos.Tentei uma vez e quase fui morta.O mestre me disse para tentar novamente.Tentei.Sentei me.Até agora lembro das coisas que contemplei nos olhos da serpente.
Acordei e busquei o tarô.Tirei uma carta.Era a carta da Estrela.Ela dizia assim:a imagem de Pandora e a estrela da esperança são símbolos de uma parte do ser humano que, a despeito das frustrações e desapontamentos, da depressão e das perdas, ainda tem forças para se agarrar ao sentido da vida e ao futuro que poderá superar a infelicidade do passado.
(...) os olhos de Pandora estão fixos não na infelicidade da condição humana, mas na certeza irracional e inexplicável de que muito em breve uma nova luz brilhará.
(...) dessa maneira a Estrela, guia da esperança e da fé, surge não da intenção deliberada, mas das cinzas da Torre que foi destruída anteriormente.
O louco espera no meio dos destroços sem saber ao certo como ou o que deverá reconstruir. E no meio da confusão e da destruição das antigas formas e estruturas, surge a suave, tímida e no entanto extremamente forte Estrela da esperança.