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segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A GRANDE TRANSGRESSÃO

Mais uma contribuição do Juliano para o nosso processo:

"Cansei de carregar meu fim de mundo pra passear no bairro com o desastre atrás e o medo na frente. Essa boca também esgotou-se na tarefa de narrar escombros. Agora o vazio é bem vindo pois ele é lugar para guardar o amigo! Haverá agora em mim um outro olhar e quando eu viajar e ver o mar, ou ver um relógio de flores na cidade serrana, ou alguma pintura viva e turbulenta, estarei olhando pela Letícia e simultaneamente ela que estará olhando através de mim. Agora eu compreendo porque eu era feito de tanto vazio. É para que coubesse o outro, o mundo do outro. Essa imensidão que me ultrapassa tanto existirá em mim e por isso, eu serei menor e maior ao mesmo tempo.

Você sabe que uma vez eu fui com ela numa festa e ela carregava uma bolsinha esverdeada cheia de cacarecos. Durante a festa sentou-se no gramado e perdeu a bolsa. Quando foi embora passou a mão pelo jardim e pensou ter pego a tal bolsa, mas ela estava com uma tartaruguinha na mão. Já no carro alguém perguntou: o que você está fazendo com essa tartaruguinha no colo? E ela levou um grande susto, voltamos ao jardim e ficamos procurando a bolsa. As pessoas riam tanto junto dela que o mundo parecia estar sempre começando. Sempre perto de um caroço surreal, um núcleo mágico e abundante. É estranho que hoje se meçam as vidas pela longevidade quando muitas vezes uma longa vida jamais conheceu um grande sorriso como o dela.

Eu quis tanto experimentar e transgredir, mas agora percebo que a grande transgressão é o salto do outro para dentro de mim. Como é possível essa maravilha?"