Quando nos encontramos a primeira vez, em outubro de 2010, no teatro Glaucio Gil, eu sabia que aquele não era mais um encontro burocrático onde pessoas se reunem para exibir certezas e pagar as contas.Não, aquele era um encontro onde pessoas se buscavam para juntas poder ao menos uma vez arriscar limites,caminhar por incertezas para colher juntos alguma verdade sincera,alguma coisa verdadeiramente pulsante,algo que se quer dizer.Havia uma necessidade imensa de dizer junto e uma vontade enorme de tentar realmente trocar com o outro,usar-se,gastar-se e poder entregar a beleza do nosso jogo juntos para o mundo.Algo como quem arrisca-se a sentir a pontência de estar vivo e estar rodeado de vida.
Começamos pensando em como somos assaltados por atravessamentos.Quais coisas doces e amargas nos atravessam e deixam em nós um rastro,mudando nosso curso em qualquer esquina.Pensamos como mesmo nos lugares mais íntimos,enlatamos nossos afetos em convenções deixando inescrupolusamente a vida escorrer pelos dedos.Pensamos na claustrofobia que transformamos o dia-a-dia.Pensamos como sobram motivos para nos retirar de tudo.E como conhecemos pessoas que nos acompanhavam que se retiraram da vida.Pensamos em poder transitar juntos por isso e profanar o silêncio imposto pelo sentimento inominável desse atravessamento.Pensamos em inventar uma história para contar disso que se viveu,com que se lutou,que nos ultrapassou e exigiu que aceitassemos que há coisas que simplesmente não tem resolução.Pensamos: como seguir depois disso?E pudemos,cada um a sua maneira, olhar para o mundo e ver que sobraram afetos ainda pulsantes,sobraram as lembranças, a possibilidade de se falar delas, poder rir de novo e dançar.Juntos.Para mim especialmente fica a certeza de que a descoberta de nós mesmos e o arriscar apropriar se da existência ainda nos farão experimentar a potência de poder parir galáxias.
Fica aqui para os espectadores o que construímos nessa tentativa de falar um pouco dessa experiência que é estar vivo e dividir a vida juntos.