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segunda-feira, 13 de junho de 2011

ensaio 35

13/06/11, unirio, sala 602
diogo, dominique, fred, flávia, marília, nina e vítor

TRABALHO COM ANDAMENTO, DURAÇÃO…
Ao som de Philip Glass

No bater das palmas, alternar a velocidade do andar (quantos tipos distintos de rápido ou lento podemos ter?);
Som de marteladas no chão quando os atores correm (como ser ágil e silencioso? como ser lento e barulhento? como somar em si opostos?)
O jogo com andamentos e durações é uma forma de estabelecer atmosferas e selar o encontro.

LENÇO.
Ao som de Philip Glass, Beirut, Florence & the Machine, NX Zero e Timbaland.

RAIA.
Nina, Rita, Vítor, Cecília, Inácio, Odilon, Fred, Andréia, Dominique e Marília.

Se agem assim pelo movimento, é possível, eu sugiro, que tenham eles também o discurso assim tão distinto. Como olhar por pontos de vista diferentes aqui que falamos, a opinião que expressamos, a crença na qual acreditamos?

Duas deitadas lentas: Metamorphosis Three – Philip Glass
Dois pulos ao mesmo tempo: Dead Finks Don’t Talk – Brian Eno
Duas viradas para frente ao mesmo tempo: I’ll Come Running – Brian Eno
Uma proporção 4:1: Hair – Lady Gaga
Um tempo lentíssimo: tirar a música

Pela primeira vez eu vejo vocês de fato fazendo frente à agitação de uma música. Sabendo brincar com ele, mas também abandoná-la. Isso reforça a atmosfera que reina entre vocês.

Deixa o gesto entrar devagar pra não perder a resposta entre vocês.

A repetição de um único gesto e dos gestos dos outros funciona perfeitamente bem. Sobretudo, quando não sublinhamos o uso do gesto. Soa como um organismo só, vocês. Mas um organismo divergente, que se move de maneiras muito distintas, porém, costurado por sutilezas e por sensações, quando não idênticas, muito parecidas.

Trabalho com o Universo Gestual da própria personagem. Vendo-os assim, soltos, fico pensando no encontro do gestual com o verbo. No encontro de um desses gestos com uma dada atmosfera.

Possibilidade de lançar um gesto para fora da raia, como se fosse preciso não revelá-lo para quem está dentro do jogo, mas justamente tirá-lo de dentro. E a possibilidade de entregar um gesto pra fora e entregar um gesto ao outro. Sem repeti-lo, apenas recebendo-o.

Neroli Music – Brian Eno

IMPROVISAÇÃO (como atores e não como personagens)
Nina traz aos atores um comentário sobre algo que leu e que lembrou a ela o processo do espetáculo COMO CAVALGAR UM DRAGÃO. Os atores, conforme conversam sobre, devem jogar com a possibilidade de se afetarem pelo o que é dito e discutido.

NINA - Eu não entendo muito de futebol, mas o Vasco foi campeão na semana passada e as pessoas ficaram muito felizes e juntas, seilá, parecia carnaval. Eu fiquei super emocionada com o calor assim, ai eu cheguei em casa e fui procurar por vídeos de torcida. Eu nunca tive interesse por futebol, mas eu fiquei tão emocionada com o Vasco. Eu fiquei pensando na união daquelas pessoas ali. É a união, não pelos jogadores, mas por uma bandeira. Elas são muito unidas naquele momento. Elas fazem todas muito sentido umas pras outras e eu fico me perguntando qual é o lugar desse encontro e eu lembrei de DRAGÃO pela liga entre as pessoas. Eu lembrei de DRAGÃO por causa do Vasco.

Você é vascaína?
Eu nunca fui disso de futebol.
Eu sou. Eu fui na semi-final.
E você ficou emocionada?
Eu não sei se eu acho bonito.
Eu acho bonito.
Eu não sei se eu acho bonito.
Eu acho meio uma alienação.
Eu me sinto meio ET.
Meu pai é torcedor.
Qual é a vantagem de ganhar ou de perder
As coisas não precisam ser feitas por vantagem ou não
Quantas formas de ser alienados poderiam ser boas?
Eu chamaria isso de paixão. E não de alienação.
Sei lá, esse é jeito dessas pessoas.
Eu nem sou alienado lendo, porque eu não leio mundo.
Talvez você seja alienado pra população brasileira.
Você não compartilha.
Perguntaram pro Leminski, pra que poesia?
Ele disse, pra que um gol do Zico? É bonito, só isso.
As pessoas matam e morrem por causa disso.
É uma forma de se unir de estar na mesma vibração.
Eu fui uma vez no Maracanã pra fazer prova.
Alienação pra mim é desmedido.
É importante que as pessoas matem e morram por uma coisa que não seja dinheiro.
Estranho isso, né?
Se você fosse morta por isso?
Saúde.
Eu prefiro ficar na inconformidade.
Vai sofrer muito.
Faz parte da vida.
Você tambémm?
Pô, pra caralho. Mas uma vez,
Eu torço pro Palmeiras.
Eu tava aqui no Rio e fui assistir final de campeonato, no Maracanã e só tinha Flamenguista.
Na hora do gol, o Flamengo fez uma HOLA ao redor do Maracanã.
Eu detesto futebol, mas sei lá, são poucas coisas que unem as pessoas desse jeito.
Quando me pediam pra correr atrás da bola, eu achava super ridículo.
Brasil, Copa do Mundo, você não gosta?
Ai é que tá, nem Copa do Mundo eu me reúno,
E falta?
É só cair naquele quadrado.
O jogador pode ser expulso por isso, mesmo que não atinja.
E impedimento, vocês entendem?
Não vale. O time inteiro fica impedido. O time inteiro tem que estar junto.
Você tá ultrapassando a trave, volta pra cá.
Tem a linha imaginária.
Que bosta de futuro.
É isso que é torcer, bem vindo ao mundo da paixão.
Eu gosto de vôlei.
Um jogador de futebol que viesse aqui pra um ensaio ia achar a gente um tanto alienado.
Depende do ponto de vista.
Eu já fiz um gol olímpico.
Eu fiquei alienado com aquele monte de gente em cima de mim.
Podia ter uma bola aqui pra gente brincar.
Eu tenho uma bola de handball em casa.
Bate três?
Três cortes!
Só sei fazer gol olímpico.

Marília sugeriu a banda DEAD CAN DANCE.

CONVERSA.

Pensar o personagem como uma união de dois discursos (corporal e verbal), que podem ser dissociados e usados em conjunto ou separadamente. O discurso corporal se manifesta pelo uso do UNIVERSO GESTUAL da personagem. O discurso verbal se manifesta pelas opiniões características de cada personagem, de seu nome e de seu jargão.

O pássaro é livre
na prisão do ar.
O espírito é livre
na prisão do corpo.
Mas, livre, bem livre
é mesmo estar morto.

LIBERDADE, Carlos Drummond de Andrade

Condicionamento. Re-educação corporal.

ANDAMENTO > metrônomo.
DURAÇÃO > cronômetro.

O gesto expressivo é um desdobramento de um gesto que era comportamental.

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