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quinta-feira, 9 de junho de 2011

Notas sobre a dramaturgia - Três

Gente, hoje quase me aconteceram duas tragédias por conta da escritura de nossa peça: 1) desidratação e 2) paranóia. Primeiro porque eu chorei tanto pra conseguir escrever algumas falas, para conseguir dizer o que eu já sabia ser preciso dizer mas que quase nunca vai de primeira. E segundo, porque a luz acabou de repente aqui em casa, o meu netbook entrou na bateria e a bateria dele não dura o tamanho da minha vontade. Ou seja, eu fiquei louco, baixei a luz da tela, tirei a música, desliguei o coller, tudo para tentar não gastar o resto de energia que em mim ainda havia de sobra.

Mas como disse a Marina Vianna, eu tô fazendo drama. Tudo certo. Hoje escrevi as cenas três e quatro. Eu havia dito: ESSE MAU ESTAR e RIR DAS MARCAS. A terceira cena tem seis páginas e a quarta tem quatro páginas. Devo dizer que cedi à tentação e criei um prólogo, que nada mais é do que as duas primeiras páginas de texto que já estavam na primeira cena e que já tem dono (Nina). Agora o mais ousado que fiz é o seguinte: havia escrito assim na capa do texto, Junho e Julho de 2011 e eu APAGUEI o mês de julho, ou seja, COMO CAVALGAR UM DRAGÃO será escrito apenas no mês de junho, ou seja – parte II –, o texto tá ficando pronto.

Foi quase impossível escrever a quarta cena. Muito difícil. Ela começa com uma longa fala do Inácio, que tinha 870 palavras, depois 600 e poucas, depois 470 e por último, cerca de 379. A dramaturgia, no ato de ser feita, vai dando o seu parecer ao mundo, a sua forma. Nosso texto tem muitos diálogos, cruzados, diretos, que se repetem. É leve e intenso, ao mesmo tempo. Feito de falas curtas e que duram, quase todas, apenas o tamanho de uma linha (é esse o meu dogma principal). Mas, e fico feliz em ter sido capturado por uma aposta tão nova para mim – é também feito de longas falas solitárias de cada um dos personagens.

A Rita faz isso bastante, sempre tem uma história pra contar. A Andréia também teve. O Odilon começa a terceira cena e o Inácio começa a quarta. O Odilon fala do que fez logo que saiu do cemitério no dia do enterro. E o Inácio tenta a todo custo convencer os amigos de que eles precisam rir um pouquinho da desgraça. É engraçado porque logo que terminam suas falas, elas meio que são ignoradas pelos personagens, como se eles soubessem daquilo que foi falado mas que não tivessem certeza se ouviram aquilo da boca do cara ou num sonho qualquer. Ou seja, o teor do que foi falado precisa ser revisitado no correr da cena e da fricção com os outros personagens.

Tem muita coisa pra falar, mas por agora, quero me liberar para passar pente fino nas cenas três e quatro e um pente extra-fino na quarta (que é a mais delicada até agora). O Inácio propôs um jogo meio absurdo que eu não sei se eu concordo. Ele cismou que quer sentir falta de ar. Colocou todo mundo louco. Tá uma gritaria esse arquivo CCumD.docx.

Ok, seguem falas da terceira cena:

Inácio Triste é quando a camisinha estoura. Isso é dez vezes pior.

Rita Que a gente tá planejando uma nova decoração pra essa sala.

Cecília Gente, tô chocada. Eu teria morrido.

Odilon Não faz isso. Pára, por favor. Pára, assim não, gente, não dessa forma.

Andréia Você tá falando que eu deveria ter passado cada momento que eu tive com a Lilla, um dia antes dela morrer, prevendo a morte dela que ninguém sabia que ia acontecer?

 

Vocês tão bailando, dentro do quarto, junto comigo. Um beijo e até já. Amanhã chego de noitinha ao Rio.

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