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segunda-feira, 20 de junho de 2011

Notas sobre a dramaturgia – Seis

CENA DOIS – MEDIDA DA TRAJETÓRIA

Quer dizer: como foi o caminho percorrido por cada um logo após a morte de Letícia? Mais que isso, essa cena deseja revelar ou problematizar como cada um respondeu a tudo aquilo que o mundo acenava em sua direção. Quer dizer: esses meninos receberam a medida do mundo ou quiseram impor ao mundo a sua medida? Ousaram viver o que vinha ou quiseram seguir impondo ao mundo alguma forma segura de respirar?

A medida da trajetória para todos eles foi outra. O peito avassalado saindo do corpo e se chocando. A cabeça indo longe. O desespero se espremendo e concentrando, fugindo e ganhando voz e tamanho. Tem gosto de desmedida. Metáfora possível de acontecer. É exagerado. Hiperbólico.

Ou seja: esta cena ambiciona nos dar o depois que ainda não sabemos. O depois que eles teriam vivido juntos. Essa cena quer dar aos amigos o oi que não veio, a sua chegada, depois de tanto tempo. Ao mesmo tempo, mostra como uns estão disponíveis para falar sobre isso e como outros não estão. A medida da trajetória no relato de Odilon nos serve para isso, para que se possa perceber como o caminho é capaz de ditar o tom de um corpo. Como a minha ira, pós-morte da Lilla, é capaz de ser dominada pelo desconhecido, pelo voo (para Paris).

Eles ali não percebem ainda (e talvez nunca venham a perceber), mas o reencontro ali em curso é outra trajetória que os convida a se desconhecer. Outra trajetória que a vida imprime sobre seus corpos e que talvez eles não tenham mais como se abster, sabem por quê? Porque o jogo ali empreendido diz respeito ao jogo em curso dentro do próprio íntimo. O jogo deles quer chegar numa forma de cavalgar o dragão. E, dentro de cada um, algo grita, pedindo reconhecimento e cuidado. Eles estão presos não porque foram trancados, mas porque não querem sair dali.

Porque ficar faz todo o sentido.

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