Eu tenho um problema tremendo. Preciso contar a uma pessoa, que seja, sobre isso que estou criando. Não importa o que seja o isso, importa contar. Ver nos olhos da pessoa a coisa se discernindo ou não. A minha irmã hoje chegou e num segundo eu já havia lido pedaços da primeira cena, falado a sinopse, contado das dificuldades, respondido a mil perguntas para, enfim, voltar-me saciado ao trabalho sobre o texto.
Gente, eu esqueci de tomar o antibiótico na hora exata porque estava engrenado, escrevendo.
Mas com essa distância, eu devo dizer, eu fiquei meio sozinho. Queria conversar com vocês, abrir milhões de coisas no ensaio de amanhã. Mas não será possível. Ainda estou preso aqui na casa da minha mãe, com alguns exames agendados. Bom, o que posso dizer é que a nossa primeira cena nasceu. E que ela tem dez folhas. E que ainda faltam cinco cenas. Sim, serão seis cenas. Não é uma divisão qualquer. Mas também não posso revelar o porquê.
O que posso dizer é que foi a cena que mais me surpreendeu até agora. Sabe aquela fala que você escreve e depois pára e se diz, meu deus, o fulano jamais teria falado isso, o que é bom, porque prova que nesta cena alguns lugares novos darão conta de revelar as personagens de maneira mais tridimensional do que eu pensava ser possível. Claro que isso é opinião de autor sobre o próprio filho, mas, é sincera mesmo assim.
Para não dizer que eu passei aqui só pra dar gosto, eu faço questão de selecionar uma fala de cada um, assim, bem fora do contexto. E por último, preciso dizer, Nina Balbi, sua primeira fala tem exatamente duas páginas. Do início ao fim. Seguem pedaços de momentos diferentes da cena. As falas não fazem sentido uma depois da outra:
Cecília Gente, trouxe ele pra ficar com a gente.
Odilon Tudo bem. A gente fala sobre isso mais tarde. É realmente algo que merece toda a nossa atenção.
Inácio Quem trouxe esse papo de escrotice foi você.
Andréia Eu quero fazer isso. Se vocês não quiserem, eu faço sozinha.
Rita Ai, que pena! Tudo o que eu precisava era de um vinho.
Ai, que agonia!