pensando pelo outro lado, encontro uma possível maneira que se configura como um não-atravessar. uma outra maneira que não é a indiferença (uma maneira possível para não permitir nenhum tipo de atravessamento). eu estive pensando que uma forma para não atravessar é justamente o se pausar no tempo. o congelar da vida e o cravar-se nela.
como fazê-lo? suicidando-se. ora, o suicídio é um pause no tempo. cria um ponto - nevrálgico (é clichê, é sincero) - a partir do qual a vida de quem fica parece girar ao redor. é um tempo que passa e permanece presente. é uma maneira de não ceder como se faz normalmente. é uma maneira de não atravessar só que via atravessamento. via soco, via punch, via soco, via chute e desnorteamento.
especulando em cima de luiz vaz de camões:
É um perigo que é só e persistente;
É um carregamento descontente;
É dor que beira a linha do morrer;
É um não querer-se mais de si ausente;
É o solitário a andar por entre as gentes;
É o nunca acostumar-se só contente;
É o cuidado que se ganha ao se perder;
É querer estar livre por vontade;
É o nunca acostumar-se só contente;
É o cuidado que se ganha ao se perder;
É querer estar livre por vontade;
É servir a quem te vence, ao vencedor;
É ter com quem nos mata a igualdade.
Mas como pode causar tanta dor
É ter com quem nos mata a igualdade.
Mas como pode causar tanta dor
E nos corações humanos desespero,
se tão contrário ao fim é ele mesmo
o próprio fim e o meio-termo?
se tão contrário ao fim é ele mesmo
o próprio fim e o meio-termo?