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sábado, 29 de janeiro de 2011

nosso mundo e seus discursos,

eu, vitor, fred e marília assistimos a outros pedaços de filmagens. ninguém mais duvida de que filmar os encontros é algo importante. é engraçado, porque é simbólica a presença da câmera, é um incômodo com o qual estamos aprendendo a lidar. e eu posso te convencer das coisas que digo mesmo com a câmera ligada.

está quente. a campainha acabou de tocar. desci e subi. estou de volta ao quarto e o ventilador está ligado. aquele mesmo ventilador que ontem se esforçou para dar conta de todos nós. foi um encontro intenso, incrível, que me dá forças. não devemos impedir que eles aconteçam. não devemos problematizar o fato de muito falarmos. isso faz parte do encontro. falar é importante. observar também. capturar o outro no momento de sua fala e ir construindo, estimulando a intimidade.

assistimos o dia no parque da chacrinha que era o primeiro dia da nina. o dia em que o vitor não esteve. o dia em que a flávia chorou, em que a marília chorou, o dia em que eu não chorei, mas que a dodô dançou e o fred e a nina opuseram suas opiniões de forma muito contundente. o dia, enfim, que a marília converteu coroas de rosas em vasos com flor.

o fred disse: é claro que a gente vai se encontrar e vai falar nisso, e vai chorar porque isso é algo que temos em comum. eu hoje digo que é claro que a gente vai se encontrar, vai falar porque a fala é ainda o que temos em comum. quando começarmos a partilhar os corpos, outra coisa falaremos, outra língua estará em jogo.

portanto, não vamos sofrer o verbo. vamos saltar. vamos gastar. precisamos ter intimidade com as palavras. precisamos nos esforçar para falar sem ter vontade também. é um jogo, sempre está sendo, sempre será. por favor, eu peço a vocês - de verdade - em seus íntimos, queiram abusar das medidas e dos clichês da representação, digam, refaçam, falem, opinem - nem sempre tudo aquilo que seja de fato a sua opinião. vamos amar o diferente. saibam acreditar no que não acreditam, saibam defender aquilo que não diz nenhum respeito a você. é nesse movimento que alargamos a nossa possibilidade do ser ator que por fim comporta em si o mundo e seus discursos.

desci para pegar o correio. era o correio na hora que a campainha tocou. vitor, encontrei seu anel. ele está aqui. depois te entrego. vou tomar café, são 10h37, acordei com a glicemia muita alta porque esqueci de tomar insulina antes de dormir. já tomei uma dose alta e aos poucos começo a me sentir fraco. preciso parar de escrever para comer.

comerei os restinhos. de biscoitos amanteigados, de mates, pães, queijos e enfim. como criar intimidade e depois partir? é agora que a peça do meu dia começa. pós diversão, pós fim, pós refeição. a louça está suja, o chão está sujo, as coisas fora do lugar. alguém que por agora me visse assim com a casa tão abalado, com o vazio tão inerte sobre o chão da sala, não poderia supor talvez como minha solidão neste momento é recheada.

acho que a nossa viagem vai ser incrível (independente de quando), porque como o vitor disse, lá não teremos como escapar. (ele disse justamente a fala do texto que prevê: então ninguém sai. eu tranco esse apartamento e ninguém sai. e agora, josé? você vai para onde?).

bjos,
diogo