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sexta-feira, 6 de maio de 2011

ensaio 22

Vamos lá, aqui estou. Ensaio 22. Ensaio que pra mim é um marco no nosso processo. ensaio para ser fixado no corpo feito tatuagem.
Eu fiquei emocionada. Eu ri, eu me espantei, eu me assustei, eu agradeci.
E tudo isso não porque eu não acreditasse que o que eu via não fosse acontecer, pelo contrário, eu sabia, só não imaginava que pudesse ser tão violentamente possível. Falo de violência porque quero falar de intensidade, de VERTICALIDADE. Falo de violência porque quero falar de crueldade fazendo renascer das cinzas a palavra-corpo de Antonin Artaud.

No improviso de hoje vi a explosão daquilo que só pode nascer via erupção.

é preciso transbordar para infiltrar os espaços dos corpos inertes e acomodados. Tsunami, força gigante, luta e guerrilha, seiva alimento rizomático da natureza mãe.
Espalhemos nossos corpos pelo chão, abocanhemos o rosto do outro com a voracidade de um felino
desabaremos,
enfrentaremos,
cavalgaremos.

E agora sei. É isso mesmo. Nossa peça é mesmo essa chama, essa ardência, esse desconforto, essa violência. É daí pra mais, repito, é daí pra mais. Se permitir. repito, se permitir. Foi o que eu vi. Por isso digo, agora eu sei.

Escrita da cena do improviso a partir do seguinte mote: PROGRESSÃO (Percurso. desenho. topologia. gráfico)

Eles estão espalhados pelo espaço
Falam.
Sobre o que?
Falam.
E a Lilla?
morreu, né?
se matou
e dái?
sei lá
é
piada
não faça isso
então chora, chora que eu quero ver
é brincadeira? então tá
quem chorar primeiro tem direito de pedir que o outro faça alguma coisa...
(os amigos tentam chorar, uns desistem outros riem)
dispersão
Inácio, olha só isso que engraçado
engraçado? não tem graça, chega, vocês não percebem? chega! tem uma hora que não dá pra ser só brincadeira, eu tô na lama, eu tô na merda, não era pra chorar? então olha
para com isso Inácio
agora eu não paro, eu não vou parar nunca mais eu vou dizer, eu vou gritar, escutem: NÓS SOMOS OS CULPADOS PELA MORTE DA LILLA!
não é isso
você está errado
não é isso
fale por você
do que você está falando?
você está errado
não estou errado, nós erramos NÓS ERRAMOS COM ELA, a gente devia ter estado mais com ela
não, não devíamos, eu estava com ela no dia do aborto, eu estava com ela no dia que ela terminou o namoro, eu estava com ela, entende?
mas não estava no dia mais importante Cecília, do que adianta?
mas não dá pra saber
não dá pra saber
eu fiz o que pude
fez pouco
cala essa boca! Para! Chega! Para de show! Você quer falar que a gente errou então eu quero que você faça uma lista, lista agora o seu primeiro erro, fala, porque aí sim eu vou saber porque ela se matou!
silêncio
você é ingrato Inácio, nós estamos aqui, a Lilla não está mais. Você é ingrato e eu tenho nojo de gente ingrata.
É porque eu falo a verdade! e você? Fala a verdade?
Eu falo
Ah, é? então fala
eu falo que você é ingrato, eu tenho nojo de você E NÃO SOU MAIS SUA AMIGA!
HAHAHAHAHA!
RISADAS
Vamos tentar fazer alguma coisa
o que a gente faz?
vamos conversar
então vamos conversar
não entendo porque a gente não chora junto. porque temos que chorar todos sozinhos?
se eu tivesse que te explicar porque não choro, teria que te dizer de todas as vezes que eu teria que ter chorado e não chorei

o Caco deve estar ligando, mas deixa

Hoje é o dia internacional da sinceridade
Vamos começar por você Inácio, aproveita que hoje é o dia que o casamento gay foi liberado pra dizer o que você precisa dizer pra Rita
o que é isso?
eu não acredito que você está dizendo isso?
o que foi gente, o que é Inácio?
pode acreditar, eu quero ouvir você falar, fala pra Rita, quem você está namorando?
para com isso Odilon
fala Inácio
para Odilon
alguém cala a boca dele
eu quero que ele fa..(Andréia beija Odilon)
Que isso Andréia?
Te beijo
Dança comigo
te faço uma delaração de amor
estou me sentindo mais vivo do que nunca
Rita, está tudo bem viu?
Fala Inácio, o que é?
Rita, eu...