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terça-feira, 3 de maio de 2011

No umbigo do furacão e no peito um gavião

Ensaio 20 - 02/05/2011

Flavinha,Fred,Marília,Vitor,Di e Nina.Dodô não pode vir.Sua avó faleceu sábado e ela segue ainda mais gripada.

Chegamos.Andamos pelo espaço demarcado.Fizemos aquecimento de uso e lemos texto que Di trouxe para nós.Sim,também não tenho palavras para toda a beleza.

Depois da primeira leitura, Di leu a motivação para cada personagem naquela cena.Anotei:

Rita- sente incômodo por estar presente com os amigos no momento da morte de outra amiga.Ela sente-se exposta.
Rita sente incômodo com as coisas que ela julga fora do lugar(ex:cama desfeita o dia todo,não comer na mesa com talheres) e com o desespero.Ela pode ser sincera e simples.

Cecília- está presente com a questão:Qual é o problema Inácio?

Andréia- é a primeira a defender Odilon de qualquer crítica que lhe façam,sobretudo sobre seu olhar poético.

Experimentamos o exercício de cada um ler todos os personagens.

Em uma das leituras surgiu a expressão:"Cala boca,Inácio!",como algo que pode ser dito toda vez que alguém fala algo equivocado;independente de ser Inácio o emissor.

Muito especial ouvir os outros experimentando.

Di teve que sair mais cedo e seguimos lendo.

Por volta das 12:40 o grupo foi ficando atento a hora da partida.Flávinha disse que tinha algo a dizer a Nina e que ficasse a vontade quem quizesse e pudesse ficar para ouvir.Vitor se foi,Fred se foi e ficaram Flávia,Nina e Marília.

"Perdoem me mas eu não saberia narrar o que aconteceu a seguir."

Lembro que começamos a ouvir Flavinha contando sobre uma mulher que tinha uma Cecília dentro de si.Lembro da Flavinha contando o encontro com essa mulher.Emocionadas com Cecília,começamos a falar sobre a vida.

O que é importante?

Seria tão bom que alguém mais velho pudesse transmitir com tranquilidade,afeto e segurança,sua experiência para os mais novos.Por que essa troca é tão rara?Como dói ver essa energia perdida,esse desencontro.As vezes o mundo nessa configuração parece não ter sentido.

Lembro de dizer o quanto fico chocada com a dificuldade de existir.

Vejo as gerações mais velhas e mais novas tomadas pelo medo,pela competição estéril,pelo excesso de registro de violência e pela escassez de registros de carinho.Embora o homem tenha desenvolvido a linguagem verbal há milhões de anos,vejo que muitas pessoas não conseguem pronunciar a palavra "eu". Eu mesma luto para conseguir pronunciá-la com propriedade.Luto para não me deixar soterrar pelos registros de violência.Luto para não esquecer que temos dentro de nós uma energia infinita capaz de parir galáxias.Também lembro de me sentir soterrada.

Como é frágil a existência.
Como tantas vezes partimos das mais lindas idéias e chegamos a mais devastadora destruição?

Como uma pessoa capaz de parir uma galáxia pode perder toda esperança,toda vontade de trocar com o outro?Como podemos morar no planeta terra e acordar um dia com a certeza de que não há saída?Com a única certeza de que se quer partir?


A troca é tão fundamental ao ser humano.

Esse foi um dia inesquecível.

Dispor-se a este trabalho é de tal confiança,amor e entrega.Natural que num encontro dessa natureza o outro nos revele,além daquilo que posso agora entregar para qualquer público,esse encontro renova e aquece tudo de mais lindo e potente dentro de mim.Me revela.Descubro a mim e a vida ao meu redor nas nossas trocas.Se amanhã não nos vissemos mais,um buraco se abriria em mim.Como podemos saber a gravidade de um encontro assim?

Sei pronunciar tantas palavras,mas me sinto perdida em como lembrar de tanto amor.Vontade de sorrir,ficar feliz e agradecer.Estou apaixonada pelo Dragão.Sinto me salva e completamente perdida.Desculpem se me excedo,sou uma mulher apaixonada.

Um abraço apertado em cada um.
Melhoras Dodô.
Volte logo.

"Que é a vida?Um frenesi,
Que é a vida?Uma ilusão,
uma sombra,uma ficção;
o maior bem é tristonho,
porque toda vida é sonho
e os sonhos,sonhos são."

Calderón