O ator é o personagem e o personagem é o ator.
Fiquei pensando que em um processo como este, uma divisão entre ator e personagem não existe.
Pensei isto a partir da conversa que a Flávia puxou na última sexta. Afinal, quais os limites entre o ator e o personagem? Quando o processo parte de um texto com personagens prontos, esta divisão é clara: o ator não forneceu material humano para a constituição do personagem, por mais que este mesmo personagem escrito possa ser interpretado de várias maneiras diferentes. De certa maneira, o ator recorre ao texto e seu ato de criação está confinado a certos limites dos quais não pode passar.
Porém, aqui, o ator cria o personagem a partir do processo. Fico pensando, e não sei se vocês concordam, que cada um dos personagens de vocês de certa maneira é uma parte de vocês. Não se trata de confundir um com o outro, mas de efetivamente ser o outro. Porque cada pessoa pode ser mil, cada indivíduo pode ser divíduo, a logica da unidade, quando se trata de pessoas, é extremamente frágil. Não somos sempre os mesmos. Em certos lugares, nos comportamos de uma forma. Em outros, de formas diferentes. E tem vezes que temos vontade de fazer coisas que não fazemos e fazemos coisas que não queremos.
O lugar do teatro parece ser essa libertação, ter um lugar onde possamos de certa maneira ser alguma coisa que não somos fora dali.
Fico pensando como cada um de vocês se identifica com o personagem que estão criando, e vêem neles uma pequena possibilidade da idéia de vocês mesmos. Não uma possibilidade boa, ou ruim, mas simplesmente uma possibilidade, ou seja, um possível que poderia não ser trazido à tona a não ser pela concretização corporal vivida ali, no palco.
Posso estar errado, mas é só um palpite.
Gostaria de saber: o que acham?