os amigos se reencontram dois meses após o dia do enterro. durante esse tempo não se viram, não estiveram juntos. o apartamento de lilla está sendo esvaziado e coube a eles, a pedido da mãe da amiga, que fossem até lá para dividir entre si os pertences dela, que os pais não souberam o que fazer, e que são as últimas coisas a impedir que o apartamento seja de fato vendido.
nesse tempo dos dois meses, a constatação da perda já foi instaurada. não quer dizer que não doa, não quer dizer ser algo simples, mas é que a falta já foi sentida. várias vezes, hora por hora, dia por dia, semana por semana, já se passou um mês inteiro e outro agora se completa. a cada dia eles pensaram nela. a constatação se impôs, seria inevitável.
mas agora, dois meses após o suicídio dela, eles começam a se perguntar o famoso e agora, josé? passado esse tempo, ao se reverem, cada um vê no outro a pergunta que não tem resposta para si. e se questionam, não como se estivessem se colocando em teste, mas se perguntam talvez ansiosos pela resposta que possam ouvir. talvez num outro amigo resida aquilo que em mim não há. talvez ele amigo meu possa me ajudar a seguir, a continuar.
é que tia anita pediu que fossem eles. ela ligou para inácio, ela disse que precisa ser os cinco apenas, os cinco amigos que ao lado da filha sempre estiveram. os cinco amigos que eram quase uma família dela. os cinco que eram uma família, uma família que ela – letícia – escolhera.