"- O Lula afirma que a erradicação da pobreza é uma das metas do Governo Dilma. O senhor crê que isto seja possível ?
- Não há possibilidade de erradicação da pobreza. Alguém só lucra porque alguém gasta. Alguém só ganha dinheiro porque outro alguém perde. O lucro não é o dinheiro a mais na sua conta, mas sim o dinheiro a menos na conta de um outro. Deus um dia disse que somos todos iguais. O capitalismo veio depois para dizer que Deus estava errado. Se todo mundo tivesse dinheiro e formação, quem iria trabalhar na nossa casa ? Quem tomaria conta dos nossos filhos ? Quem limparia as ruas e manobraria os nossos carros ? Quem construiria os estádios para a Copa, se não existissem os nordestinos ? A massa miserável é combustível para o progresso individual. E o progresso individual não é para todo mundo.
- E como o senhor explicaria então o seu progresso individual ? Porque o senhor não é de origem abasta..
-(cortando) Não, não sou. Toda a minha formação foi com bolsa integral no colégio em que minha mãe era copeira. Eu só consegui chegar aonde cheguei por causa da educação que tive. E neste caso, a educação a que me refiro, é o estudo acadêmico. É matemática, português, língua estrangeira.. isto é o mínimo que cada um precisa para galgar posições melhores no mercado de trabalho. A escola é o arroz com feijão do cidadão. Mas aqui no Brasil, não há interesse em dar arroz com feijão para toda população. Aqui no Brasil, não é interessante criar uma política de inclusão eficiente. Porque é este mesmo cidadão que não teve o arroz com feijão na infância que vai vender seu voto mais tarde por um par de chinelos. Eu só não faço parte desta estimativa porque tive sorte. Sou uma zebra. E mesmo hoje, em outra posição, me vejo dando continuidade a este sistema exploratório. É bom a gente não ser romântico e ter consciência da posição que assumimos na vida. Se a empregada que trabalha na sua casa há anos pedisse o dobro do salário que ela ganha (e ela com certeza mereceria um salário maior), será que você daria ? Ou correria atrás de uma doméstica mais jovem que varresse a casa em tempo recorde e que, sabendo da dificuldade do mercado de trabalho atual, cobrasse a metade da anterior ?
- E como mudamos esta realidade ?
- Vendendo tudo que a gente tem e dividindo pelo número de pessoas no planeta. A gente podia talvez morar em ocas e pescar a comida do almoço. A gente queima todas as nossas roupas e usa tangas. E seria legal também voltar a pensar no esperanto, não ? Começa por você ?"
(trecho da entrevista de Inácio Romano para a seção jovens empreendedores da revista Carta Capital.)