Eu queria dizer que dói todo esse engano. Que doem os sorrisos, e os abraços. Que olhar para a sapatilha de ballet ainda me doem os dedos. Não porque apertam, até porque nem cabem mais. Mas porque me lembram, guardadas na parte de cima do guarda-roupa, como a gente começou. E que não sei mais onde há graça. Que eu to procurando o porquinho rosa. Porque talvez ele explique, talvez ele diga algo que faça sentido. Algo que faça mover. Tenho certeza que ele sabe como agir nisso tudo. Afinal ele é um porquinho rosa, andando no meio da multidão de Copacabana. Eu queria falar, gritar, bater em todo mundo. Não faz sentido essa ausência. Desculpa, não vou aceitar. Não tem sorriso mais que me caiba.Estou exagerando. Mas é verdade. Se o porquinho tivesse feito aquele barulho, como se chama? Ruído, grunido, grunhido.Minha bicicleta nem está lá. Nem sei destrancar o cadeado. Vou deixá-la, apodrecendo por causa da maresia. Então, se o porquinho tivesse falado, a gente tivesse perseguido, seguido, sei lá. Como faz? Como para de doer? Ai, to parecendo criança. Vou ficar grunhindo, para ver se a Lilla volta. Será que alguém entende? Se eu ficar aqui grunhindo? Acho que talvez alguma coisa aconteça. Vamos beber a terceira garrafa de vinho. Porque eu não trouxe comida de propósito, não por esquecimento. Porque quero toda essa embriaguez, para ver se a gente sai do lugar. Só vou falar quando eu conseguir gritar minha dor. Desculpa Rita, o Chico errou o nome, não foi você quem levou meu sorriso, foi a Lilla.