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terça-feira, 30 de novembro de 2010
Antonin Artaud
"Mais urgente não me parece tanto defender uma cultura cuja existência nunca salvou uma pessoa de ter fome e da preocupação de viver melhor,quanto extrair, daquilo que se chama cultura, idéias cuja força viva é idêntica à da fome. Todas nossas idéias sobre a vida tem de ser revistas numa época em que nada mais adere à vida. E esta penosa cisão é motivo para as coisas se vingarem, e a poesia que não está mais em nós e que não conseguimos encontrar mais nas coisas reaparece, de repente, pelo lado ruim das coisas; e nunca se viu tantos crimes, cuja gratuita estranheza só se explica por nossa impotência em possuir a vida. Se o teatro existe para permitir que o recalcado viva, uma espécie de atroz poesia expressa-se através de atos extranhos onde as alterações do fato de viver mostram que a intensidade da vida está intacta e que bastaria dirigi-la melhor"
para Dodô
O que houve naquele encontro foram tentativas. Tentativas de compartilhar aquilo que ainda pode ser compartilhado. E ficou difícil encontrar uma saída. Eu sei, estava difícil. Pra todo mundo estava difícil. Eu estava perdida, dilacerada e precisava encontrar um motivo, ao menos um, pra continuar...e falei de sol, de folhas, de bosques e de uma vontade arrebatadora de que por pelo menos alguns segundos todos que ali nos rodeavam (crianças, velhos, pais, mães) pudessem olhar para um mesmo ponto, todos juntos olhando uma mesma direção, compartilhando de um mesmo sentimento apenas por alguns segundos, e assim, com as respirações suspensas, todos juntos sem saber estariam juntos. Acho que eu falava de milagre, acho que sim. Acho que falava de Utopia Fred, acho que sim. E foi nesse momento que Nina me deu a mão e disse: somos o corpo e o sangue de cristo! E por mais que aquilo parecesse ridículo e absurdo foi a coisa mais linda que escutei em toda a minha vida, ela falava sério e eu entendi muito sério. E pensei porque não? Somos o sangue e o corpo de cristo, porque não? A gente pode acreditar em milagres sim, a gente pode acreditar que somos mais do que isso, que somos seres divinos e que temos poderes incríveis porque não? O que nos impede? Quem nos impede?
E então você Dominique se levantou colocou uma música e dançou. E naquele instante você calou todo mundo e por alguns segundos você parou tudo. Você fez o que eu consegui apenas dizer. E mesmo que eu não acreditasse naquela sua dança eu acreditei com toda a força naquele seu gesto e entendi o seu grito e compartilhei da sua dor. Obrigada.
Vamos juntos. É só o que peço.
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
"atravessamentos" inscrito no fate
de Diogo Liberano
Prólogo – Da ausência (trazida pela morte).
Nesta primeira cena o que se objetiva é a construção da atmosfera deste reencontro marcada pela ausência da amiga que meses antes se suicidara. Primeiramente, encontram-se apenas quatro amigos (dois homens e duas mulheres). Todos incapazes de tocar no assunto responsável pelo silêncio que os envolve.
Cena 1 – Das máscaras (para amenizar a realidade).
Os amigos tentam se relacionar por meio das mentiras que escolheram para mascarar e amenizar a dor de sua realidade. Aos poucos, porém, a ausência da amiga vai se tornando presente, mas faltando-lhes coragem para lidar com o absurdo da situação, seguem fingindo ser possível continuar um jogo que, não sabem ainda, não se sustentará por muito mais tempo.
Cena 2 – Da falência (frente ao inexplicável).
A situação acaba se esgotando rapidamente, pois ao privarem-se da dor que se sentem eles se privam também de ser quem são. Um dos amigos percebe que algo fora inaugurado em suas vidas com a morte da amiga. Esse horror, esse buraco, esse vácuo na garganta, esse silêncio que grita... É preciso então falar sobre o que aconteceu e nisso as opiniões divergem acirrando ainda mais a discussão.
Cena 3 – Da dor (incapaz de ser falseada).
Tragados pela discussão do que até então estavam tentando não falar, os amigos acabam sendo violentamente tomados por certa angústia e passam a vagar perdidos em busca de uma explicação para a escolha feita pela amiga. Mas não encontram nada que pareça fazer sentido, pois o que resta é ainda a dor.
Cena 4 – Da clareza (difícil de ser assumida).
Um dos amigos irrompe violentamente a discussão e defende, frente aos outros, que há certos absurdos na vida que não têm solução. De maneira dolorosa e, talvez por isso, muito lúcida, o amigo convence os demais de que não se trata mais de sofrer a ausência apenas, mas, sobretudo, de convertê-la em alguma potência de vida.
Cena 5 – Da realidade (e de seu poder de transformação).
A quinta amiga que até então não havia chegado aparece de súbito no exato instante em que a discussão parecia de fato os levar para outro lugar. Ciente de que os amigos estariam presos à dor da perda, esta que chega intencionalmente depois, desvia-lhes a atenção ao trazer na mão uma notícia publicada num jornal que, de acordo com ela, a fez lembrá-los.
Cena 6 – Do ato (que pela morte instiga a vida).
A tal notícia narra um ato de resistência de seis jovens artistas que durante um protesto contra a demolição de um teatro na cidade do Rio de Janeiro acabam sendo soterrados e morrem. A violência do ato contamina os amigos que vêem na morte dos jovens artistas uma maneira potente de tornarem validas aquelas vidas.
Cena 7 – Do terror (de ter que responder ao próprio tempo).
A notícia de jornal logo se converte num espelho da realidade dos cinco amigos ali reunidos. Tanto o suicídio de sua amiga quanto a morte dos artistas na demolição do teatro se revelam como atitudes extremas em resposta aos paradoxos de sua realidade. Porém, percebem, é preciso continuar caso não queiram que a morte da amiga vire apenas memória. Para além do que sentem ou falam, é também preciso agir.
Cena 8 – Da ficção (como potência para um reinventar-se).
Uma medida desesperada é então proposta de maneira irrevogável: os amigos se trancam dentro do apartamento e decidem sair dali somente quando descobrirem alguma ação concreta capaz de validar a sua existência que seja apenas naquele momento. Então se não encontrarmos algum motivo que nos faça ficar quer dizer então que não fazemos diferença, é isso? Que devemos partir assim como ela fez?
Epílogo – Do ato final (ou quando os amigos saem pela porta do apartamento para entrar, de fato, dentro da própria vida.).
A ser descoberto em processo de ensaios.
domingo, 28 de novembro de 2010
Palavras sobre o encontro inventado.
Obrigada pelo café, pelo bolo, pelo sorriso, pelo encontro.
Abraços.
Até.
sábado, 27 de novembro de 2010
o trecho mais pop do uivo de ginsberg
arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada em busca uma dose violenta de qualquer coisa
"hipsters" com cabeça de anjo ansiando pelo antigo contato celestial com o dínamo estrelado da
maquinaria da noite, que pobres, esfarrapados e olheiras fundas, viajaram
fumando sentados na sobrenatural escuridão dos miseráveis apartamentos sem água quente, flutuando
sobre os tetos das cidades contemplando jazz, que desnudaram seus Cérebros ao céu sob os elevados e viram anjos maometanos cambaleando iluminados nos telhados das casas de
cômodos, que passaram por universidades com olhos frios e radiantes alucinando Arkansas e tragédias à luz de William Blake entre os estudiosos da guerra, que foram expulsos das universidades por serem loucos& publicarem odes obscenas nas janelas do crânio, que se refugiaram em quartos de paredes de pintura
descascada em roupa de baixo queimando seu dinheiro em cestas de papel, escutando o Terror
através da parede.
"Filme que flerta com arte contemporânea causa incômodo no Festival de Brasília"
Divulgação | ||
Cena do filme "Os Residentes", de Tiago Mata Machado, que causou incômodo em exibição no Festival de Brasília |
Durante o debate realizado na manhã deste sábado, no hotel Juscelino Kubitsheck, Machado foi questionado sobre o roteiro (ou falta de), o excesso de influências e suas reais intenções.
Senti vontade de me jogar no ventilador e me joguei
II
Essa sua verdade me atravessa
Com seu um milhão de sentidos
Que me captam
Você me pulsa
E a vida grita
No calor dos corpos e da terra
São tantos os hipócritas que nos acompanham
Mas estamos cheios de mar e mangue
E sol,bicho e fruta
A vida é mais
escuta
III
Duro é dormir só em uma cama preparada para dois
A voz não soa
Mas a palavra ecoa dentro rasgando pesado veludo
Como é que se costura?
V
Não quero só as coisas boas
Eu quero todas as coisas
Quero inclusive amar
Um Homem
Como se ele fosse milhões
Desembriagando de uma angústia qualquer
Licença Deuses do Olimpo
Licença Nanã,Xango,Iansã,Oxum,Oxala,
Licença meu São Jorge
Eu vou entrar,de verso na mão
Nesse mato sem cachorro
Em busca das minhas alegrias
Porta Porteiro garfo
Serralheiro pano de chão,cozinheiro
pianista,trapezista,açogueiro,
fósforodinheiropãopadeirobanqueiroboqueteiro
Nossa embolou..................................................................................................................................................................................................................
Não,mamãe
Eu quero ser marginal
Foi muito amor demais
Hoje eu só quero comer tempo de recorde olímpico pelas beiradas
Sem sapatos porque eu quero sentir o chão
Quero dizer matematicamente não
Embora saiba que tenho que pagar o pão
Antes que me consuma uma fome qualquer
Eu quero mesmo é morrer cantando de tanto voar
E finalmente depois de tanto sentir
Poder ficar completamente sem sentido
Toca Raul
Quando você me olha
Seu olhar encontra a mim
E minha multidão
Quando você me olha
Seu olhar encontra um pássaro
Um gato,tartaruga,pigmaleão
Quando você me olha
Seu olhar encontra uma ponte
E do outro lado estão os seus sonhos entre coisas desconhecidas
Quando você me olha
Seu olhar encontra terra fértil
E muito espaço de céu azul e água do mar
Mas se você não me olha,amor
Ficam todas essas coisas aqui
Pulsando em um invólucro de 1,65m
De cabelos lisos e castanhos
Fé
Não acredito nas coisas que nasceram para boiar
Acredito nas coisas que nasceram para escorrer
Por todo meu corpo
E um dia sair voando
Aprendizado
Uma ilia me ensina silêncio
Para ouvir os segredos do Mar
Entrega
Tantas vezes usei a entrega como isca
Para matar a fome de ter o outro
Assim como muitas vezes tive que entregar o que eu não tinha para dar
Um simulacro de coisa recheado com nada dentro
Entreguei também meu pudor,meu tesão,minha mão
Tarefa de casa,filmes na locadora,o vestido que minha amiga me emprestou
Uma vida de muita entrega
Mas desde há muito tempo que carrego em mim
O desejo de uma entrega nova
A entrega de uma claridade que habita as minhas entranhas
De uma arvore incandescente que germinou no meu peito
De um pássaro que se aninhou nos meus pulmões
Algo que cresce dentro e qualquer dia ganhara naturalmente meus espaços extra corpóreos
Vou entregar os filhotes do meu desejo ao mundo
Nasci gestando esta entrega
E vou pari-la, eu sei
Silêncio por silêncio
Palavra por palavra
Gesto por gesto
Movimento por movimento
Transformando todo congelamento em liquidez
Minha casa
Minha casa tem cheiro de horas bem dormidas
De homem na minha cama e insônia no sofá
Tem cheiro de dança a vontade no meio da sala
Sons de quadros nas paredes me decoram
Pois me sabem de cor
Minha casa tem gosto de bolo saindo quentinho no fim da tarde
Gosto de banana frita com açúcar e canela
Perfume antes de ir para a festa
Com sabonete
Roupa recém passada
Flores que chegaram no aniversário
Hoje a habitam
Tudo aqui me revela
553,606
22240-005,3268-0607
Sei que não reverbera em nenhum lugar
Mas me soa familiar