1. Janela
Sempre dentro de uma há outra nela. Janelas são portas do acaso, portas do quarto no qual me tranco dentro e faço o mundo acontecer. Mas não falo de portas, e sim de janelas, do que há implícito nelas. E se por acaso, pela janela, decido o mundo conhecer, é ela que me dará a altura inversa e necessária ao meu medo. Não pularia esta etapa. Ainda moro no terceiro andar e nem todas as casas têm sacadas. Nem todas as janelas são feitas para atravessar.
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Não quero mais ter motivos para atravessar a rua e ter que atravessar
para ter que poupar o desprazer que é fazer você me ver.
para ter que poupar o desprazer que é fazer você me ver.
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Ao atravessar a rua, tome cuidado. Os carros, hoje em dia, atropelam humanos feito bondes.
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simultâneo
você me escuta
através do céu aberto
eu tento
nos meus sonhos
escuto o atravessar
junto comigo
as coisas suas podem facilitar
ainda bem
estar onde estou
pode ser mais sorte
que amor
ninguém sabe o valor
da espera que esperei
importa eu saber
que a conquista fui em quem fiz
e nada mais faz sentido
porque o presente vive só
de incertezas
nada vale além do gesto tremido
do laço desbotado
do passo consumido
você me escuta
enquanto escuto eu você
recíproca entre nós é eternidade
eu te escuto porque você me invade
e juntos nos ruídos nos roemos destemidos
assim nos aceitamos
justo assim
sem entender
em que passo se opera
essa dança que não cansamos
de mover
que não cansamos
sem mesmo um porquê.
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