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segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Nossa Anomalia

Elas se aproximam pelo contato
Mas o que dizem
o que fazem
é tudo feito pelo soco
pelo chute
pelo escarro.

Aproximam-se, eu diria
Querendo um abraço
Mas não sabem esticar os braços
e depois dobrá-los
Antes disso porém se esmagam
e o receber torna-se faminto
torna o outro peito adversário.

Por não saber amar
talvez por não ter assim sido contemplado
Elas se aproximam e querem todo o romance
mas sequer leram os livros indicados
não viveram na lida
sequer um toque
que não fosse corte ralo
que não fosse
na pele o toque
incendiário.

Por isso se debatem
e o se aproximar gera esse estrago.

Suas roupas rasgadas
seus sorrisos deformados
seus seres dentro de si mesmas
são feito monstros,
pois machucados.

Se pudessem dizer eu te amo
Talvez não se fosse entender
talvez a palavra amor
seja estranha
e faça mesmo doer.

Mas elas insistem. Uma rumo a outra.
Não há outro caminho.

e cada mentira as coloca mais perto
cada imagem que elas podem criar
são todas para alimentar
esse ser que não sou eu
esse que não é você
mas que é como eu penso
que deve você querer me ver

Mas não!
Não.

Eu quero te ver apenas despido
não em despedida.
Quero ver você despida
seja isso com ou sem sua melancolia
Seja isso em cortes ou aos pedaços
eu não me importo com sangue
eu te costuro se necessário,

Mas, por favor, não!
Não venha desenhado!
Não venha vestida de anjo
porque o céu é outro espaço
E eu não sei voar
e eu não vou compreender
se você disser que é verdade
o que usa para se esconder

Não diga!
Não escreva!
Deixe tudo como está sobre a mesa
E vamos nos tocar
Vamos nos cortar

Vamos tentar
sem um ao outro morrer
tentar fazer compreender
o que nos depende
o que nos costura
e nos faz assim um ao outro tão presente
tão próximo distante
belo singelo violino
cruel arbitrário menino
ou menina
não importa o que sua maquiagem possa esconder

Pois o que jaz escondido, independendo se menino ou não se
bonita ou não é
o segredo
o mistério é
o prêmio
o calor todo certo pára
o meu peito

Venha.
Venha ao meio.
Somos partidos assim mesmo.

Venha, por favor.

Minha cara é feia
para assustar o medo.

Venha, inteiro nesse seu jeito
Que a gente inventa um dicionário
que a gente inventa um novo bom-dia

a gente redecora o seu quarto
a gente limpa a cozinha

juntos penduraremos quadros
e pintaremos no fundo da tela do amanhã
a nossa anomalia.

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Diogo Liberano
em http://lendoarvoreseescrevendofilhos.blogspot.com/2008/09/nossa-anomalia.html