Para atravessar é preciso cruzar a linha
Qualquer linha toda linha tudo nela que estiver contido
é cortado
Partido não necessariamente ao meio
mas minimamente cindido
fendado
tornado corte
tornado corpo arrasado.
A saber:
atravessar um peito é quando vem de dentro um tiro que te perfura ao contrário.
A saber:
atravessar a linha de segurança do metrô e flertar com vento e vagões.
A saber:
atravessar a ponte rio-niterói pensando em quedar.
Para atravessar é preciso vulnerabilidade. Não há atravessamento possível que seja ensaiado, que já seja sabido, que seja minimamente decorado. Atravessar pressupõe incerteza. A incerteza do contato que virá. A incerteza se virá o contato. a incerteza sobre aquilo que fica e sobre o que vem (sobre aquilo que achamos ficar e não fica – sobre o que achamos chegar e não chega).
Para atravessar é preciso indiscrição. É preciso se deixar formar dentro do corpo um ponto de exclamação. Onde a cabeça é o ponto e o corpo a exclamação. O corpo gritando e virando o mundo para baixo. Para atravessar tem que ser gritando! Ainda que em profundo silêncio. Ainda que o atravessar seja o verbo amando.
Atravessamento é gerúndio. Não é antes. Nem só depois. É o meio dilatado entre o que fica e o que chega. É meio-termo. É corte exposto e ainda não todo coagulado. Ferida aberta em corte e suculenta ao expor seu íntimo, seu recheio.
Como ser espaço para o acaso?
Máxima um) o acaso só nos chega por atravessamentos.
Como ser espaço para atravessamentos?
Dois) aprender a flertar com o mundo.
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Diogo Liberano