\\ Pesquise no Blog

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

A pedidos,um pouco mais de Hilda

III

Colada à tua boca a minha desordem.

O meu vasto querer.

O incompossível se fazendo ordem.

Colada à tua boca,mas descomedida

Árdua

Construtor de ilusões examino-te sôfrega

Como se fosses morrer colado à minha boca.

Como se fosse nascer

E tu fosses o dia magnânimo

Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer.

VIII

Se te ausentas há paredes em mim.

Friez de ruas duras

E um desvanecimento trêmulo de avencas.

Então me amas?te pões a perguntar.

E eu repito que há paredes,friez

Há molimentos, e nem por isso há chama.

DESEJO é um Todo lustroso de carícias

Uma boca sem forma,um Caracol de Fogo.

DESEJO é uma palavra com a vivez do sangue

E outra com a ferocidade de Um só Amante.

DESEJO é Outro.Voragem que me habita.

IX

E por que haverias de querer minha alma

Na tua cama?

Disse palavras líquidas,deleitosas,ásperas

Obscenas, porque era assim que gostávamos.

Mas não menti gozo prazer lascívia

Nem omiti que a alma está além,buscando

Aquele Outro.E te repito: por que haverias

De querer minha alma na tua cama?

Jubila-te da memória de coitos e de acertos.

Ou tenta-me de novo.Obriga-me.

III

Vem dos vales a voz.Do poço.

Dos penhascos.Vem funda e fria

Amolecida e terna,anêmonas que vi:

Corfu.No Mar Egeu.em Creta.

Vem revestida às vezes de aspereza

Vem com brilhos de dor e madrepérola

Mas ressoa cruel e abjeta

Se me proponho a ouvir.Vem do Nada.

Dos vínculos desfeitos.Vem dos ressentimentos.

E sibilante e lisa

Se faz paixão,serpente,e nos habita.

III

De uma fome de afagos, tigres baços

Vêm se juntar a mim na noite oca.

E eu mesma estilhaçada,prenhe de solidões

Tento voltar à luz que me foi dada

E sobreponho as mãos nas veludosas patas.

De uma fome de sonhos

Tento voltar àquelas geografias

De um Fazedor de versos e sua estrada.

Aliso os grandes dorsos

Memorizo este ser que me sou

E sobre os fulcros dentes,ali

É que passeio e deslizo a minha fome.

Então se aquietam de pura madrugada

Meus tigres de ferrugem.As garras recolhidas

Numa agonia de ser tão indivisa

Como se mesmo a morte os excluísse.

XVI

Devo viver entre os homens

Se sou mais pêlo,mais dor

Menos garra e menos carne humana?

E não tendo armadura

E tendo quase muito do cordeiro

E quase nada da mão que empunha a faca

Devo continuar a caminhada?

Devo continuar a te dizer palavras

Se a poesia apodrece

Entre as ruínas da Casa que é a tua alma?

Ai,Luz que permanece no meu corpo e cara:

Como foi que desaprendi de ser humana?

XVII

As barcas afundadas. Cintilantes

Sob o rio. E é assim o poema. Cintilante

E obscura barca ardendo sob as águas.

Palavras eu as fiz nascer

Dentro da tua garganta.

Úmidas algumas, de transparente raiz:

Um molhado de línguas e de dentes.

Outras de geometria. Finas, angulosas

Como são as tuas

Quando falam de poetas, de poesia.

As barcas afundadas. Minhas palavras.

Mas poderão arder luas de eternidade.

E doutas, de ironia as tuas

Só através da minha vida vão viver.

XVIII

Será que apreendo a morte

Perdendo-me a cada dia

No patamar sem fim do sentimento?

Ou quem sabe apreendo a vida

Escurecendo anárquica na tarde

Ou se pudesse

Tomar para o meu peito a vastidão

O caminho dos ventos

O descomedimento da cantiga.

Será que apreendo a sorte

Entrelaçando a cinza do morrer

Ao sêmen da tua vida?


XX

De grossos muros, de folhas machucadas

É que caminham as gentes pelas ruas.

De dolorido sumo e de duras frentes

É que são feitas as caras. Ai, Tempo

Entardecido de sons que não compreendo.

Olhares que se fazem bofetadas,passos

Cavados, fundos, vindos de um alto poço

De um sinistro Nada. E bocas tortuosas

Sem palavras.

E o que há de ser da minha boca de inventos

Neste entardecer. E do ouro que sai

Da garganta dos loucos, o que há de ser?